Moldávia diz 'sim' para adesão à UE enquanto Kremlin condena 'anomalias' nas eleições

A Moldávia passou por uma reviravolta incrível na noite de domingo para segunda-feira (21), após o referendo organizado pela presidente Maia Sandu sobre a adesão à União Europeia. O voto "não" liderou fortemente durante toda a noite antes de finalmente ceder lugar a maioria de votos "sim", aprovando a entrada do país à UE por uma margem estreita de alguns milhares de votos. A conclusão foi de que 50,45% dos moldavos são favoráveis à emenda constitucional. 

Com informações de Daniel Vallot, enviado especial da RFI em Chisinau

Os partidários de Maia Sandu, 52 anos, favoráveis à adesão à União Europeia, voltaram para casa na noite de domingo (20) pensando que haviam perdido a eleição. De fato, uma atmosfera de amargura e imensa decepção reinou durante a noite no gabinete da atual presidente. No entanto, ainda havia uma pequena esperança de que o voto da diáspora pudesse reverter a tendência, e esse foi o cenário que prevaleceu no final.  

O lado do "sim" venceu com 50,4% dos votos, apenas alguns milhares à frente do lado do "não". Esse resultado ainda está muito longe dos 55% previstos pelas pesquisas de opinião e representa apenas uma pequena vitória para a presidente Maia Sandu, que contava com um apoio muito maior da população moldava para seu projeto europeu. 

Os partidários da adesão à União Europeia podem ter se precipitado ao acreditar que venceriam, e a mobilização de seu campo pode ter sido prejudicada por isso. Eles também podem ter subestimado a prevalência na Moldávia do medo de se comprometer muito diretamente com o campo ocidental e o desejo de permanecer equidistante das influências europeias e russas. 

"Mesmo uma vitória apertada ainda é uma vitória. Nas democracias, os perdedores aceitam o resultado. A Europa não é apenas um sonho, é um projeto comum, e continuaremos a fortalecer o lugar da Moldávia na Europa à qual pertencemos", disse à RFI o ex-ministro das Relações Exteriores da Moldávia, Nicu Popescu, especialista em relações internacionais, no contexto do referendo constitucional sobre a adesão à UE.  

Ele ainda comparou a votação inédita acirrada na Moldávia com outros casos da história da integração europeia: "Por exemplo, o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, foi obtido com 52%, enquanto a Suécia e Malta entraram na União Europeia com 52 ou 53%.  

As consequências da votação 

O objetivo de aderir à UE será agora consagrado na Constituição da Moldávia, mas o sinal político enviado por essa votação é o oposto do que Maia Sandu esperava. Ela saiu da votação muito enfraquecida, com um perigoso segundo turno de eleições presidenciais se aproximando após o primeiro turno no domingo. 

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Paralelamente ao referendo, está sendo realizada uma eleição presidencial na ex-república soviética de 2,6 milhões de habitantes. Maia Sandu saiu bem à frente, com 42% dos votos no primeiro turno. No entanto, seu oponente no segundo turno, o ex-promotor Alexander Stoianoglo, de 57 anos, que obteve 26% dos votos, apoiado pelos socialistas pró-russos, poderá se beneficiar de uma transferência de votos muito favorável em 3 de novembro.  

O ex-procurador-geral da Moldávia, que foi demitido por Maia Sandu por acusações de corrupção, reunirá em seu apoio todos os candidatos que desejam manter vínculos com a Rússia. Maia Sandu, por sua vez, poderá se beneficiar de uma transferência de votos muito pequena. O impacto desse resultado do referendo também será sentido no próximo ano nas eleições parlamentares, que parecem muito ruins para o partido de Maia Sandu. 

Críticas russas 

O Kremlin condenou as "anomalias" na contagem dos votos do referendo na Moldávia, onde o "sim" à adesão à União Europeia venceu por pouco na manhã de segunda-feira, depois que o "não" esteve na liderança por muito tempo.  

O porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, também exigiu "provas" das "graves acusações" feitas pela presidente pró-Europa da Moldávia, Maia Sandu, que se referiu ao envolvimento no processo eleitoral de "grupos criminosos, agindo em conjunto com forças estrangeiras hostis" aos interesses moldavos. 

De acordo com Peskov, "é difícil explicar o aumento de votos a favor de (Maia) Sandu e da adesão à UE" na manhã de segunda-feira. "Qualquer pessoa familiarizada com processos eleitorais pode detectar anomalias no aumento desses votos", insistiu ele durante seu briefing diário. 

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O porta-voz da presidência russa também denunciou "uma campanha eleitoral sem liberdade", assegurando que Moscou "(vê) quantas pessoas não são a favor da ideologia das ações do presidente Sandu". 

Peskov exigiu que Sandu "apresente publicamente provas" de suas "sérias acusações" de interferência estrangeira no processo eleitoral, que, segundo ela, foi planejado para "aprisionar (a Moldávia) na incerteza e na instabilidade". 

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