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Catarinenses desconfiam que números divulgados pela PM sobre ataques são 'maquiados'

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

28/02/2013 16h21

Autoridades da segurança pública de Santa Catarina confundiram a população após a mudança no critério de contagem dos ataques ocorridos desde o último dia 30 de janeiro no Estado. Moradores têm afirmado, em entrevistas a órgãos de imprensa, estarem desconfiados de que os números estão sendo “maquiados”. Oficialmente, houve 113 ataques em 37 cidades nos últimos 30 dias. A população diz acreditar que pode haver bem mais.

Segundo o especialista em segurança pública Eugênio Moretzsohn, treinado na Abin (Agência Brasileira de Investigações), o governo "errou ao mudar as regras (da comunicação) no meio do jogo".

Ele disse que "em novembro já se tinha vivido uma situação semelhante, então era de esperar que as autoridades tivessem desenvolvido um modelo (de informações à sociedade)".

Desde o dia 18, o governo mudou o jeito de contar incidentes, separando aqueles que bota no conta da facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense) dos atribuídos a vandalismo, neste caso a maioria dos ataques incendiários a veículos e prédios. Nesta madrugada, até o incêndio de um ônibus em Joinville ficou fora da contagem oficial.

"Nenhuma situação de crise como esta vivida por Santa Catarina pode produzir ataques num dia e nada no outro", disse o criminologista Sandro Sell. Ele acha que o governo "está faltando com a verdade" na divulgação dos números.

O diretor da Secretaria de Comunicação de Santa Catarina, Cláudio Thomas, disse que houve uma mudança no critério no dia 18, quando começaram a ser separados os ataques do PGC daqueles atos de vandalismo puro, cometidos por gente sem relação com a facção criminosa". 

Casos são investigados

  • Guto Kuerten/Estadão Conteúdo

    PM e demais órgãos de segurança de Santa Catarina investigam se um Fusca achado queimado em Florianópolis na manhã desta quinta-feira (28) tem relação com a série de atentados em Santa Catarina desde 30 de janeiro

Falsa sensação

Segundo a tenente-coronel Claudete Lehmkuhl, do Centro de Comunicação da PM, "a simples divulgação de tudo, sem critério, acabou criando uma falsa sensação de insegurança na população".

A mudança no método de comunicação coincidiu com uma entrevista do governador Raimundo Colombo (PSD) em que ele admitiu que mentiu à imprensa sobre as operações da  FNS (Força Nacional de Segurança) e da Deic (Diretoria de Investigações Criminais, da Polícia Civil).

A mudança se deu também depois que o governo reagiu aos ataques do crime organizado com o apoio da FNS. Nos dias 15,16 e 17 as autoridades ocuparam sete presídios, transferindo para cadeias federais fora do Estado 40 presos (37 do PGC e três do PCC, Primeiro Comando da Capital, de São Paulo).

Numa ação simultânea, a Deic da Polícia Civil começou a prender 93 pessoas suspeitas de ligar o PGC com seus comparsas nas ruas, estes responsáveis pelos ataques.

Equipe de avaliação

Segundo a Polícia Militar, desde então as ocorrências somente estão sendo divulgadas como atentados depois de passar por uma equipe de avaliação, integrada por peritos e oficiais de inteligência, para comprovação se realmente integram a onda de ataques.

O diretor da Secom disse que os números de incêndios criminosos (que ocorrem todos os dias, independentemente das ondas de violência) provam a tese (sobre atos de vandalismo).

“Em 2012 foram 33 em janeiro, 55 em fevereiro e 43 em março. Porém, nos meses de ataques tivemos pico de 97 ataques, logo, se os números baixaram ao patamar anterior, fica evidente que aqueles eram atos de vandalismo."