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EUA: Ala radical do partido republicano paralisa eleição de novo presidente da Câmara

Líder republicano da Câmara, Kevin McCarthy, sozinho com os olhos fechados no fundo da Câmara enquanto sofre a 10ª derrota consecutiva durante votação para um novo Presidente da Câmara - 5.jan.23 - EVELYN HOCKSTEIN/REUTERS
Líder republicano da Câmara, Kevin McCarthy, sozinho com os olhos fechados no fundo da Câmara enquanto sofre a 10ª derrota consecutiva durante votação para um novo Presidente da Câmara Imagem: 5.jan.23 - EVELYN HOCKSTEIN/REUTERS

Heloísa Villela

Correspondente da RFI em Nova York, e AFP 

06/01/2023 06h06Atualizada em 06/01/2023 11h51

O impasse para a eleição do presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos continua, após três dias de resistências de um grupo de ultraconservadores contra o nome indicado pelo próprio Partido Republicano.

Nesta quinta-feira (5), Kevin McCarthy tentou novamente estender a mão e fazer concessões —em vão —para os cerca de 20 apoiadores de Donald Trump que bloqueiam a escolha do novo "speaker". Ele acumula derrotas em onze votações.

Sem esses votos, McCarthy não fecha o total de metade mais um necessários para assegurar o cargo. Assim, a Câmara volta ao plenário nesta sexta (6) a partir do meio-dia, no horário local (14h de Brasília).

Espero que os republicanos acabem com as brigas, picuinhas e traições para que possamos trabalhar a serviço do povo americano.
Líder democrata na Casa, Hakeem Jeffries

O que acontece agora?
  • Os deputados continuarão votando até que o presidente da Câmara alcance a maioria de 218 votos.
  • Kevin McCarthy circula pelo plenário conversando com um outro dissidente, mas até agora não conseguiu mudar nenhum voto.
  • A demora para escolha de um "speaker" é considerada histórica. Acreditava-se que o processo duraria horas, mas pode levar semanas.
  • Na ausência de um presidente, a Câmara dos Representantes, que iniciou uma nova legislatura após as eleições de meio de mandato em novembro, não pode empossar seus membros, decidir os integrantes das várias comissões ou apresentar projetos de lei.
  • O impasse é comparado a um episódio de 1856, quando deputados demoraram dois meses para escolher o "speaker", como é chamado o posto nos Estados Unidos. Na época, 133 votações foram realizadas.

Processo pode levar semanas

A eleição do presidente da Câmara, o terceiro posto mais importante da política americana depois do presidente e do vice-presidente, exige uma maioria de 218 votos. Atualmente, Kevin McCarthy não conseguiu somar mais de 201, o que traz dúvidas sobre por quanto tempo sua candidatura será viável.

McCarthy, eleito pelo estado da Califórnia, não tem um adversário à altura. O nome do líder do grupo de trumpistas, Steve Scalise, é o único que circula como possível alternativa, mas suas chances de assumir o cargo são ínfimas.

"Não há dúvida de que as questões que nos dividem hoje são muito menos sérias do que as que enfrentamos em 1856", relativizou o deputado John James, pedindo a seus colegas que apoiem prontamente Kevin McCarthy.

Candidato faz concessões

McCarthy aceitou uma de suas exigências para facilitar a destituição do presidente da Câmara, ao aceitar que o número de votos necessários para pedir uma possível remoção seja reduzido para apenas um. Mas nada surtiu efeito até o momento —a oposição à candidatura dele parece até ganhar força.

"Estamos determinados a fazer mudanças significativas", afirmou o congressista Dan Bishop no plenário.

Alguns dos detratores de McCarthy discordaram de posições políticas específicas, mas outros simplesmente indicaram desagrado geral. "Todos os republicanos no Congresso sabem que Kevin realmente não acredita em nada. Ele não tem ideologia", escreveu recentemente o congressista da Flórida Matt Gaetz sobre McCarthy.

Democratas ironizam

O presidente Joe Biden chamou a situação de "vergonhosa para o país". A irritação e a impaciência também se fazem presentes no "Grand Old Party", como é conhecido o Partido Republicano, que apoia de forma esmagadora McCarthy, dando lugar a debates no plenário.

Em meio a essa paralisia, os republicanos não podem, no momento, abrir as muitas investigações que prometeram contra Biden e seu governo. Os democratas veem a situação com certo deboche. Risos e aplausos sarcásticos para os colegas republicanos foram testemunhados no plenário.

O partido de Biden apoia a candidatura do líder Hakeem Jeffries, mas este congressista eleito por Nova York também não tem votos suficientes para vencer. Enfrentar uma Câmara hostil, mas desordenada, pode ser uma vantagem política para Biden, caso ele confirme a intenção de concorrer à reeleição em 2024, decisão que deve anunciar no início deste ano.