Conteúdo publicado há 22 dias

Mais de 600 mil crianças não tiveram nem 1 hora de aula em Gaza desde início da guerra

Segundo a Unicef, 625 mil crianças em idade escolar não tiveram nem mesmo uma hora de aula desde o início da guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, há seis meses. O enclave palestino, onde mais da metade da população tem menos de 18 anos, está devastado. Os bombardeios israelenses continuam.

A Unicef estima que "Gaza é hoje o lugar mais perigoso do mundo para uma criança", que "um milhão delas são afetadas pela guerra" e que "pelo menos 17 mil estão separadas dos pais".

Nestes seis meses, quase 33.500 pessoas foram mortas, conforme mostra o último relatório do Ministério da Saúde do Hamas.

Na Faixa de Gaza não há quase nada além de ruínas. Trezentas escolas, entre fundamentais e de ensino médio, além de universidades, estão inutilizáveis, o que representa 92% das unidades de ensino do enclave palestino, aponta a Unicef.

Sinto falta de pegar uma caneta e escrever. Sinto falta de abrir um livro e ler...

Os estabelecimentos estão destruídos ou ocupados por refugiados. Line tem 12 anos. Seu último dia de aula foi em outubro, antes do início da guerra.

"Estou com saudades da escola. Quero voltar lá para reencontrar meus amigos, meus professores. Sinto falta de pegar uma caneta e escrever. Sinto falta de abrir um livro e ler. Eu gostaria realmente de ter tudo isso de volta", contou a menina.

Saleh, o irmão mais velho de Line, é um estudante universitário.

"Antes vivíamos com dignidade. Tínhamos uma casa e não nos faltava nada. Hoje moramos em uma barraca e, em vez de ir à escola aprender e ter futuro, passo os dias fazendo tarefas, como carregar recipientes com água por longas distâncias, para podermos beber. Perdemos tudo. Tudo está destruído aqui", lamentou o rapaz.

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"Segurança para aprender"

Para Jonathan Crickx, porta-voz da Unicef nos Territórios Palestinos, "quase todas as crianças da Faixa de Gaza precisam de assistência de saúde mental, isto é consequência de seis meses de violência e intensos bombardeios". E "para que uma criança regresse à escola, não só precisa de um edifício e de professores, mas também de se sentir segura para aprender".

As crianças têm "um cérebro que funciona através do prisma do trauma", explica a psiquiatra infantil Audrey McMahon, que trabalhou em Gaza para os Médicos Sem Fronteiras.

"Elas perderam tudo e continuam a ser atacadas e a passar fome. Os desafios que enfrentam são imensos e levará tempo para se curarem."

A especialista projeta significativas "dificuldades de concentração", expressões de "raiva ou injustiça", e lembra que a desnutrição afeta o desenvolvimento cerebral dos menores.

O impacto da guerra

Em alguns países marcados pela guerra, mesmo após o fim das hostilidades, muitas crianças nunca regressaram à escola. No Iraque, por exemplo, seis anos depois que o governo declarou ter derrotado o grupo jihadista Estado Islâmico, dezenas de milhares de crianças continuam fora de estabelecimentos de ensino, segundo o Banco Mundial.

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Assim, numa tentativa de evitar a evasão escolar sem retorno, instituições de ensino complementar foram criadas às pressas em Gaza nas últimas semanas, principalmente em Rafah, apesar de inúmeras dificuldades, como a falta de cadernos e canetas.

"Cessar-fogo imediato"

Os presidentes da França e do Egito, bem como o rei da Jordânia, apelaram a "um cessar-fogo imediato em Gaza" em um artigo publicado no jornal Le Monde.

"A guerra em Gaza e o sofrimento humano catastrófico que ela provoca devem terminar imediatamente", afirmam os três líderes que apontaram para "uma solução de dois Estados", "a única opção confiável para garantir a paz e a segurança para todos, e para garantir que nem israelenses, nem palestinos têm de reviver os horrores que os atingiram, desde os ataques de 7 de outubro de 2023".

António Guterres, secretário-geral da ONU, também continua a apelar para um cessar-fogo imediato. Além dele, sua vice-secretária-geral, Amina Mohammed, disse na terça-feira (9) que "devemos fazer algo e rapidamente [...] Milhares de crianças continuam a morrer, a viver como amputadas. E centenas de pessoas estão esperando os reféns voltarem para casa".

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