Para não passar por conspirador, Heleno se camuflou de abilolado
Augusto Heleno evitou comparecer fardado à CPI do Golpe. Pressentindo que a conjuntura o arrastara para um ambiente hostil, recorreu a uma velha tática do combate na selva. Acabou exagerando na camuflagem. Para esconder a conspiração à flor da pele, exibiu-se aos parlamentares como um abilolado sem visão. Ao final da inquirição ficou entendido o seguinte: em terra de cego, general que tem um olho não diz a ninguém que os golpistas ficaram nus.
Para Heleno, o acampamento que pedia golpe na frente do QG de Brasília era uma "manifestação pacífica" e Bolsonaro não saiu do quadrado constitucional. Na percepção do general, a delação do tenente-coronel Mauro Cid é "uma fantasia", pois ajudante de ordens que senta numa reunião do presidente com comandantes das Forças Armadas é coisa que "não existe".
Sobre o quebra-quebra de 8 de janeiro, Heleno disse que não teria como dar explicações, porque deixou a chefia do Gabinete de Segurança Institucional no dia 31 de dezembro. Na verdade, o general tornara-se ex-ministro da pasta que deveria cuidar do serviço de inteligência ainda no exercício do cargo.
Heleno não viu os terroristas que saíram da porta do quartel para queimar ônibus e carros e tentar explodir um caminhão de combustível. Não viu as tratativas golpistas de Bolsonaro com o hacker de Araraquara na cozinha do Alvorada. Heleno não viu nem mesmo o Mauro Cid que se escondia atrás dele na foto de uma reunião do chefe com os comandantes das Forças, no Planalto.
O general chamou de "bobagem" e "besteira" a acusação de tentativa de golpe. A alturas tantas, disse: "Não ia dar certo nunca." Foi seu comentário mais certeiro. Já não se fazem golpistas como antigamente. Augusto Heleno, um ex-valentão, não vê, não sabe e não participa de nada. Só mente um pouco. O cinismo é o máximo de sofisticação filosófica do general. É o que mais se aproxima da verdade.
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