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Josias de Souza

Delação de Cabral pode estilhaçar Lava jato do Rio

Giuliano Gomes/PR Press/Estadão Conteúdo
Imagem: Giuliano Gomes/PR Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

06/02/2020 18h54

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À medida que as condenações de Sérgio Cabral foram se avolumando, o ex-governador do Rio de Janeiro foi se apaixonando pela ideia de virar um delator premiado. Por algum tempo, esse sentimento foi platônico. O Ministério Público Federal sempre rejeitou a ideia. De repente, a paixão de Cabral pelo instituto da delação foi correspondida pela Polícia Federal, que recebeu do Supremo Tribunal Federal poderes para negociar acordos de colaboração judicial. Deu-se, então, um casamento de conveniência.

Sabe-se agora que Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, homologou a delação de Cabral. Fez isso contra a posição da Procuradoria-Geral da República. O acordo é mantido sob sigilo. Mas ainda que Cabral tivesse revelado uma insuspeitada conexão entre a roubalheira que humilha o Rio de Janeiro e o Vaticano, a negociação de um acordo com um larápio dessa envergadura, chefe de uma organização criminosa, é um flerte com o escárnio.

Cabral ingressou na política como um homem de bem. Cresceu na vida pública como um homem que se dá bem. E caiu em desgraça ao ser flagrado com os bens. Suas sentenças somam mais de 280 anos de cana. Chegou a esse ponto escarnecendo dos investigadores. No início, negava todos os crimes. Cercado, admitiu o caixa dois. Virado do avesso, soltou a língua. Pela lógica da delação, Cabral precisa suar o dedo apontando para cima.

Diz-se que o neo-delator apresentou elementos capazes de incriminar gente do Judiciário, espirrando lama inclusive no Superior Tribunal de Justiça, o STJ. Alega-se que revelou podres novos de Lula e sua prole. É preciso verificar a qualidade das provas. Por ora, sabe-se apenas que a imagem de Cabral arrastando uma tornozeleira eletrônica entre o home theater e a sacada de um apartamento elegante de Ipanema tem potencial para estilhaçar a vitrine carioca da Lava Jato.