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Haddad quer ricos e pobres morando no mesmo lugar para 'resolver' trânsito em São Paulo

Fabiana Uchinaka e Karina Yamamoto

Do UOL, em São Paulo

27/02/2013 06h00

A resposta para o histórico problema do trânsito na cidade de São Paulo vai muito além da construção de corredores de ônibus, embora 150 quilômetros tenham sido prometidos em campanha, da recuperação da rede de semáforos da capital e da modernização da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Pelo menos é assim que pensa o prefeito Fernando Haddad (PT), que, em entrevista exclusiva ao UOL nesta terça-feira (26), disse apostar na ocupação do centro da cidade, com moradores de todas as classes sociais, como solução para os megacongestionamentos e a superlotação do transporte público.

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A lógica, segundo ele, é aproximar os paulistanos de seus locais de trabalho, e vice-versa.

"Nós vamos lançar com o governo do Estado no âmbito do Minha Casa, Minha Vida [programa federal de habitação] uma parceria para a construção de 20 mil unidades habitacionais no centro de São Paulo para todas as classes sociais", disse Haddad.

"Ou seja, queremos um centro representativo de todas as camadas sociais da cidade: pessoas de classe média, trabalhadores, pessoas mais pobres, mais ricas. Queremos um centro plural."


Se a iniciativa der certo, a prefeitura conseguiria repovoar o Centro e evitar que um grande contingente de trabalhadores se desloque usando carros, o que aumenta o trânsito, ou o transporte coletivo, que está superlotado.

"Vou colocá-lo [o trabalhador] do lado do seu emprego e ele então vai a pé para o trabalho. Se eu levar o emprego para a periferia, vai acontecer a mesma coisa. Vou tirá-lo das vias e transportá-lo para as calçadas ou para a bicicleta", afirmou.

Para Haddad, a verticalização que tomou conta de São Paulo nos últimos anos é um problema quando ela afeta negativamente a dinâmica da cidade, ou seja, quando grandes prédios abrigam famílias com três ou quatro carros, que não usam transporte coletivo e provocam trânsito.

"Mas há outras forma de fazer, por exemplo, quando você leva o morador para o bairro e oferece uma estrutura de transporte público", ressalta. "Isso significa mixar os bairros, transformá-los em pequenas cidades, onde você tem o comércio, o serviço, o morador de alta renda e o trabalhador que atua ali. É distribuir melhor."

E a gente diferenciada?

Questionado se a elite paulistana estaria preparada para essa mistura social e para a necessidade de ceder espaço para a periferia, uma vez que a proposta de uma estação de metrô no bairro de Higienópolis, no centro, provocou em 2011 forte reação dos moradores da região e fez surgir a expressão "gente diferenciada", o prefeito respondeu que não tem como "agradar a 100% das pessoas".

"A melhor coisa do mundo é quando você convive. Não vou dizer que vai agradar a 100% das pessoas. Tem pessoas que têm visão elitista, que têm demofobia [aversão ao povo ou a multidões], têm medo do povo, mas não é assim que se produz uma grande cidade. Uma grande cidade é aquela que acolhe seus moradores de maneira equilibrada", falou.

Por fim, ele completou: "Nós não estamos querendo favelizar o centro, nem elitizar. Nós estamos querendo transformar o centro em uma cidade agradável para todo mundo."