Assembleia da Venezuela repudia decisão do Parlamento Europeu em sessão com vazamento de áudio contra opositor

A Assembleia Nacional da Venezuela aprovou nesta quinta-feira (19) uma nota de repúdio "a alguns deputados" que votaram no Parlamento Europeu o reconhecimento de Edmundo González Urrutia como o presidente eleito em 28 de julho. O Conselho Nacional Eleitoral anunciou Nicolás Maduro vencedor do contestado pleito, sem ter apresentado as atas eleitorais emitidas pelas urnas eletrônicas com o registro dos votos.

Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil na Venezuela 

O texto aprovado na Assembleia de maioria chavista repudia a "prática de reconhecer mecanismos perversos de pressão para cometer graves violações à soberania (venezuelana)", e que seja "abandonada a fracassada estratégia colonialista". 

Mais cedo, o Parlamento Europeu havia aprovado por 309 a favor, 201 contra e 12 abstenções o reconhecimento de González como o "presidente legítimo e democraticamente eleito" da Venezuela.

Durante a sessão parlamentar em Caracas, o presidente da Assembleia, Jorge Rodríguez, disse que o encontro que selou o exílio de González, ocorrido na embaixada da Espanha, "transcorreu tranquilamente", mas sugeriu que o opositor estaria embriagado. O chavista, que foi ao local acompanhado pela irmã, Delcy Rodríguez, vice-presidente de Maduro, divulgou um áudio no plenário, feito sem o consentimento de González, com trechos das conversas mantidas na sede diplomática. Também divulgou uma carta na qual González se compromete a "acatar" a sentença da Corte Suprema que certificou a reeleição contestada de Maduro.

Paralelamente, em um ato oficial, Maduro disse que González pediu a ele "clemência" para conseguir deixar a Venezuela e ir para a Espanha.

"Sinto vergonha alheia que o senhor González Urrutia, que me pediu clemência, não tenha palavra com o que se empenhou e alegue sua própria inépcia e sua própria covardia para tentar salvar não sei o quê", disse Maduro em um ato oficial nesta quinta-feira. 

Na quarta-feira (18), González tinha relatado que Delcy e Jorge Rodríguez o obrigaram, sob "chantagem e coerção", a assinar um documento reconhecendo a vitória de Maduro ou então teria de "ater-se às consequências".

O diplomata de 75 anos chegou em Madri em 8 de setembro, após passar mais de um mês na clandestinidade, escondido em Caracas na sede diplomática da Holanda e, em seguida, na da Espanha.

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A líder opositora Maria Corina Machado afirmou pelas redes sociais que ao mostrar documentos e fotos, Jorge Rodríguez está "acusando a si mesmo e dando provas da extorsão" que González teria sofrido.

Divulgação de imagem sobre negociações constrange governo espanhol 

A fotografia dos irmãos Rodríguez ao lado do opositor na casa do embaixador da Espanha em Caracas gerou mal-estar em Madri. A imagem foi feita enquanto os três afinavam detalhes para González poder deixar a Venezuela. O adversário de Maduro nas urnas, que afirma desde a divulgação dos resultados pelo CNE ter vencido a eleição, afirmou nas redes sociais que tinha assinado um documento "viciado de nulidade" sob "coação" dos chavistas.

Na Espanha, a presença polêmica dos irmãos Rodríguez na residência do embaixador espanhol é criticada pela oposição conservadora. O Ministério de Relações Exteriores da Espanha nega ter sido o intermediário das supostas negociações entre González e os representantes do governo de Maduro. O chanceler José Manuel Albares teria dado "instruções diretas ao embaixador" Ramón Santos a não interferir nas gestões que pudessem ser feitas pelo líder opositor.

A situação levou González a divulgar uma nota afirmando não ter sido coagido nem pelo governo espanhol e tampouco pelo embaixador espanhol na Venezuela. O opositor informou que o governo espanhol se comprometeu a garantir sua segurança durante o deslocamento da casa do embaixador até o avião que o levou à Espanha "sob condições de segurança e respeito aos meus direitos".

No entanto, Alberto Núñez Feijóo, senador e líder da bancada do Partido Popular no Parlamento Espanhol, exigiu a substituição de Ramón Santo, o embaixador da Espanha em Caracas, a saída do chanceler José Manuel Albares e que o primeiro-ministro Pedro Sánchez dê explicações imediatas sobre as tensões entre Espanha e Venezuela.

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Com a resolução aprovada no Parlamento Europeu é esperado que os 27 países da União Europeia apoiem a posse de Edmundo González Urrutia na presidência em 10 de janeiro, e que seja solicitado em âmbito internacional a prisão de Nicolás Maduro por crimes de lesa humanidade.

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