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Liminar do TRT determina que pelo menos 80% dos ônibus circulem no Rio durante greve

Do UOL, no Rio de Janeiro

01/03/2013 17h56Atualizada em 01/03/2013 20h27

O Sintraturb (Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus do Rio de Janeiro) terá que disponibilizar pelo menos 80% da frota de ônibus a partir deste sábado (2), segundo liminar deferida pela desembargadora do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) Rosana Salim, na tarde desta sexta-feira (1º).

Se a decisão não for cumprida, o Sintraturb --que é vinculado à NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores)-- estará sujeito a multa diária de R$ 200 mil, além de indiciamento na esfera criminal por desobediência. Na versão dos rodoviários, dos 8.800 ônibus que circulam diariamente pelo Rio de Janeiro, cerca de 800, isto é, 10% da frota, saíram das garagens hoje, primeiro dia de paralisação da categoria.

"Os sérios transtornos causados à população justamente na data comemorativa de aniversário da cidade do Rio de Janeiro são evidentes, impedindo milhares de trabalhadores de chegar aos seus postos de trabalho e outros tantos de retornar às suas casas, após o cumprimento do exaustivo labor noturno", afirmou a magistrada. A greve acontece justamente na data em que a capital fluminense completa 448 anos e no dia em que a presidente da República, Dilma Rousseff, cumpre agenda no Rio.

Procurado pela reportagem do UOL, o presidente do Sintraturb, José Carlos Sacramento de Santana, declarou que a decisão judicial não representa o fim da greve. "Ainda temos os 20%", disse ele.

Segundo Santana, o sindicato ainda não tomou conhecimento do teor da liminar, mas pretende cumprir qualquer decisão que seja tomada pela Justiça trabalhista. Novas deliberações só deverão ocorrer na próxima assembleia da categoria, que será realizada na segunda-feira (11).

Mais cedo, o Rio Ônibus (Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro) afirmou que 170 veículos foram depredados por grevistas. Nove motoristas que não aderiram à paralisação teriam sido agredidos.

Em nota, a representação patronal afirmou que a liminar deferida pelo TRT é uma "decisão acertada", tendo em vista a Lei de Greve (nº 7.783).

Secretário critica greve

O secretário de Transportes do Rio de Janeiro, Carlos Roberto Osório, criticou a greve desta sexta-feira (1). "O Rio viveu nesta sexta um dia de extrema dificuldade. O que ocorreu hoje foi muito grave. Os rodoviários são uma categoria importante e que merece respeito, mas não podemos deixar a população refém do movimento grevista", afirmou.

Segundo ele, as empresas concessionárias foram notificadas pela prefeitura por conta de interrupção do serviço. Osório prometeu autuá-las "pelos transtornos".

Assembleia

O Sintraturb-Rio decidiu, em assembleia no início da tarde, prolongar a paralisação de ônibus, que começou à 0h desta sexta e tinha previsão de durar 24 horas.

Para o Sintraturb, só há um caminho: negociar em juízo. Os trabalhadores têm a expectativa de que os dois lados sejam convocados, ainda na tarde desta sexta, para conversar a respeito do reajuste salarial.

Oferta para furar greve

Motoristas e cobradores de ônibus que trabalham em linhas que atendem a Central do Brasil, no Rio de Janeiro, afirmaram que as empresas de ônibus oferecem R$ 100 para os funcionários que trabalharem em dia de greve. Eles preferiram não se identificar para não sofrerem represálias.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Rio Ônibus (Sindicato das Empresas de Ônibus do Rio) informou que não reconhece a informação de há tentativa de suborno para funcionários não entrarem em greve e diz que é "improcedente e falsa".

Um dos motoristas, que trabalha na linha 315 (Central-Recreio), chegou ao local para trabalhar, mas depois de conversar com colegas que estavam por lá, desistiu. "Vou para casa, vou aproveitar a sexta-feira", disse. Segundo ele, dos 32 ônibus que atendem à linha, apenas dois estavam circulando.

Já um cobrador que também preferiu não dizer o nome afirmou que estava esperando para começar a trabalhar e disse que o trajeto de casa até o trabalho foi melhor nesta sexta. "Vim melhor, porque eu vim de trem. Eu moro em Engenho de Dentro e venho de ônibus, mas hoje optei pelo trem e cheguei mais rápido", contou.

Transtornos

A paralisação causa transtornos na cidade desde a noite de quinta (28), quando foi decretada em assembleia da categoria. Motoristas e cobradores de ônibus bloquearam a avenida Brasil (uma das vias mais importantes da cidade) em protesto, por volta das 21h, o que causou lentidão no trânsito na altura do bairro de Guadalupe, zona norte da cidade.

Nesta manhã, sem ônibus nas ruas, passageiros se aglomeraram nos pontos. Muitos acabaram recorrendo às vans, que têm circulado lotadas. Multidões fazendo longos percursos a pé formam o cenário carioca desta sexta. Táxis fazem viagens lotados, cobrando às vezes R$ 20 por passageiro.

Com greve, ônibus clandestinos circulam livremente pelo Rio

O secretário de Transportes afirmou que a população deve denunciar os abusos pelo telefone 1746.

A Secretaria Municipal de Transportes e a CET-Rio informatam que os corredores do BRS estão liberados para embarque e desembarque de passageiros de táxis.

No Twitter, usuários se queixam das dificuldades que têm tido para se deslocar na cidade. O internauta AJ Júnior (@ajrodriguezjr) desabafou: "Greve de ônibus, caos no metrô, vans lotadas. Assim começa a sexta-feira". Alice Tattianna (@alicetatianna) postou: "Depois de 50 minutos parada no ponto, eu descubro que os ônibus estão em greve".

Os estudantes foram dispensados em 76 escolas da rede pública. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, seis colégios funcionam parcialmente, pois há funcionários que não conseguiram chegar ao local de trabalho.

Exigências

Os trabalhadores exigem aumento salarial, o fim da dupla função (quando o mesmo funcionário atua como motorista e cobrador), vale-alimentação, cesta básica e plano de saúde. A Rio-Ônibus, entidade patronal, oferece 8% de reajuste.

O salário atual do motorista pleno, o que já está há mais tempo na empresa, é de R$ 1.618, e do júnior, R$ 1.055. O sindicato pleiteia um piso de R$ 2 mil para ambos. Para cobradores, que ganham R$ 908, o novo salário seria de R$ 1,1 mil, um aumento de cerca de 12%.