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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

No dia do enterro da Lava Jato, quatro anos da morte de Marisa Letícia

O conjunto azul, que Marisa Letícia usou numa recepção oferecida pelo governo da Índia, não foi encontrado pelo procurador Januário Paludo no sítio em Atibaia: "Roupa de mulher era muito brega" - Ricardo Stuckert
O conjunto azul, que Marisa Letícia usou numa recepção oferecida pelo governo da Índia, não foi encontrado pelo procurador Januário Paludo no sítio em Atibaia: "Roupa de mulher era muito brega" Imagem: Ricardo Stuckert

Colunista do UOL

04/02/2021 16h30

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Faleceu nesta quarta-feira, aos 7 anos, por falência múltipla de órgãos e muitas piruetas judiciais, a Operação Lava Jato de Moro & Dallagnol, os outrora "heróis nacionais" do combate à corrupção (dos outros).

No mesmo dia 3 de fevereiro, há quatro anos, era sepultada Marisa Letícia Lula da Silva, a mulher do ex-presidente, que morreu de tristeza, diante da perseguição da Lava Jato a seus filhos e ao marido, e à invasão pela Polícia Federal do apartamento onde morava, quando levaram até o laptop do seu neto para "investigações".

Quis o destino que as duas efemérides ocorressem no mesmo momento em que o Brasil toma conhecimento do conluio sórdido montado pela Lava Jato em Curitiba com o objetivo central de prender o ex-presidente Lula e tirá-lo da disputa presidencial em 2018.

Dia após dia, com bastante discrição, a imprensa vem revelando os diálogos indecentes entre os procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, com vários atentados ao "devido processo legal", que deverão ser julgados proximamente pelo STF.

Mas o que mais me chocou nessas conversas foi a forma cafajeste como os procuradores e o juiz se referiam a Lula, chamando-o de "Nine", menção à perda de um dedo no torno mecânico quando trabalhava como metalúrgico.

O ódio a Lula se estendia também à sua mulher, uma pessoa muito simples, que procurava apenas preservar a família, quando se viu guindada à condição de primeira-dama, num país onde o preconceito das elites contra o povo remonta aos tempos da escravidão e que jamais aceitou um operário como presidente da República.

Vejam, por exemplo, o que disse o veterano Januário Paludo, uma espécie de mentor intelectual dos jovens procuradores de Curitiba comandados por Dallagnol, deslumbrados com os holofotes e os espaços que conquistaram na mídia:

"Sem dúvida, o sítio é do Lula, porque a roupa de mulher era muito brega. Decoração horrorosa. Muitos tipos de aguardente. Vinhos de boa qualidade, mas mal conservados. Achei o sítio deprimente. Local para pouso de helicóptero confirmado à esquerda da entrada em campo de futebol, para helicóptero pequeno".

Brilhante conclusão do nosso Sherlock Holmes, que passou dois dias revirando a casa do agora famoso "sítio de Atibaia", assim como o "tríplex do Guarujá", cuja propriedade nunca conseguiram provar ser de Lula.

É esse tipo de prova, além de recortes de jornais, que fundamentaram o histórico PowerPoint de Dallagnol para colocar Lula como o centro do "maior esquema de corrupção do mundo".

O que ele esperava encontrar no sítio? Roupas de grife e sapatos italianos como os da sua turma, que ganham auxílio moradia, apesar de ter casa própria, e recebem os mais altos salários do funcionalismo público federal, os tais "marajás" de que falava Fernando Collor, outro cruzado contra a corrupção?

A turma se divertia com os relatos de Paludo, que se achava muito engraçado:

"O que mais tinha no sítio era boné do MST... Eu pensei em botar nos patinhos e sair pedalando..." Ficaria uma graça.

A procuradora Jerusa Viecili tinha outros interesses:

"kkkkkk Januário! Quero saber da adega!"

E por aí seguem os diálogos do jogo combinado entre procuradores e Moro, comentando como fazer o vazamento de conversas entre Lula e a então presidente Dilma Rousseff, que o impediram de assumir a Casa Civil, e até de conversas privadas de Marisa com os filhos, em tabelinha com jornalistas amigos, sempre à disposição.

Sem o declarado apoio da grande mídia, a Lava Jato jamais teria existido, como reconheceriam mais tarde Moro & Dallagnol.

Com o melancólico fim da operação, dizimada pelo procurador-geral Augusto Aras, no governo Bolsonaro, que a exemplo de Collor também se elegeu em nome do combate à corrupção, Dallagnol voltou ao anonimato e Moro foi ganhar a vida nos Estados Unidos, trabalhando numa multinacional americana, o que é muito justo.

Moro não se conforma com a quebra do sigilo dos diálogos levantado esta semana pelo ministro Ricardo Lewandowski. Numa ação assinada pela mulher, Rosangela Moro, entrou com uma reclamação no STF para trocar o ministro e agora tenta revogar a quebra do sigilo.

De que ele tem tanto medo?

Na volta do cipó de aroeira, Moro e Dallagnol agora estão vendo o que é bom para a tosse quando conversas privadas são tornadas públicas.

O que fizeram com a minha amiga de fé e camarada Marisa Letícia não se faz com ninguém.

Para condenar e prender um inimigo político, quebraram um país e destruíram uma família. Aqui se faz, aqui se paga.

A Lava Jato só deixará saudades em alguns jornalistas estrelados que perderam o assunto e ficaram sem candidato a presidente.

E eu perdi minha companheira e fiel confidente Marisa, mulher de fibra, parceira de tantas viagens de ônibus pelo Brasil nas caravanas da cidadania, quando o Brasil ainda respirava esperança.

Na falta de Moro, Merval Pereira, do Globo, até já lançou hoje a "alternativa" Luciano Huck para presidente, o candidato "in pectore" de FHC.

Só nos faltava isso... Para derrotar Lula, por que não lançam logo o Tiririca? Com Bolsonaro, parece que não deu certo.

Vida que segue.

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