Com fraudes em licitação, PCC participa do assalto ao dinheiro público
Oito presos fundaram a facção criminosa PCC após assassinarem pelo menos dois detentos rivais na Casa da Custódia de Taubaté (SP), em 31 de agosto de 1993.
O Primeiro Comando Capital foi criado como uma resposta ao Massacre do Carandiru, ocorrido no ano anterior, e tinha como objetivo declarado organizar a luta dos presidiários por seus direitos.
Os anos se passaram, muitos assassinatos em disputas internas e rebeliões ocorreram. O PCC passou a dominar as quebradas paulistas, se espalhou pelas penitenciárias brasileiras e tornou-se o principal operador do tráfico de drogas no Brasil.
Há um debate na academia e no jornalismo sobre a real natureza da facção: É uma irmandade de criminosos? Uma facção criminosa comum? Uma agência que regula a criminalidade em São Paulo e em outros lugares do país?
Enquanto os estudiosos discutem sobre o que é o PCC, seus integrantes fazem grandes negócios em todas áreas e administram enormes volumes de dinheiro: há um bom tempo, a facção não se resume a "empreender" no tráfico de cocaína e cometer assaltos espetaculares que param cidades do interior do país.
O PCC voltou-se também para o butim do dinheiro público. A imagem de criminosos armados por facas nas penitenciárias e armas de grosso calibre nas bocas das periferias é uma caricatura, que serve à propaganda da famigerada guerra às drogas. A facção caminha célere à corrupção institucional. E alguns de seus membros usam terno e gravata e batem ponto em repartições públicas.
No mês passado, o Ministério Público de São Paulo deflagrou a Operação Munditia que visa desbaratar um esquema de fraudes de licitações de prefeituras e câmaras municipais do interior do São Paulo.
O operador do esquema é Vágner Borges Dias, membro da facção conhecido como Latrell Brito. Ele está foragido. Músico de pagode, Brito é o criador do grupo Safe, formado por ao menos sete empresas registradas em nome dele e no de laranjas.
Ele usava as empresas para vencer licitações que incluíam documentos falsos, simulação de concorrência e corrupção de agentes públicos, diz o MP-SP. As empresas também serviriam para lavar dinheiro do tráfico de drogas e de outros crimes cometidos pelo PCC.
Quando a operação foi divulgada, umas dez cidades foram citadas como contratantes das empresas do PCC. Mostramos ontem que o esquema é muito maior.
Vasculhei a base de dados do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, e descobri que as empresas da facção firmaram contrato com 25 cidades e receberam mais de R$ 251 milhões em dinheiro público, entre os anos de 2016 e 2023.
O PCC tomou gosto pela verba pública, financia políticos para ter acesso facilitado a gordos contratos em prefeituras, câmaras municipais e autarquias. Latrell Brito comemorava a eleição de políticos que recebem mesadas e defendem os interesses da facção.
Enquanto Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública de São Paulo, empilha corpos na Baixada Santista, sob pretexto de combater o crime, a facção paulista completa sua transformação na maior organização mafiosa da América do Sul.
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