Nasa fotografa jipe chinês na Lua

Salvador Nogueira

Quem pode, pode. Quem não pode bate palmas. Ou bate fotos, como foi o caso. A Nasa usou uma de suas sondas orbitais para obter imagens do jipe robótico Yutu na superfície da Lua. O programa espacial chinês realizou no fim do ano passado o primeiro pouso suave em nosso satélite natural desde 1976. [caption id="attachment_1208" align="alignnone" width="576"]Sequência de imagens mostram a sonda lunar Chang'e-3 e o jipe Yutu no solo lunar Sequência de imagens mostram a sonda lunar Chang'e-3 e o jipe Yutu no solo lunar[/caption] A imagem foi obtida em 24 de dezembro, quando a Lunar Reconnaissance Orbiter sobrevoou a região do Mare Imbrium, a meros 450 metros de uma cratera de impacto. Comparando a foto com outra obtida meses atrás pela mesma sonda, quase sob as mesmas condições de iluminação, é possível claramente identificar o módulo de pouso Chang'e-3, o ponto branco maior, e um pouco abaixo dele um segundo pontinho claro, o jipe Yutu. Aliás, não era certeza que o robozinho móvel chinês fosse ser registrado. Em sua órbita atual, o LRO consegue registrar no máximo objetos de 1,5 m -- que é exatamente a largura do jipe, com os paineis abertos. Em tese, ele deveria ser um único pixel, mas suas células solares estão refletindo luz tão intensamente que o Yutu apareceu como um par de pixels. Mais notável é a sombra projetada pelos dois objetos. Tem se tornado praxe em últimos tempos a Nasa usar seus satélites para fotografar sondas que pousam em outros cantos do Sistema Solar, sobretudo em Marte, onde há atualmente dois jipes americanos em funcionamento. Mas é a primeira vez que eles acompanham, em tempo real, o desenrolar de uma missão de outro país. Não fosse a Chang'e-3 um projeto científico, poderíamos até chamar a iniciativa de espionagem. (Mas todos nós sabemos que os americanos não curtem espiar a vida alheia. Não é mesmo, presidente Dilma?) [caption id="attachment_1209" align="alignnone" width="638"]Imagem panorâmica do solo lunar obtida pela Chang'e-3 em comparação com visão do satélite americano LRO Foto panorâmica do solo lunar obtida pela Chang'e-3 em comparação com visão do satélite americano LRO[/caption] Nessa outra imagem, anotada, você pode comparar o que se vê do espaço com o que a Chang'e-3 registrou numa foto panorâmica tirada em solo lunar. Sem dúvida é um exercício interessante. NOVIDADES DA LUA Enquanto isso, o jipe chinês inicia seus trabalhos de exploração. A primeira novidade que veio daquelas bandas foi o teste bem-sucedido do espectrômetro de raios X instalado no pequeno robô. O instrumento permite indicar a composição do regolito (nome chique para o solo lunar) e identificou oito elementos mais presentes -- magnésio, alumínio, silício, potássio, cálcio, titânio, crômio e ferro --, além de pequenas quantidades de estrôncio, ítrio e zircônio. Em tese, nada que surpreenda. Análises orbitais já indicavam que o Yutu havia pousado numa região rica em titânio. Mas nada me tira da cabeça que os chineses pretendem, a longo prazo, explorar os recursos naturais da Lua, e para isso estão se aperfeiçoando na arte de identificá-los. A sonda orbital Chang'e-2, que precedeu a atual missão, fez isso do espaço, e agora o Yutu está fazendo reconhecimento in loco. A grande novidade, contudo, foi que os chineses prepararam um comunicado à imprensa internacional para noticiar o avanço. Traduzido para o inglês, ele mostra que a China definitivamente despertou para o poder de propaganda internacional que seu programa espacial pode trazer. Europeus e russos já estão conversando com os chineses sobre projetos de cooperação. Enquanto isso, os Estados Unidos têm uma legislação que proíbe qualquer iniciativa conjunta com a China no setor espacial. Perdem os ianques, que vão ter de assistir a tudo com seus satélites em órbita. Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook

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