Familiares fazem um minuto de silêncio e inauguram memorial para lembrar cinco anos do acidente da TAM
Familiares e amigos realizaram um minuto de silêncio no começo da noite desta terça-feira (17) para relembrar as vítimas do voo 3054 da TAM, que se acidentou há cinco anos matando 199 pessoas em frente ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Às 18h51, horário exato da explosão do avião contra um prédio da própria companhia, a homenagem foi feita.
Na sequência, foi inaugurada a praça que homenageia as vítimas, batizada de Memorial 17 de Julho, no mesmo local onde o Airbus 320 da empresa se chocou contra o prédio, na avenida Washington Luiz, na zona sul da capital paulista. Uma missa campal também foi celebrada no local pelo bispo de Santo Amaro, Fernando de Antonio Figueiredo. Cerca de 700 pessoas participam dos atos, segundo cálculo da Polícia Militar.
As obras começaram em dezembro do ano passado. Com área total de 8.318 m² e investimento de R$ 3,6 milhões --provenientes da Prefeitura de São Paulo--, a praça tem espaço de convivência e um espelho d’água com os nomes de todas as vítimas, que também são lembradas nas 199 lâmpadas de LED instaladas no local. Também foram colocados 25 postes, com três focos de luz cada um --as luzes estão dispostas de tal forma que fazem um círculo de 360º. A amoreira que resistiu à tragédia é um dos principais símbolos usados no memorial.
A árvore que sobreviveu tem um significado de vida e de resistência de como superar esta tragédia
Para o presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAMJJ3054 (Afavitam), Dario Scott, manter a árvore lembra o apego que se deve ter à vida. “Ali é um solo sagrado. A árvore que sobreviveu tem um significado de vida e de resistência de como superar esta tragédia”, afirma. Para ele, a inauguração do memorial é um marco para a cidade e fará com que as autoridades, as companhias aéreas e as pessoas que trabalham no aeroporto e no entorno nunca esqueçam do que aconteceu. Dario perdeu a filha de 14 anos no acidente.
"O céu de São Paulo está iluminado de novo, mas pelas luzes que representam as 199 vítimas. Eu nunca poderia imaginar que estaria aqui nesta praça com o nome da minha filha", disse Dario no momento da inauguração.
Parentes emocionados
“Se eles morreram na chuva, é na chuva que estaremos para homenageá-los”, afirmou Silvia Masseran Xavier, que perdeu a filha Paula Masseran, que tinha 23 anos, e participa da homenagem. “ O acidente aconteceu em um dia exatamente como este. Uma terça-feira chuvosa. E se, naquele dia, o avião tivesse sido impedido de pousar aqui, nada disso teria acontecido”, lamentou. Silvia afirma que, após o acidente, nunca mais usou o aeroporto de Congonhas.
Entre as causas apontadas pela tragédia está a liberação da pista para pousos mesmo sem o grooving, as ranhuras que facilitam o escoamento da água em dias de chuva.
Silvia, que atua na Afavitam, informa que os familiares estão à procura de patrocinadores para apoiar atividades na praça inaugurada hoje. ''Queremos que este se torne cada vez mais um local de vida."
É um lugar mágico, um local de conforto
Soélen Silva, que perdeu a irmã, sobre o memorial em homenagem às vítimasPara a estudante de enfermagem Soélen Silva, 21, que perdeu a irmã Madalena Silva –que tinha 20 anos e era comissária de bordo da TAM havia dez meses– o memorial é um lugar de conforto. “É um lugar mágico, um local de conforto, onde podemos recordar boas lembranças”, afirmou. Sua família é do Rio Grande do Sul e seu pai, que se mudou para São Paulo, realiza uma “peregrinação” a Congonhas ao menos uma vez por semana.
Já a estudante Roberta Cristina de Sousa, 25, que perdeu o pai Osvaldo Luiz de Sousa –funcionário da TAM que estava no prédio atingido pelo avião– vê a inauguração como um alívio. “É um alívio poder circular aqui, porque é o último local em que ele esteve. É o fim de um ciclo”, afirmou.
Se eles morreram na chuva, é na chuva que estaremos para homenageá-los
Silvia Masseran Xavier, que perdeu a filhaAeroporto "seguro"
O diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marcelo Pacheco dos Guaranys, participa da cerimônia e afirmou aos jornalistas que Congonhas é um aeroporto seguro. "É difícil precisar se é mais ou menos seguro que há cinco anos, mas estamos sempre aprimorando", disse. "Cada tragédia que acontece gera vários ensinamentos para nós, para melhorar nossa regulação.”
Presente na cerimônia, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (SP), lembrou as semelhanças entre o dia de hoje e o dia do acidente. “Foi a maneira que encontramos de sensibilizar autoridades para que as manifestações que foram feitas ao longo desses cinco anos não fiquem em uma prateleira e não sejam perdidas no espaço. A cada momento que alguém passar aqui vai se recordar daquela triste noite.”
Kassab ainda falou de possíveis melhorias no aeroporto de Congonhas. “A Prefeitura de São Paulo protocolou sugestão de um projeto que prolonga a pista para o lado do [bairro do] Jabaquara, trazendo oportunidade de haver mais segurança, além da construção de uma área de escape.”
De acordo com o prefeito, o governo municipal ofereceu uma área que seria desapropriada pela prefeitura caso as entidades entendessem que o local poderia servir como prolongamento da pista. O projeto deve ser analisado pelo governo federal.
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Julgamento
O processo criminal que acusa três pessoas de atentado contra segurança de transporte aéreo pelo acidente da TAM ainda corre em primeira instância no Tribunal Regional Federal de São Paulo. Atualmente, o juiz analisa o processo para despacho e decisão. Após a análise, ele decide se os réus devem continuar ou não a serem julgados.
São acusados a ex-diretora da Anac Denise Abreu, o ex-vice-presidente de Operações da TAM Alberto Fajerman e o ex-diretor de Segurança de Voo da TAM Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro. Castro ainda atua na companhia como piloto.
Denise Abreu, que perdeu o cargo em meio à crise provocada pela tragédia, é acusada de imprudência por ter liberado a pista de Congonhas para pousos mesmo sem o grooving, e sem ter feito "inspeção após o término das obras de reforma nas pistas”. A reportagem não conseguiu contato com o advogado dela para saber qual a estratégia da defesa.
Já em relação aos representantes da TAM, a Procuradoria os acusa de serem negligentes por terem permitido que os aviões da empresa pousassem em Congonhas, mesmo sabendo das condições da pista em dias de chuva. O advogado de Fajerman e Castro, Antônio Cláudio Mariz, diz que eles não têm responsabilidade pelo acidente, pois não cabia a eles autorizarem a aterrissagem na pista. De acordo com Mariz, Fajerman não estava em São Paulo no dia do acidente.
"Assim como o acidente teve uma repercussão nacional, esperamos que o julgamento dos três acusados tenha a mesma visibilidade, para que a justiça seja feita e não haja omissão. Este é um lugar que lembra pessoas que amamos, mas que, acima de tudo, deve servir como um alerta", disse Archelau de Arruda Xavier, vice-presidente da Afavitam e marido de Silvia Masseran Xavier, referindo-se ao memorial.
Indenizações
A TAM informou que já foram fechados acordos com 193 famílias de vítimas, mas não divulga o valor total de indenizações pagas. De acordo com a companhia, foram gastos cerca de R$ 17,3 milhões com as famílias, para cobrir despesas gerais, como hospedagem e alimentação, e cerca de R$ 1,5 milhão em reembolso de despesas gerais.
O acidente
Quando chegou no aeroporto de Congonhas no fim da tarde de 17 de julho de 2007, o Airbus 320 que fazia o voo JJ3054 da TAM, vindo de Porto Alegre, não conseguiu parar, passou por cima da avenida Washington Luiz, que fica em frente ao aeroporto, e se chocou contra um prédio da TAM, explodindo e matando 199 pessoas.
A análise da caixa-preta revelou que os pilotos pousaram com um manete do avião em posição errada, o que manteve a aceleração em um dos motores. As condições da pista e a falta de uma área de escape no aeroporto de Congonhas também contribuíram para o acidente.
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