Após investir em companhia escandinava, Air France-KLM acelera aproximação da portuguesa TAP
A aquisição pela Air France-KLM de uma participação na companhia aérea escandinava SAS dá uma amostra da maneira como o grupo franco-holandês poderá abordar a aquisição da portuguesa TAP. O governo português afirmou na quinta-feira (5) que pretende vender pelo menos 51% das ações da companhia nacional, depois de aprovado o enquadramento legal do processo de privatizações em Portugal.
Os analistas de aviação têm apostado que o acordo com a SAS é um sucesso para a Air France-KLM, que conseguiu arrancar uma empresa da esfera de influência da Lufthansa no Norte da Europa e do grupo de companhias aéreas Star Alliance. A Air France-KLM está tentando fazer isso novamente com a TAP, membro da Star Alliance, mas enfrenta um preço mais alto e uma concorrência acirrada.
Enquanto as transportadoras nacionais europeias lutam para competir com empresas de baixo custo como a Ryanair e a Wizz Air, grandes grupos como a Lufthansa, a Air France-KLM e a IAG se mobilizam para promover reestruturações e tentar salvar companhias em dificuldades.
O acordo de terça-feira (3) com a SAS, que trouxe a empresa de investimentos norte-americana Castlelake e a Air France-KLM para o capital como novos acionistas principais, ao lado do Estado dinamarquês, foi uma mudança há muito tempo desejada para uma marca europeia tradicional.
A Air France-KLM entra com uma participação de apenas 19,9% e a sua influência no grupo - que enfrenta a fragmentação das suas plataformas dinamarquesa e sueca - pode ser limitada. No entanto, esta abordagem cautelosa poderá atrair o interesse da TAP.
Autonomia é ponto forte
A Air France-KLM tem permitido que as companhias aéreas nas quais investe mantenham as suas atividades e a sua marca tradicional. Desde a fusão em 2004 entre a companhia francesa e a holandesa, as duas empresas ainda voam sob as suas próprias cores e muitas atividades permanecem separadas.
A alemã Lufthansa e a anglo-espanhola IAG, outros prováveis ??concorrentes na batalha pela aquisição da TAP, tendem a reestruturar profundamente as companhias aéreas que compram, racionalizando as práticas comerciais e as marcas.
"(As) promessas feitas pela Air France-KLM de manter a marca viva, separada e de manter operações em Portugal e ligações em Portugal" irão desempenhar um papel importante, afirma James Halstead, analista da indústria da aviação, à agência Reuters.
O governo português procura um parceiro para salvar a companhia aérea em dificuldades sem perder a imagem de marca, as plataformas locais e a identidade portuguesa. O grupo franco-holandês indicou quinta-feira que a aquisição de uma participação na SAS não altera o seu interesse nem a sua capacidade de participar no processo envolvendo a TAP.
Segundo analistas e investidores, permitir a livre gestão da marca poderá ser a chave para o aproveitamento das rotas lucrativas da TAP com a América do Sul. A TAP quer proteger a sua "integridade", e a Air France-KLM parece ser o melhor parceiro neste sentido, segundo um investidor ouvido pela Reuters. A Air France-KLM poderá, agora, usar o investimento na SAS como argumento.
Obstáculos
Mas a aquisição de uma participação na SAS pela Air France-KLM continua sujeita a obstáculos regulamentares, incluindo a aprovação dos líderes políticos americanos e europeus. Um revés poderia atrasar as negociações para a TAP.
"O trabalho propriamente dito para perceber quais as companhias aéreas estão realmente interessadas, o real apetite do mercado e as estratégias dos diferentes players ainda não começou", especifica uma fonte próxima do assunto.
A gigante norte-americana de private equity Apollo Global Management, que no ano passado forneceu à SAS US$ 700 milhões em financiamento "bridge" e fez uma oferta para adquirir uma participação majoritária na empresa, esbarrou na proibição imposta pela União Europeia a investidores não europeus de assumirem o controle de uma companhia aérea do bloco.
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Quero receberHistoricamente, a indústria aérea europeia encontrou obstáculos culturais e políticos que complicaram a integração de novos atores, mesmo dentro da Air France-KLM. Resta ainda saber como a Air France-KLM se adaptará às culturas sueca e dinamarquesa.
A Lufthansa e a IAG também terão argumentos de peso a apresentar à TAP. A primeira poderá destacar a sua participação na Star Alliance, da qual a TAP faz parte, e a segunda poderá chamar a atenção pela sua implantação na região ibérica. Portugal procurará um comprador "reputado e forte", segundo fonte familiarizada com a posição do governo, e que também estaria disposto a participar da melhoria dos aeroportos portugueses.
Com informações da Reuters
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