Josias de Souza

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Opinião

Bolsonaro converte seu crepúsculo em negócio

Bolsonaro transformou seu crepúsculo num rentável empreendimento. Tornou-se um caso inédito de PPP unipessoal. Vendendo-se como um pobre patriota perseguido, articulou uma parceria público-privada com sua clientela. Construiu uma ponte ligando o bolso dos devotos à sua conta bancária por meio de um Pix. Recolheu R$ 17,2 milhões em seis meses. A coleta foi tratada em relatório do Coaf como movimentação "atípica".

Esconde-se por trás dos cifrões um negócio mais lucrativo do que o tráfico de cocaína, pois os únicos entorpecentes que o capitão se dispõe a entregar são o blá-blá-blá da vitimização e o lero-lero segundo o qual a imposição de hipotéticas multas judiciais esvaziará sua geladeira. A rachadona do Pix é mais eficaz e mais do que a velha rachadinha da família Bolsonaro. Dispensa a folha de fantasmas e a intermediação de operadores incômodos como Fabrício Queiroz.

Bolsonaro disse num evento partidário que teria que desembolsar R$ 2 milhões para quitar as multas judiciais. Isso equivale a 11,6% do que foi coletado na PPP do Pix. Nos seis meses varejados pelo Coaf, constatou-se apenas um "bloqueio judicial" na conta do capitão. Coisa de R$ 30,7 mil. Ou seja: os R$ 17,2 milhões permanecem praticamente intocados.

Transparente como cristal de requeijão, Bolsonaro disse no início do mês que já havia arrecadado o suficiente para pagar as multas já emitidas e as que ainda poderiam vir. Prometeu mostrar os valores "brevemente".

Ninguém disse ainda, talvez por pena do pobre patriota perseguido, mas a PPP do Pix é algo muito parecido com um crime. Está previsto no célebre artigo 171 do Código Penal. Chama-se estelionato. Consiste em obter (...) vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento." É mais um conto do vigário no qual o bolsonarismo caiu.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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