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"Foi um privilégio ter a presença de Niemeyer nas nossas vidas", diz Ziraldo

Lucas Lacaz/Folhapress
Imagem: Lucas Lacaz/Folhapress

Guilherme Balza e Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

05/12/2012 22h29Atualizada em 06/12/2012 14h40

O cartunista Ziraldo Alves Pinto, amigo do arquiteto Oscar Niemeyer, morto na noite desta quarta-feira (5) aos 104 anos, afirmou, em entrevista ao UOL, que se sente privilegiado por ter estado ao lado do arquiteto em sua trajetória.

"Para minha geração, para meus amigos, para o pessoal que combateu as coisas que a gente combateu, foi um privilégio ter a presença de Niemeyer nas nossas vidas", disse.

"Não ouvi falar dele: eu vi, o entrevistei quatro vezes. A presença dele é enorme na minha vida. Tive a felicidade de conviver com ele, viajar com ele. Foi uma coisa que deu muito sentido na minha vida", acrescentou Ziraldo, que não sabia da morte do amigo quando a reportagem o procurou.

"Agora vou ligar com os amigos e conversar. Hoje mesmo, há alguns minutos, estava conversando com o Zuenir [Ventura, escritor] sobre ele. A gente já estava esperando que acontecesse", disse o cartunista.

Ziraldo afirmou que, em 1930, quando o "mundo não sabia qual rumo iria tomar, ele [Niemeyer] já era adulto". "Quando o Noel Rosa nasceu, ele já era adulto. Ele atravessou o século."

"Nenhum substituto"

Para o arquiteto e crítico Guilherme Wisnik, Niemeyer não deixa "nenhum substituto", tampouco "nenhuma escola". "Foi um artista único, que foi decisivo para a formação de um Brasil moderno e internacionalmente conhecido", disse ele, que cita o arquiteto como um dos três panteões da arte brasileira, ao lado de Aleijadinho e João Gilberto.

Mas, mesmo sendo "único e insubstituível", Niemeyer deixa um legado para a futura geração de arquitetos no Brasil. "A criação de obras guiadas pelo sentido de invenção, desejo e liberdade, até porque ele nunca se acomodou em restrições de normas e burocracias. Um ideal de um mundo melhor", apontou Wisnik.  "O arquiteto foi um dos grandes artistas do século 20", completou.

Ícone da arquitetura moderna

O arquiteto Oscar Niemeyer, ícone da arquitetura moderna e um dos brasileiros mais reconhecidos no mundo, morreu nesta quarta-feira (5), aos 104 anos. Ele estava internado há 33 dias no Hospital Samaritano, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, por causa de uma infecção urinária. Ele também teve uma infecção respiratória e respirava com a ajuda de aparelhos.

Niemeyer foi um dos principais expoentes da arquitetura moderna e projetou o Brasil internacionalmente. O carioca ganhou reconhecimento a partir da exploração das possibilidades plásticas e construtivas do concreto armado, produzindo obras grandiosas e inventivas, marcadas pelo abuso de curvas em detrimento das linhas e ângulos retos.

Suas obras --prédios públicos e privados, monumentos, esculturas e igrejas-- marcam a paisagem das principais cidades brasileiras e espalham-se por vários países do mundo, como Estados Unidos, França, Espanha, Alemanha, Itália, Argélia, Israel e Cuba, entre outros.

Niemeyer projetou grande parte das obras de Brasília, entre elas a praça dos Três Poderes, os prédios do Congresso Nacional, do STF (Supremo Tribunal Federal) e o Palácio do Planalto.

Em São Paulo, projetou o Memorial da América Latina, o edifício Copan e as construções do Parque do Ibirapuera; no Rio, concebeu o Museu de Arte Contemporânea de Niterói e a Marquês de Sapucaí; em Belo Horizonte, projetou todo o Conjunto Arquitetônico da Pampulha.

O arquiteto desenhou também esculturas e mobílias, escreveu livros e, depois do centenário, lançou até um disco de samba. Marxista convicto, militou no PCB (Partido Comunista Brasileiro) durante várias décadas, mudou-se para a França durante a ditadura militar e manteve amizade com Luís Carlos Prestes e Fidel Castro.