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"O PCC passou a gostar de dinheiro público": a facção no mundo das licitações | Podcast UOL Prime #22

Do UOL, em São Paulo

13/06/2024 04h00

O podcast UOL Prime, apresentado por José Roberto de Toledo, traz nesta quinta-feira (13) uma entrevista com o colunista Flávio VM Costa, sobre o esquema criado por integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) para pôr a mão em um grande volume de dinheiro público.

O crime acontecia via contratos firmados com prefeituras e câmaras municipais do interior paulista.

Você pode ouvir acima a íntegra do episódio, que tem como base nas reportagens "Como as fraudes do PCC em licitações se espalharam pelo estado de São Paulo" e "Com fraudes em licitação, PCC participa do assalto ao dinheiro público".

O esquema, que se estendeu por anos, usava empresas ligadas a um integrante da facção, um pagodeiro conhecido como Latrell Brito e incluía pagamento de propinas a agentes públicos.

"Já há algum tempo, o PCC vem sofisticando seu processo de lavagem de dinheiro. O PCC passou a gostar de dinheiro público", afirma Flávio VM Costa.

Entre 2016 e 2023, mais de R$ 251 milhões em dinheiro público foram parar em CNPJs ligados ao PCC, apontam dados do TCE (Tribunal de Contas do Estado) em levantamento exclusivo feito pelo colunista para o UOL.

Ao menos 25 prefeituras e câmaras municipais, além de uma fundação cultural do estado, firmaram contratos com empresas criadas por Latrell Brito.

Ele está foragido da Justiça há dois meses, após o Ministério Público deflagrar uma operação e prender três vereadores envolvidos.

O colunista explica que as empresas criadas servem também para lavar dinheiro obtido com o tráfico de drogas.

"Latrell Brito tem pelo menos sete empresas. Essas empresas participavam de pregões eletrônicos. Antes de começar o pregão, Latrell já definia qual empresa dele iria ganhar e por qual preço", diz Flávio VM Costa.

Os contratos eram, em sua maioria, de prestação de serviços na área de limpeza de órgãos públicos.

Latrell Brito mantinha um grupo de WhatsApp para combinar lances em pregões eletrônicos e presenciais com servidores, secretários municipais e políticos em mandatos eletivos.

A investigação do MP-SP começou depois que os promotores receberam denúncias anônimas sobre fraudes em licitações da prefeitura de Guarulhos.

"O PCC está muito mais presente na nossa vida do que a gente imagina. Se você deixa seu filho na escola e a escola está sendo limpa por um funcionário do PCC, se você abastece o carro num posto de gasolina que é do PCC, o PCC está presente muito além do que se você for meramente um usuário de drogas."

Um terno para posse

"É um esquema que corrompe o poder público em larga escala", comenta Toledo, ao ouvir sobre a história de Ricardo Queixão, vereador de Cubatão.

"Queixão fazia insistentes pedidos para Latrell Brito, pelo WhatsApp. 'Meu velho, lembre-se de mim. Eu preciso comprar o terno para minha posse'.", explica Costa.

O colunista conta que Queixão recebia propinas por transferência por Pix. "Ele chegou a passar o Pix da mulher e o Pix do filho."

Após publicar a reportagem no UOL Prime, o colunista recebeu informações de que o esquema do PCC é muito maior e não se resume ao grupo criado por Latrell Brito.

"O PCC está obtendo contratos nas áreas de esporte, saúde, terceiro setor. O PCC está embrenhado na corrupção institucional."

A ideia de que o PCC resume sua atuação a crimes violentos é ingênua.

"Se você pensar que você deixa sua filha numa escola que está sendo limpa por funcionários contratados pelo PCC, ou se você abastece em um posto de gasolina cujo dono é da facção, você vai perceber que ela não é uma realidade apenas para usuários de drogas", afirma o colunista.

O podcast UOL Prime é publicado às quintas-feiras no YouTube do UOL Prime, Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, Deezer e em todas as plataformas de podcast.