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Acusação compara Cepollina a Pimenta Neves; se condenada, ré poderá recorrer em liberdade

Assistente da acusação concede entrevista à imprensa no último dia de julgamento, realizado no Fórum Criminal da Barra Funda - J. Duran Machfee/Futura Press
Assistente da acusação concede entrevista à imprensa no último dia de julgamento, realizado no Fórum Criminal da Barra Funda Imagem: J. Duran Machfee/Futura Press

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

07/11/2012 11h49

Recomeçou, por volta das 11h15 desta quarta-feira (7), o julgamento da advogada Carla Cepollina, 47, pela morte do coronel da reserva da Polícia Militar Ubiratan Guimarães, em 2006. Antes de entrar no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, o advogado Vicente Cascione, que auxilia o promotor João Carlos Calsavara na acusação, disse que a ré "vai virar uma Pimenta Neves", referindo-se ao jornalista condenado pela morte da namorada Sandra Gomide e afirmando que, mesmo que seja condenada, Cepollina poderá recorrer em liberdade.

"Ela tem o direito de recorrer em liberdade e vai virar uma Pimenta Neves. A lei diz que, havendo uma condenação, já que a ré respondeu ao processo solta, terá o direito de recorrer em liberdade", disse Cascione.

Acusado pela morte da jornalista Sandra Gomide em 2000, Antônio Marcos Pimenta Neves conseguiu liberdade provisória para aguardar o julgamento, que ocorreu apenas em 2006. Na ocasião, Pimenta Neves foi condenado pelo júri popular, mas recorreu da decisão em liberdade e foi preso apenas em 2011.

Cepollina também aguardou seu julgamento em liberdade. Para o Ministério Público, a ré, que era namorada do coronel, o matou por ciúmes. Ubiratan morreu na noite do dia 9 de setembro de 2006 com um tiro no abdome, em seu apartamento, nos Jardins (zona oeste).

A ré é acusada de homicídio duplamente qualificado (por motivo fútil e mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima). Se for condenada, Cepollina poderá pegar de 12 a 30 anos de prisão.

O julgamento foi retomado nesta quarta e já está em sua fase final, de debates entre acusação e defesa, momento em que as partes falam diretamente aos jurados por uma hora e meia cada. Após essa etapa, a promotoria poderá pedir a réplica e, a defesa, a tréplica (uma hora de duração cada). Depois, os jurados deverão se reunir para decidir se condenam ou absolvem a ré e, então, o juiz dará a sentença.

O debate começou com a argumentação do promotor Calsavara. Ele lembrouo o comportamento de Cepollina durante o julgamento, na tentativa de mostrar o temperamento explosivo e arrogante da ré. "Ela foi retirada do tribunal porque respondeu à testemunha. Depois, pediu para ser chamada de doutora", disse. "Mas, em seu depoimento, ela quer mostrar um perfil que não tem."

Provas

Cepollina encerrou seu depoimento na terça-feira (6) reafirmando que não matou o coronel Ubiratan e que não há provas contra ela. "Todo crime deixa um rastro. A acusação não tem nenhuma prova científica contra mim. Eles têm uma história de quinta categoria, que não conseguem provar, apesar dos laudos adulterados e da sacanagem que fizeram comigo", disse.

De acordo com o advogado Cascione, o horário do telefonema atendido por Cepollina na noite do crime é a principal prova contra ela. “Segundo depoimentos de testemunhas, o tiro foi dado entre as 19h e as 19h30. E ela ficou no apartamento até as 20h26, que foi quando atendeu um telefonema da Renata [delegada que estava tendo um caso com o coronel e teria motivado o crime por ciúmes]. O erro foi ela ter atendido esse telefonema. Nos depoimentos iniciais ela negava que tivesse ficado no apartamento”, disse.

Para Cascione, Cepollina ficou por mais de hora no imóvel recebendo orientações de sua mãe --Liliana Prinzivalli, sua advogada no júri. “Provavelmente preparando a cena para quando a Renata chegasse. Mas ela não sabia que a Renata estava em Belém do Pará, e não em São Paulo”, disse Cascione.

O corpo do coronel foi encontrado às 22h30 do dia 10 de setembro de 2006, mas, segundo as investigações, a morte ocorreu entre as 19h05 e 20h27 do dia 9. De acordo com o depoimento que Renata deu à época do crime, por volta das 19h do dia 9 ela recebeu um torpedo enviado pelo celular de Ubiratan com a seguinte mensagem: “Me abandonou?”. Ela, que estava morando em Belém, respondeu: “Estou chegando em casa e já te ligo. Tá onde?”; depois, contou que recebeu a seguinte resposta do mesmo celular: “Com a minha namorada”.

Renata, então, afirma que telefonou para o celular de Ubiratan, e Cepollina teria atendido a ligação e entregue o aparelho para o coronel. Segundo Renata, o coronel confirmou que as mensagens não tinham sido escritas por ele e ficou de retornar a ela mais tarde. Cerca de uma hora e 20 minutos depois, Renata teria ligado para o telefone do fixo do apartamento do coronel e Cepollina teria atendido dizendo que Ubiratan não podia falar porque eles estavam “quebrando o pau”.