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Oscar Niemeyer é velado em Brasília; Dilma decreta luto oficial de sete dias

Do UOL, em São Paulo*

06/12/2012 16h07Atualizada em 06/12/2012 18h22

O corpo do arquiteto Oscar Niemeyer chegou por volta das 15h45 ao Palácio de Planalto, onde será velado até a noite desta quinta-feira (6). Niemeyer morreu na quarta-feira (5), aos 104 anos, no Rio de Janeiro.

Na chegada ao Palácio, o corpo de Niemeyer foi recebido pela presidenta Dilma Rousseff, que decretou luto oficial de sete dias pela morte do arquiteto.

Durante o luto oficial, a bandeira nacional é hasteada a meio mastro em todas as repartições públicas do governo que a decretou (federal, estadual ou municipal). Além disso, coloca-se um laço de crepe na ponta da lança se ela estiver sendo conduzida em alguma cerimônia.

Dilma ficou ao lado da viúva do arquiteto, Vera Niemeyer, e deixou o local por volta das 16h15, acompanhada da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

O corpo saiu do Rio às 13h, chegou à Base Aérea de Brasília por volta de 14h20 e passou em cortejo pelo Eixo Rodoviário e pelo Eixo Monumental, duas das principais vias de Brasília.

O Salão Nobre do Palácio, onde Niemeyer está sendo velado, ficará aberto ao público até as 20h. Mais de 30 coroas de flores foram mandadas para a cerimônia de despedida enviadas, por exemplo, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Antônio Anastasia e pelos governadores Sérgio Cabral (Rio de Janeiro) e Agnelo Queiroz (Distrito Federal).

Entre as autoridades que acompanham o velório estão o vice-presidente Michel Temer, os presidentes do Senado, José Sarney, e da Câmara dos Deputados, Marco Maia; do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa; e os governadores Jaques Wagner (Bahia),  Agnelo Queiroz (Distrito Federal) e Renato Casagrande (Espírito Santo).

Além deles, os ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Miriam Belchior (Planejamento), Aloizio Mercadante (Educação), Helena Chagas (Comunicação), Antonio Patriota (Relações Exteriores), e José Eduardo Cardozo (Justiça) estão presentes ao velório

Os senadores Eduardo Suplicy e Pedro Simon também estão presentes ao velório

Roberto Freire, presidente do PPS, o senador Inário Arruda (PCdoB), deputado Rubens Bueno (PPS) também estão presentes no velório.

Um grupo de cerca de 200 pessoas recebeu o corpo de Niemeyer na praça dos Três Poderes, em frente à rampa do Palácio do Planalto.

No início da manhã, Niemeyer foi levado em cortejo de volta ao Hospital Samaritano, em Botafogo, zona sul da capital, onde o carioca morreu na noite de ontem (5). Ele estava internado desde o dia 2 de novembro, vítima de complicações renais e desidratação.

Segundo o neurocirurgião Paulo Niemeyer, sobrinho de Oscar Niemeyer, a própria presidente Dilma Rousseff entrou em contato com a família e ofereceu o Palácio do Planalto como local para velar o corpo do arquiteto. A capital federal é considerada a maior realização de Niemeyer.

O enterro deve ocorrer na sexta-feira (7) à tarde, no cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, esteve no hospital Samaritano prestando os pêsames à família. Segundo ele, após o velório na capital federal, o corpo de Niemeyer retornará ao Rio e será velado no Palácio da Cidade, sede da prefeitura, em Botafogo, que ficará aberta à visitação pública.

Paes decretou luto oficial de três dias na cidade.

O Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) fez hoje um minuto de silêncio em memória do arquiteto. A homenagem, a pedido do governo brasileiro, serviu para lembrar o prêmio Unesco que ele recebeu em 2001, na categoria Cultura. Niemeyer participou da concepção da sede das Nações Unidas em Nova York, matriz da Unesco e projeto de seu mestre, Le Corbusier.

Infecção respiratória

O médico intensivista e clínico Fernando Gjorup, que nos últimos anos foi o médico do arquiteto, disse que Niemeyer morreu às 21h55 ao lado membros da família, entre eles netos e sobrinhos.

"De ontem para hoje, o paciente apresentou uma piora. Os exames de sangue já vinham mostrando isso. Hoje pela manhã, o estado de saúde piorou ainda mais e ele precisou da ajuda de aparelhos para respirar", disse Gjorup ontem (5).

Muito abalado, o médico declarou que o arquiteto morreu vítima de infecção respiratória.

Gjorup declarou ainda que Niemeyer, neste último mês, onde ficou internado por 33 dias no Hospital Samaritano, nunca falou em morte, sempre falou da vida. "Ele teve que ser entubado e ventilado por aparelho e à noite ele não tolerou e veio a falecer".

Vida e obra

Niemeyer foi um dos principais expoentes da arquitetura moderna e projetou o Brasil internacionalmente. O carioca ganhou reconhecimento a partir da exploração das possibilidades plásticas e construtivas do concreto armado, produzindo obras grandiosas e inventivas, marcadas pelo abuso de curvas em detrimento das linhas e ângulos retos.

Suas obras --prédios públicos e privados, monumentos, esculturas e igrejas-- marcam a paisagem das principais cidades brasileiras e espalham-se por vários países do mundo, como Estados Unidos, França, Espanha, Alemanha, Itália, Argélia, Israel e Cuba, entre outros.

Niemeyer projetou grande parte das obras de Brasília, entre elas a praça dos Três Poderes, os prédios do Congresso Nacional, do STF (Supremo Tribunal Federal) e o Palácio do Planalto.

Considerado um revolucionário e um dos pais do modernismo na arquitetura, Niemeyer, um comunista ferrenho, seguiu trabalhando até praticamente o fim de seus dias.

Em São Paulo, projetou o Memorial da América Latina, o edifício Copan e as construções do Parque do Ibirapuera; no Rio, concebeu o Museu de Arte Contemporânea de Niterói e a Marquês de Sapucaí; em Belo Horizonte, projetou todo o Conjunto Arquitetônico da Pampulha.

O arquiteto desenhou também esculturas e mobílias, escreveu livros e, depois do centenário, lançou até um disco de samba. Marxista convicto, militou no PCB (Partido Comunista Brasileiro) durante várias décadas, mudou-se para a França durante a ditadura militar e manteve amizade com Luís Carlos Prestes e Fidel Castro.

Últimos anos

A mulher do arquiteto, Annita, morreu em 2004; dois anos depois, Niemeyer casou-se com Vera Lúcia, que era sua secretária.

Em 2007, ao completar cem anos, Niemeyer recebeu diversas homenagens e foi tema de muitas exposições e eventos. No ano seguinte, fundou no Rio a revista "Nosso Caminho". Dois anos depois, aventurou-se no mundo da música, com o disco de samba de raiz "Tranquilo com a Vida", gravado em parceria com seu enfermeiro Caio Almeida e com o músico Edu Krieger.

Também em 2008 foi inaugurada uma escultura do brasileiro em homenagem ao povo cubano na Universidade de Ciências Informáticas de Havana, um presente de Niemeyer ao líder Fidel Castro.

Em 25 de março de 2011, foi inaugurado em Avilés, na Espanha, o Centro Cultural Oscar Niemeyer, mas o espaço foi fechado nove meses depois, por determinação do governador da província. O fechamento irritou Niemeyer e provocou protestos na cidade.

No dia 8 de fevereiro de 2012, em sua última grande aparição em público, o arquiteto acompanhou a inauguração do sambódromo do Rio, que havia passado por reformas de ampliação e adequação da obra ao projeto original. Na ocasião, foi aplaudido por operários da obra e agradeceu: "Estou muito feliz. Essa obra não é só minha, é do grupo que trabalha comigo. Estou muito contente e entusiasmado em ver um trabalho como esse, que foi feito para alegrar o povo."

Niemeyer deixa uma filha netos, bisnetos e trinetos. Sua filha, Anna Maria, morreu em junho, aos 82 anos, por complicações decorrentes de um enfisema pulmonar.

(com informações da Agência Brasil)