Sem luz há mais de dois dias, Cuba aguarda chegada de furacão

O furacão Oscar está prestes a atingir Cuba neste domingo (20), enquanto a população da ilha entre no terceiro dia de apagão geral. O país enfrenta a pior crise em 30 anos e o fenômeno climático pode piorar a escassez de alimentos e medicamentos.

As autoridades do leste da ilha "já trabalham arduamente para proteger a população e os recursos econômicos, dada a iminência do furacão Oscar", garantiu o presidente Miguel Díaz-Canel, em uma mensagem publicada sábado à noite na rede social X. Acompanhado por ventos de 139 km/h, Oscar deverá chegar ao leste de Cuba durante o dia de domingo. São esperadas fortes chuvas, segundo o Centro Nacional Americano de Furacões (NHC).

A chegada do furacão associada ao gigantesco corte de energia, em curso desde sexta-feira (18) e que ocorre na sequência de cortes crônicos do abastecimento, torna mais dura a vida dos 10 milhões de habitantes da ilha, que enfrentam ainda uma inflação galopante no país.

Em outra mensagem no X, a presidência cubana relatou avanços na restauração do sistema elétrico. "16% dos consumidores já têm eletricidade e cerca de 500 megawatts estão a ser gerados. O sistema continuará a aumentar a sua carga nas próximas horas", prometeu.

Para efeito de comparação, o país consumiu 3.300 megawatts na quinta-feira, um dia antes do apagão total de energia ligado ao colapso da principal central térmica da ilha, localizada em Matanzas (oeste). Na quinta-feira, o presidente cubano anunciou que a ilha se encontrava numa situação de "emergência energética" devido às dificuldades na aquisição do combustível necessário para alimentar as suas centrais, devido ao reforço do embargo que Washington impõe à ilha desde 1962.

Habitantes cansados

Na noite de sábado, a maior parte das áreas de Havana estavam às escuras, exceto hotéis e hospitais equipados com geradores de emergência e as poucas residências particulares que possuem este tipo de equipamento.

"A situação é muito difícil, mas procuro manter a calma, porque já existe muito estresse neste país", disse à AFP Yaima Valladares, uma dançarina de 28 anos.

O presidente Díaz-Canel realizou uma reunião de supervisão na noite de sexta-feira, durante a qual prometeu que não haveria descanso para os serviços do Estado até que a eletricidade fosse totalmente restaurada na ilha. "As pessoas estão um pouco irritadas porque há muito tempo que falta energia e só Deus sabe quando será restabelecida", disse Rafael Carrillo, mecânico de 41 anos, que disse ter caminhado quase cinco quilômetros devido à falta de meios de transporte.

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"Ficamos quatro ou cinco horas esperando o guagua (ônibus) e, quando ele passa, está lotado e não para", contou ele, cansado.

"Sem luz, é quase impossível estudar", explica um jovem de 18 anos, que não quis se identificar. "Meu telefone está sem bateria, não temos mais internet, a conexão também desapareceu e não consigo ligar para a minha família porque o telefone fixo também não está funcionando."

Apagão de 2021 e manifestações históricas em Cuba

Há três meses, os cubanos sofrem cortes de energia cada vez mais frequentes, com um déficit energético nacional de 30%. Na quinta-feira (17), esse déficit atingiu os 50%.

Nas últimas semanas, em várias províncias, os cortes de energia duraram mais de 20 horas por dia. Em Cuba, a luz é produzida por oito centrais termelétricas em ruínas, por vezes danificadas ou em manutenção, assim como várias centrais flutuantes - que o governo aluga de empresas turcas - e geradores.

A maior parte desta infraestrutura requer combustível para funcionar. Os cortes de energia foram um dos gatilhos dos protestos históricos de 11 de julho de 2021 no país.

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Em setembro de 2022, a ilha sofreu um "apagão" generalizado após a passagem do furacão Ian, que atingiu o oeste cubano. O restabelecimento completo da luz levou vários dias, na capital, e várias semanas em toda a ilha.

 

Com informações da AFP

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