Leonardo Sakamoto

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Opinião

Governo Bolsonaro demonstrou fetiche por golpismo ao perseguir Xandão

O ex-faz-tudo de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, confirmou à Polícia Federal que o governo passado não tirou o olho do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como um stalker com fetiche golpista, após a eleição. Isso indica, para desespero da narrativa da extrema direita, que era Jair que perseguia Alexandre de Moraes, e não o contrário.

A informação sobre o depoimento foi divulgada por Paolla Serra, do jornal O Globo.

Para piorar, o codinome adotado para Moraes pela arapongagem do governo durante o monitoramento de seu itinerário, deslocamento e localização era "professora". Além de condenação por tentar mandar o Estado Democrático de Direito para o vinagre, esse pessoal precisa ser obrigado a fazer alguns anos de terapia. Tratar umas pontas soltas da infância ajudará a melhorar da vida deles, e a democracia estará mais segura.

A PF já havia apontado que o general Augusto Heleno, o coronel Marcelo Costa Câmara e o próprio Cid integravam um núcleo de inteligência paralela para ajudar Jair na consumação do golpe de Estado. O monitoramento de Moraes tinha o objetivo de prendê-lo logo que o decreto de golpe de Estado tivesse sido assinado.

No grande ato para passar pano ao golpismo, em 25 de fevereiro, na avenida paulista, Bolsonaro tentou vender a ideia de que a minuta desse decreto, que previa Estado de Sítio e a prisão de Moraes, era uma bobagem. O documento foi apresentado por ele aos comandantes do Exército, da Força Aérea e da Marinha, em 7 de dezembro. Os dois primeiros não embarcaram, o terceiro teria topado.

A beleza do crime de tentar um golpe de Estado é que você só precisa tentar. Até porque, se consumar o golpe, já era.

O software israelense First Mile, com o qual o governo Bolsonaro espionou políticos, magistrados, advogados, jornalistas e membros de organizações sociais, teria sido usado de 2019 a 2021. E Moraes teria sido um dos alvos, mostrando que o fetiche golpista contra ele era prática recorrente.

Ou seja, o novo monitoramento após as eleições de outubro de 2022, visando à prisão de "Xandão", pode ter ocorrido à moda antiga, com agentes seguindo Moraes. Tento imaginar a imagem com seriedade, mas só lembro de cenas de desenho animado, envolvendo um coiote e um papa-léguas.

O grande legado do bolsonarismo não é apenas uma crise ética, mas também estética.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL