Parlamento da Irlanda do Norte elege primeira líder nacionalista, encerrando dois anos de impasse


A vice-presidente do partido Sinn Fein, Michelle O'Neill, se tornou oficialmente neste sábado (3) a primeira republicana a favor da unificação irlandesa a assumir o comando do governo da Irlanda do Norte, uma mudança histórica de direção em uma província britânica marcada por três décadas de conflitos sangrentos.

Aos 47 anos, O'Neill foi nomeada como primeira-ministra após um longo boicote de dois anos das instituições pelos unionistas, em oposição aos acordos comerciais pós-Brexit, que eles denunciaram como uma ameaça ao lugar da Irlanda do Norte no Reino Unido.

Diante dos parlamentares reunidos no Palácio de Stormont, Michele O'Neill saudou "um dia histórico", uma "nova era" e prometeu um governo "para todos", enfatizando que teria sido "inimaginável para a geração de seus pais" que um nacionalista liderasse o executivo local.

A líder do Sinn Fein para toda a ilha da Irlanda, Mary Lou McDonald, disse que o governo da Irlanda do Norte "não poderia estar em melhores mãos". "Esta é uma vitória para todos hoje, uma demonstração de que a igualdade e a inclusão estão na ordem do dia", acrescentou.

De acordo com o arranjo de governança compartilhada resultante do Acordo da Sexta-Feira Santa de 1998, que encerrou três décadas de conflito, Michelle O'Neill terá a companhia de uma vice-primeira-ministra unionista, Emma Little-Pengelly.

Mudança "impossível"

O Sinn Fein saiu vitorioso nas eleições de maio de 2022, uma mudança sem precedentes para o partido que já foi a vitrine política do IRA (Exército Republicano Irlandês), mas o impasse político impediu Michelle O'Neill de assumir o cargo.

Um governo local, responsável por áreas como habitação, saúde, emprego, agricultura e meio ambiente, deve ser criado. Os assuntos do dia a dia foram gerenciados pela administração e por Londres durante dois anos devido ao impasse, que já causava exasperação entre a população.

Após meses de negociações com o governo britânico, os sindicalistas do Partido Unionista Democrático (DUP) anunciaram, nesta semana, a decisão de encerrar o boicote. Destacando o difícil caminho percorrido, o líder do DUP, Jeffrey Donaldson, argumentou que seu partido havia "realizado a mudança que muitos descreveram como impossível". Ele saudou o fato como um "bom dia para a Irlanda do Norte", em que "nosso lugar no Reino Unido e em seu mercado interno é respeitado e protegido".

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Esse argumento, no entanto, não eram bem recebido pelos sindicalistas mais duros, como Jim Allister, para quem a Irlanda do Norte continua sendo "governada em grande parte por leis estrangeiras", as da União Europeia (UE).

Fronteira

Uma das principais dificuldades na implementação do Brexit foi encontrar uma solução que evitasse o retorno de uma fronteira física entre a República da Irlanda, membro da UE, e a província britânica, protegendo ao mesmo tempo a integridade do mercado único europeu.

Esta semana, o partido unionista liderado por Jeffrey Donaldson finalmente aceitou um acordo com o governo britânico, acreditando que o texto oferecia garantias suficientes e que eliminava a fronteira no Mar da Irlanda, que ele vinha denunciando. Entretanto, essa decisão não teve aprovação unânime, nem mesmo dentro de seu próprio partido.

A reativação das instituições da Irlanda do Norte também permitirá que Londres libere £ 3,3 bilhões (cerca de € 3,9 bilhões) para apoiar os serviços públicos, que recentemente sofreram uma greve de proporções históricas.

(com informações da AFP)

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