Justiça francesa condena autoras de rumores de que primeira-dama Brigitte Macron seria mulher trans
Desde a eleição de Emmanuel Macron, em 2017, circularam pelas redes sociais vários rumores de que a primeira-dama Brigitte Macron seria trans. Duas mulheres que propagaram a informação foram identificadas e acabam de ser condenadas pela Justiça francesa.
Segundo a fake news, Brigitte Macron teria nascido Jean-Michel Trogneux e mudado de nome após ter passado por um processo de transição. Jean-Michel é, na verdade, o irmão da primeira-dama.
A informação circulou nas redes sociais esporadicamente e voltou à tona em 2021, quando duas mulheres divulgaram um longo vídeo no youtube no qual alimentavam o rumor. Nas imagens, Natacha Rey, que se apresentava como "jornalista independente autodidata", entrevistava uma médium, Amandine Roy, sobre o que elas classificavam de "mentira de Estado".
Durante mais de quatro horas de gravação, elas deram detalhes sobre o que chamavam de "enganação" e "fraude", mostrando fotos de Brigitte Macron e sua família, comentando características físicas da primeira-dama e possíveis intervenções cirúrgicas às quais ela teria se submetido. As duas mulheres também afirmam que Brigitte não seria a mãe de seus três filhos e divulgam vários detalhes pessoais sobre seu irmão, Jean-Michel.
O vídeo viralizou e a hashtag com o suposto verdadeiro nome de Brigitte Macron, #JeanMichelTrogneux foi compartilhada mais de 60 mil vezes. Outras hashtags relacionadas a essa fake news também surgiram, como a #OuEstJeanMichelTrogneux (onde está Jean Michel Trogneux). O caso repercutiu até fora do país, com trechos da entrevista que chegaram a ser usados por grupos de extrema direita nos Estados Unidos.
Brigitte Macron deu queixa por difamação pública e lançou um processo em janeiro de 2022. E nesta quinta-feira (12) a Justiça informou que Natacha Rey e Amandine Roy foram condenadas a pagar uma multa de € 500 (pouco mais de R$ 3 mil), além de uma indenização de € 8 mil (cerca de R$ 50 mil) a Brigitte Macron e € 5 mil (mais de R$ 30 mil) a seu irmão Jean-Michel Trogneux.
"Não é uma vitória. É apenas a aplicação normal da lei", declarou Jean Ennochi, advogado da primeira-dama, que não compareceu à audiência. Durante o processo, ele insistiu que os rumores causaram um dano "enorme" por terem se tornado virais. "Diante de todas essas repercussões, ações legais estão sendo lançadas na França e no exterior", acrescentou.
Várias mulheres ligadas à política já foram vítimas de fake news de cunho transfóbico, incluindo a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama, a atual vice-presidente norte-americana Kamala Harris e a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern.
Insultos do ex-presidente brasileiro
Brigitte Macron foi alvo de vários ataques desde que se tornou primeira-dama. Comentários sobre sua diferença de idade com o presidente, 24 anos mais novo, foram frequentes, assim como piadas sobre seu físico.
Um dos episódios mais conhecidos envolveu o ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que apoiou nas redes sociais postagens irônicas visando a francesa. O ministro da Economia da época, Paulo Guedes, também fez comentários ofensivos sobre o físico da primeira-dama, antes de se desculpar por meio de nota oficial.
O episódio, que ocorreu em um momento de tensões diplomáticas entre Brasília e Paris ligado às queimadas nas florestas brasileiras, teve grande repercussão, inclusive com reação do presidente Emmanuel Macron, criticando a postura de Bolsonaro e de seu ministro.
Um movimento de mulheres brasileiras também se formou nas redes em torno da hashtag #DesculpaBrigitte. A mobilização, reforçada pelo lançamento de dois abaixo-assinados de brasileiras que moram na França, emocionou a primeira-dama.
RFI, com agências
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