Líderes da América do Sul pedem reunião urgente na OEA após ataque em Brasília
O presidente do Chile, Gabriel Boric, manifestou apoio ao governo de Lula após a invasão, neste domingo (8), das sedes dos Três Poderes, em Brasília, por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele também solicitou uma reunião urgente na OEA para tratar do assunto.
Boric condenou a ação violenta registrada em Brasília, neste domingo. Em uma mensagem no Twitter, ele qualificou a ação de "ataque absurdo aos três poderes do Estado brasileiro por parte dos bolsonaristas".
"O governo brasileiro tem todo o nosso apoio diante desse ataque covarde e vil à democracia", acrescentou o presidente chileno.
A chancelaria chilena qualificou os incidentes de "ação antidemocrática" e informou que seu governo solicitou "a convocação de uma sessão extraordinária do Conselho Permanente da OEA (Organização dos Estados Americanos) para apoiar a democracia e o Estado de Direito no Brasil e em toda a região".
Mais cedo, em nota, o governo chileno expressou "sua confiança de que as instituições brasileiras sairão fortalecidas desse ataque das forças antidemocráticas".
Em uma mensagem no Twitter, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, também condenou "o ataque às instituições em Brasília", que tratam-se de atos de "natureza fascista".
Centenas de apoiadores de Bolsonaro invadiram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, na capital federal, para protestar contra a posse Lula como presidente em 1º de janeiro.
Outros líderes também se solidarizaram ao governo brasileiro."O fascismo decide dar um golpe", tuitou o presidente colombiano, Gustavo Petro. "As direitas não puderam manter o pacto da não violência. É hora urgente de reunião da OEA se quiser continuar viva como instituição e aplicar a carta democrática", acrescentou.
O presidente argentino, Alberto Fernández expressou solidariedade ao governo Lula "diante desta tentativa de golpe Estado" e, como presidente da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), convidou a região a se unir contra "a reação antidemocrática".
Fundada em 1948, a OEA reúne 35 Estados das Américas e constitui o principal fórum governamental político, jurídico e social das Américas.
Lula vistoria estragos
Lula retornou neste domingo (8) à noite a Brasília para vistoriar os estragos no Palácio do Planalto protagonizados por apoiadores de Jair Bolsonaro.
O presidente visitou o Palácio do Planalto e, em seguida, o Supremo Tribunal Federal (STF), que também foi vandalizado pelos bolsonaristas, assim como o Congresso Nacional. Imagens mostram o presidente reunido à noite com ministros do STF em frente ao edifício, em meio a vidros quebrados por apoiadores de Bolsonaro que não aceitam sua derrota nas urnas.
Bolsonaro está nos Estados Unidos, para onde viajou a dois dias da posse de Lula. "Manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia. Contudo, depredações e invasões de prédios públicos (...) fogem à regra", escreveuo ex-presidente no Twitter na noite deste domingo.
Mas, em outra mensagem, Bolsonaro repudiou "as acusações, sem provas", de seu sucessor. Lula afirmou mais cedo que o "discurso" de seu antecessor "incentivou" os "vândalos fascistas" a invadirem as sedes do poder em Brasília. "Esses vândalos, esses fascistas fanáticos, fizeram o que nunca foi feito na História desse país", acusou Lula.
Em resposta à violência em Brasília, ele decretou intervenção federal, colocando as forças de segurança sob a autoridade do interventor Ricardo Garcia Capelli, nomeado pelo presidente e que se reporta diretamente a ele. Capelli poderá recorrer a qualquer órgão, civil ou militar, para garantir a ordem.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, garantiu em coletiva de imprensa que a Praça dos Três Poderes foi retomada pelas forças de segurança e que mais de 200 pessoas foram detidas.
Biden qualifica violência de "ultrajante"
Pelo mundo, vários dirigentes condenaram a ocupação das sedes dos Três Poderes em Brasília. O presidente americano, Joe Biden, qualificou de "ultrajante" a violência dos manifestantes, e seu secretário de Estado, Antony Blinken, declarou que "usar a violência para atacar as instituições democráticas é sempre inaceitável". Os presidentes da França, Espanha, Argentina, Colômbia, Venezuela e Chile, entre outros, também repudiaram o ataque.
A filial brasileira da Anistia Internacional pediu "uma investigação rápida e imparcial" dos acontecimentos, que lembraram a invasão de 6 de janeiro de 2021 do Capitólio de Washington por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, após sua derrota nas eleições para Joe Biden.
Durante horas, o centro do poder ficou mergulhado no caos. Embora as autoridades tenham isolado a área, os bolsonaristas conseguiram abrir passagem à força, pular cercas e se concentrar na cobertura do Congresso Nacional, segundo um jornalista da AFP.
Os policiais tentaram afastá-los com gás lacrimogêneo, mas foram rapidamente superados. Um policial foi baixado de seu cavalo e espancado pela multidão. Enquanto isso, ao menos cinco jornalistas foram agredidos, segundo um sindicato de jornalistas, entre os quais um fotógrafo da AFP.
A maré humana invadiu o Congresso Nacional, com muitos manifestantes agitando bandeiras do Brasil em um tom patriótico similar ao dos apoiadores de Trump. Os danos aos edifícios, joias da arquitetura modernista, são consideráveis. Quadros de valor inestimável foram danificados, como a tela "Mulatas", de Di Cavalcanti, segundo fotos que circulam nas redes sociais.
(Com informações da AFP)
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