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Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


Doria e França exageram dados sobre votação e apoio político em debate

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Imagem: Arte/UOL

Do Aos Fatos

19/10/2018 10h31

Os candidatos ao governo do estado de São Paulo, João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB), participaram na noite de quinta-feira (18) do primeiro debate do segundo turno, realizado pela Band. Eles trocaram acusações sobre apoio ao PT e a Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência, e citaram dados imprecisos e falsos sobre o orçamento para segurança pública no estado de São Paulo e os números de votos na capital paulista.

Leia também:

Aos Fatos checou as declarações dos candidatos. Veja o que encontramos:

João Doria (PSDB)

"Você, França, mandou a peça orçamentária do seu governo para a Assembleia [...] reduzindo em 17% o valor para segurança pública."

FALSO: Ao contrário do que afirma Doria, não houve redução, mas um leve aumento de 2,9% do valor destinado à segurança pública no estado entre 2018 e o planejado para 2019. Esse aumento, no entanto, não deve compensar as perdas inflacionárias, pois a inflação acumulada de 2018 está prevista para ficar em 4,43%. Os dados são do boletim Focus, do Banco Central. De toda forma, como não houve queda na proporção mencionada por Doria, a declaração foi considerada FALSA.

Na LOA (Lei Orçamentária Anual) 2018 de São Paulo, está previsto o investimento de R$ 21,27 bilhões na função da segurança pública, grande parte do orçamento alocado na Secretaria de Segurança Pública. Já no PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) 2019, o planejamento é de que o governo invista R$ 21,89 milhões na mesma função.

"[França] Defendeu a Dilma Rousseff, foi contra o impeachment."

IMPRECISO: Entre 2015 e 2016, Márcio França fez elogios e críticas à então presidente Dilma Rousseff. Ao longo do processo de impeachment, França questionou a ausência de elementos que justificassem o processo, mas a Executiva Nacional do PSB, da qual Márcio França fazia parte da direção, decidiu apoiar o processo de impeachment. Como França não foi taxativo em relação ao impeachment e também criticou o governo de Dilma, a declaração de Doria foi considerada IMPRECISA.

Em abril de 2015, durante o 14º Fórum de Comandatuba, evento organizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais) de João Doria, Márcio França disse que "em um regime democrático, quem faz o julgamento é o povo na hora da eleição. E Dilma foi eleita pelo povo brasileiro". No mês seguinte, em evento de agronegócio, Márcio França elogiou Dilma Rousseff, "ela é uma mulher que tenho como idônea", mas disse que ela "tem dificuldade com a política".

No segundo semestre de 2015, em setembro, Márcio França criticou o governo de Dilma Rousseff e disse que o governo dela "vem cometendo muitos erros, mas, até o momento, seu nome não está envolvido em nenhuma manobra ilegal", na reunião executiva do Polo Agrotecnológico.

Em dezembro de 2015, Márcio França afirmou que "o PSB ainda não tem uma posição formal, mas eu penso que não há elementos para o impeachment no parecer que foi acolhido".

"O seu partido tem uma página no site oficial dizendo Lula Livre, pedindo a libertação do Lula."

IMPRECISO: A afirmação dita por Doria é IMPRECISA, uma vez que a nota de apoio do PSB se referia ao julgamento de Lula. Não há qualquer menção a "Lula Livre", uma vez que o petista sequer havia sido preso ainda.

Veja, abaixo, a íntegra da nota publicada no site do PSB na ocasião:

"O Partido Socialista Brasileiro – PSB, como todas as demais forças políticas instituídas do País, vem sendo chamado a se manifestar sobre o julgamento do ex-presidente Lula, que ocorrerá no próximo dia 24/01.

Nesse contexto, há dois elementos que merecem destaque. Primeiramente uma certa atipicidade na velocidade com que tramitou o processo, em segunda instância.

Quanto a esse aspecto, notamos que a rapidez da Justiça é um direito que assiste a toda a população, mas superar, em um caso específico, a morosidade habitual, terminou por criar um fato político.

Em segundo lugar, considera-se que o tribunal político mais adequado, em uma democracia, é o voto popular, em eleições livres – avaliação essa que é comum, no presente caso, a maioria das forças políticas responsáveis, independentemente de seu aspecto ideológico.

Cabe observar, ainda, que uma solução política, por meio das umas, que se viabilize respeitando de modo estrito a legalidade, é condição para que o país supere a crise política que vivencia há pelo menos três anos.

Brasília-DF, 23 de janeiro de 2018.

Carlos Siqueira, Presidente Nacional do Partido Socialista Brasileiro".

"Você [Márcio França], no governo Lula, votou a favor da CPMF."

VERDADEIRO: É fato que Márcio França, em 2007, quando era deputado federal de São Paulo pelo PSB, deu voto favorável à PEC 50/2007, que prorrogava a vigência da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) até o final de 2011.

A CPMF é um imposto criado em 1996, durante o governo FHC, que era cobrado em todas as movimentações financeiras feitas por pessoas jurídicas e físicas. Diferentemente dos impostos cobrados sobre os preços de produtos e serviços, essa cobrança aparecia no extrato bancário do contribuinte. Mesmo após a aprovação na Câmara, a prorrogação foi rejeitada pelo Senado.

"O MST que hoje manifestou o apoio a você [França]."

VERDADEIRO: Não só o MST (Movimento dos Sem Terra), mas também a CMP (Central dos Movimentos Populares), o Levante Popular da Juventude e mais outros quatro movimentos sociais assinaram uma nota em apoio à candidatura de Márcio França na última segunda-feira (15).

A nota, publicada após reunião dos movimentos sociais com representantes do candidato, além de declarar apoio, também divulgou o que foi solicitado pelo grupo:

"Na reunião, ficou acertado que, no governo Márcio França, não haverá criminalização de movimentos sociais. Foi acordado que será criada uma estrutura administrativa vinculada à Casa Civil, que cuidará da relação com os movimentos sociais, responsável pelo diálogo com os movimentos e pela construção de políticas públicas de inclusão social com participação popular.

Também foi solicitado que a polícia tenha um tratamento respeitoso com os movimentos e com a população da periferia.

E, por último, a criação de um comitê de conflitos, com a finalidade de evitar reintegrações de posse no campo e na cidade".

Márcio França (PSB)

"70% da capital vota em mim."

IMPRECISO: Segundo o Datafolha, publicado nesta quinta-feira (18), Márcio França possui 60% dos votos válidos na capital e 56% na capital e na região metropolitana. Já de acordo com o Ibope, França possui 54% das intenções de voto na capital, contra 31% do candidato do PSDB. Como o erro do candidato é maior do que 10% do número total, a declaração é IMPRECISA.

França usou esse argumento para dizer que Doria é rejeitado pela cidade que ele comandou por pouco mais de um ano. De fato, quando o ex-prefeito deixou o cargo, sua reprovação era de 47%, segundo o Datafolha.

"Incentivou financeiramente o PT, apoiou candidatos do PT com dinheiro."

VERDADEIRO: Em 2006, João Doria doou R$ 10 mil como pessoa física para o então candidato a deputado federal pelo PT, José Eduardo Cardozo. Os dados são dos doadores de campanha do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Desta forma, é VERDADEIRA a afirmação dita por Márcio França ao seu opositor. Em uma declaração ao jornal "O Estado de S. Paulo", Doria confirmou a doação: "Também doei para candidatos do PT. Nunca discriminei."

Outra figura para quem Doria também fez doações foi a candidata à Vice-Presidência da República na chapa do petista Fernando Haddad, Manuela D’Ávila (PCdoB). Nas eleições de 2012, quando concorria à Prefeitura de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a Doria Associados Consultoria LTDA, empresa de João Doria, doou R$ 10 mil reais para a campanha de Manuela D'Ávila.

"O coitado [do Bolsonaro] fugiu de você lá no Rio de Janeiro."

VERDADEIRO: João Doria, na última sexta-feira (12), de fato, deixou sua agenda de campanha no estado de São Paulo para viajar ao Rio de Janeiro e visitar o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro. No entanto, o presidenciável não apareceu.

O encontro, que foi divulgado pela assessoria de Doria, foi marcado na casa de Paulo Marinho, aliado de Bolsonaro, às 17h30 daquele dia. O ex-prefeito chegou às 18h, mas não encontrou ninguém. Pouco tempo depois, Marinho, Gustavo Bebianno, presidente do PSL, e Julian Lemos, vice-presidente do partido de Bolsonaro, apareceram e negaram a existência do encontro marcado: "Não tem nenhum encontro marcado entre os dois, não. Existe uma conversa institucional no sentido de o PSL agradecer ao apoio que gentilmente está sendo oferecido pelo candidato João Doria em São Paulo a Jair Bolsonaro", afirmou Bebianno.

Doria, então, deixou o local dizendo que os planos mudaram, porque Bolsonaro se sentiu indisposto.

"Ele [o ex-presidente Lula] emprestou pra você R$ 44 milhões do BNDES para você comprar um jatinho."

VERDADEIRO: A empresa Doria Associados Consultoria LTDA pegou, em 2010, R$ 44 milhões emprestados do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para comprar um jatinho. Em sua campanha para a Prefeitura de São Paulo, em 2016, João Doria declarou ser proprietário de 99% da empresa, portanto, é possível dizer que o ex-prefeito recebeu o empréstimo.

A informação foi descoberta, primeiramente, pelo site Tijolaço. Depois, o Poder 360 confirmou o recebimento do empréstimo.

"Você [Doria] disse que ele [Bolsonaro] era um extremo, que ia ser um desastre para o Brasil."

VERDADEIRO: Doria disse, durante sua campanha eleitoral, que Jair Bolsonaro (PSL) era um "extremismo" e que sua vitória nas eleições presidenciais seriam um "desastre".

Durante sabatina na rádio Jovem Pan, em setembro deste ano, quando perguntado se aceitaria o apoio de Bolsonaro para a campanha do estado, Doria disse: "Não. Agradeço, mas declino, porque não acredito em extremismos, nem de direita e nem de esquerda".

Na mesma entrevista, ainda falando sobre Bolsonaro, Doria disse que não defendia o projeto do deputado: "Acredito que a maioria dos brasileiros não queira isso. Nós precisamos de um país que vai pra frente, que caminhe, que tenha desenvolvimento, crescimento, geração de empregos. Mas não é preciso empunhar armas pra isso e nem é preciso destruir as pessoas, destruir a economia e nem 'venezualizar' o país".

À Bloomberg, em março, Doria defendeu uma aliança dos partidos de centro para evitar um segundo turno entre Ciro Gomes (PDT) e Bolsonaro: "Mesmo que tenhamos um desastre com o Bolsonaro, o Brasil sobreviverá. Somos um país forte".

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