'Será uma tragédia imensurável', diz mulher cuja família está ilhada no RS
A gaúcha Laura Ferri, 20, conta que sua família está ilhada e incomunicável em Linha Alcântara, área rural da cidade de Bento Gonçalves, por causa das enchentes que atingem o Rio Grande do Sul desde o início da semana. "Minha mãe foi até lá para ajudar meus avós, que já tinham sido atingidos pela enchente de setembro", diz. Agora, sua mãe e seus avós estão ilhados, junto com outras cinco famílias.
O que aconteceu
Queda de barreiras destruiu estradas. Com isso, a mãe de Laura não conseguiu voltar, e a região agora só pode ser acessada via aeronave.
As estradas que ligam a Alcântara estão intransitáveis. Em alguns pontos, nem estrada existe mais. Por SMS, ontem, às 21h30min, minha mãe me avisou que eles estavam bem, que água estava na porta do porão. Só que uma barreira caiu, e eles ficaram ilhados junto com outras cinco famílias
Laura Ferri, moradora de Bento Gonçalves (RS)
Laura diz que é a primeira vez que acontece uma tragédia dessa proporção no local. "São muitas barreiras caídas, que arrastaram casas e deixaram desaparecidos. Não tem nada confirmado, mas na região há três famílias que ninguém sabe onde estão. É muito triste", diz. Na Linha Imaculada, também na zona rural, há muita gente soterrada.
A minha família está ilhada, em situação muito angustiante. Muita gente está sem notícia de parentes, de pais. Não têm nenhum contato
Laura Ferri
O maior medo da população, o rompimento de uma barragem, já começou a acontecer. Na tarde desta quinta-feira (2), o governo do estado informou que a barragem 14 de Julho, entre Cotiporã e Bento Gonçalves, já se rompeu parcialmente.
O colapso da barragem pode piorar rapidamente o cenário de destruição, com o aumento súbito do nível dos rios Taquari e Antas. As famílias da região, incluindo a de Laura, aguardam resgate há dias. Nesta quinta, após o rompimento, a Defesa Civil informou que está "retirando as famílias de áreas de risco que ainda permaneciam nesses locais", mas as famílias relatam que nenhum helicóptero chegou até agora.
Será uma tragédia imensurável. É por isso que há pressa, necessidade de tirá-los de lá o quanto antes. Ontem a água estava na porta do primeiro piso, eles estão no segundo. Pode ficar muito pior
Laura Ferri
Vinte e uma pessoas já perderam a vida em decorrência das chuvas no estado. Vários municípios estão incomunicáveis, sem acesso por terra e com escassez de água e alimentos. Há pessoas soterradas e ilhadas em cima telhados, na espera por socorro. Na Serra Gaúcha, há risco de desabastecimento de combustíveis, já que os caminhões carregados não conseguem chegar aos municípios
"Um cenário catastrófico", afirma empresária
"Está terrível, um cenário catastrófico", diz empresária. Morgana Casonatto conta que a serra está isolada e que há devastação por todos os lados.
Onde eu moro, em Garibaldina, entre Bento Gonçalves e Garibaldi, tudo está desmoronando tudo. Onde eu resido não tem enchente, mas ela já está a 150 metros aqui. Onde a água alcança, leva tudo embora
Morgana Casonatto, de Garibaldina
Bombeiros voluntários, militares, polícia militar e moradores da região se unem em solidariedade. Muita gente tenta ajudar, mas há regiões inacessíveis no interior. "Em localidades como Alcântara e Faria Lemos, a destruição total. Elas estão isoladas de todas as formas", relata Morgana.
Há risco de desabastecimento de combustível e até de alimentos. "Há postos com pouca reserva. E é o que tem, porque não há acesso de caminhões carregados. Então a prioridade é abastecer veículos de segurança e de resgate", diz.
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Quero receberEm Porto Alegre, 150 famílias estão fora de casa na Ilha do Pavão
Rio Guaíba começou a subir e desalojar famílias em Porto Alegre na quarta-feira (1º). É o que conta Sandra Ferreira, moradora da Ilha do Pavão e presidente da Associação dos Moradores da localidade, uma das mais pobres do bairro Arquipélago.
Eu moro às margens do rio, fui uma das primeiras a sair. Essa, sem dúvida, já é maior que a do ano passado. A água está subindo rápido e os moradores estão em abrigos e em casa de parentes
Sandra Ferreira, presidente da Associação dos Moradores da Ilha do Pavão, Porto Alegre
Ela diz que, mesmo com todos os prognósticos negativos, há quem se negue a deixar a região. "Há pessoas acampadas na beira da rodovia, não tem quem consiga tirá-los de lá. Eu já estou rouca pedindo para que saiam, que vão para lugar seco, mas não adianta", afirma.
O posto de saúde do bairro e a própria associação estão debaixo d'água, de acordo com ela. "Ontem, quando o vento virou, por volta das 20h30, a água veio. Começou a represar, e aí ninguém segura mais", conta.
Sempre que há cheia do Guaíba, os moradores são atingidos, mas a presidente da associação afirma que desta vez é diferente. "Eu não me acostumo nunca com esse cenário. Acredito que um dia a situação mude. Desta vez, estou bem apavorada".
Relatos de conhecidos seus na cidade de Arroio dos Ratos, na região Carbonífera, descrevem um cenário também preocupante. "O clima mudou muito, e não sabemos como será daqui alguns dias", diz Sandra.
"O Vale do Taquari está irreconhecível"
Morador do centro de Lajeado, no Vale do Taquari, Teodoro Schneider, 46, diz que a cheia é histórica. Há água por todos os lados. "Aqui em casa, nunca tinha visto a água chegar. Agora já está até no primeiro andar do hospital da cidade. Estamos com medo, é muito estrago em todas as cidades da região. O Vale do Taquari está irreconhecível", lamenta.
Em Estrela, cidade vizinha, o hospital removeu todos os pacientes graves para casas de saúde da região, pois falta energia elétrica. A pequena cidade está incomunicável desde segunda-feira. Além de não ter energia, os moradores estão sem água.
Só Deus para nos ajudar. Recém nos recuperamos de uma enchente, já veio outra. Tenho amigos em Relvado --lá tem três pessoas desaparecidas, e a cidade só tem cerca de 2.000 habitantes
Teodoro Schneider, de Lajeado
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