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Igreja de Florianópolis cancela missas em meio à onda de violência; padre temeu "pânico generalizado"

Janaina Garcia

Do UOL, em Florianópolis

17/11/2012 22h52

"Deus nos abençoe e nos proteja". A frase encerra um comunicado afixado no mural do Santuário Sagrado Coração de Jesus, igreja localizada no Bairro dos Ingleses, área de classe média ao norte de Florianópolis. As missas no local foram suspensas na última quarta-feira (14), por conta da onda de violência que atinge Santa Catarina, e devem ser retomadas na noite deste domingo (18).

Os suspeitos dos atos de violência têm agido em ao menos 15 cidades de Santa Catarina principalmente por meio de ataques a ônibus do transporte coletivo e a prédios de órgãos ligados a segurança pública. Um desses casos foi justamente em frente à igreja, na quarta, quando um ônibus que transportava fiéis foi tomado e incendiado por dois adolescentes minutos antes da missa das 20h.

O cancelamento das missas também acabou deixando para o ano que vem o Cerco de Jericó, evento anual que atrai católicos da capital catarinense e de outras cidades do Estado ao santuário. Com quatro missas diárias ao longo de oito noites --às 3h, 9h, 15h e 20h --, o encerramento do Cerco seria hoje após meses de preparação, dizem os organizadores.

De acordo com o padre Mário José Raimonde, responsável pelo santuário e por uma comunidade eclesiástica de cerca de 60 mil pessoas, a decisão de suspender as missas ocorreu no mesmo dia do ataque que antecedeu a celebração."Só não foi pior", lembra ele, "porque os bandidos atearam fogo no ônibus no lado da rua oposto à igreja. Se é do nosso lado, acabava a energia e seria um pânico generalizado. Imagina mais de 2.000 pessoas em uma situação dessas?", argumenta.

O incêndio citado pelo religioso foi o segundo e último registrado no bairro, que é marcado pela atividade turística pujante, na parte mais próxima das praias, e pela presença de moradias mais simples, ruas estreitas e mesmo uma favela na parte mais interna --a favela do Siri, onde policiais realizaram uma operação logo após os primeiros ataques. Ao todo, dois ônibus foram incendiados no Bairro dos Ingleses desde a última terça (13).

"As autoridades dizem que as coisas estão se normalizando, mas o que vemos no bairro são pessoas ainda com muito medo. Temos que ter cautela, sim, mas também discernimento de ver que, de fato, o cenário não está assim tão calmo", afirmou o religioso. O fogo no ônibus, citou, acabou atingindo também dois carros e uma moto de fiéis que estavam na igreja e estacionaram na rua.

Apesar da sensação de insegurança gerada pelo ataque ao coletivo, Raimonde se diz "otimista" para que a situação na cidade se normalize "em um curto prazo". "Essa onda de violência nos foi algo surpreendente. Talvez por isso mesmo, tenho esperanças de que ela termine logo", afirma.

Ataques na madrugada

Nesse sábado, o comandante da Polícia Militar em Santa Catarina, coronel Nazareno Marcineiro, disse em entrevista à Rede Globo que a madrugada de sexta para sábado havia sido "mais tranquila". "A tendência é voltar à normalidade muito em breve", disse. Na madrugada, haviam sido registrados novos ataques a bases da PM e da Guarda Civil na capital e região metropolitana. Ainda na Grande Florianópolis, veículos da polícia foram atingidos em São José, enquanto que, em São Francisco do Sul, homens armados pararam um ônibus e atearam fogo.

Já a Polícia Civil trabalha com duas linhas principais de investigação: a possibilidade de os ataques estarem vinculados a organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas e a possibilidade de ações de bandidos oportunistas que possam estar por trás dos ataques no Estado.