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Terra no sapato de Mizael não era compatível com a de represa, diz perito

Thiago Varella

Do UOL, em Guarulhos (SP)

13/03/2013 10h51Atualizada em 13/03/2013 11h41

O perito-chefe da investigação do caso Mércia Nakashima, Renato Domingos Pattoli, afirmou, durante o terceiro dia de julgamento do policial reformado Mizael Bispo de Souza, nesta quarta-feira (13), que a terra encontrada no sapato do réu não é compatível com a da represa de Nazaré Paulista, onde o carro e o corpo da vítima foram localizados.

Pattoli é a terceira testemunha da defesa ouvida hoje --a primeira, do dia --no julgamento que acontece no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Questionado pelo advogado de defesa Samir Haddad Junior, Pattoli contou que, no calçado de Mizael, foi encontrada uma alga compatível com a que existe na represa, mas a terra que estava grudada no sapato não existe no mesmo local.

"A quantidade de terra encontrada era pequena, mas dá para afirmar que não era compatível", disse.

Segundo o biólogo Carlos Eduardo Bicudo, ouvido como testemunha no primeiro dia de julgamento, algas não se fixam na terra e sim em um substrato. Por isso, a terra e a alga encontradas no sapato de Mizael podem ter vindo de locais diferentes.

Pattoli também contou que, pessoalmente, pegou dois pares de sapato de Mizael na casa do réu e que decidiu, a partir de uma análise visual, não recolher outros calçados.

O perito afirmou que o responsável por ter empurrado o carro de Mércia para dentro da represa necessariamente precisou colocar o pé dentro d'água.

"Foi surpresa pra mim [o suspeito] conseguir jogar o carro na represa. Nunca havia visto algo assim", contou.

O biólogo Bicudo disse que havia dito ainda à época que o sapato precisou entrar na água para ter a alga fixada nele.

Mizael deve falar amanhã

O réu deverá dar sua versão sobre a morte de Mércia Nakaschima, morta em 2010 e com quem ele manteve um relacionamento, na quinta-feira (14). A previsão é do assistente de acusação Alexandre de Sá. Mizael é acusado de matar a ex e é julgado desde a segunda-feira (11) pelo Tribunal do Júri de Guarulhos (Grande São Paulo).

Com isso, a fase de debates deve começar também na quinta, com a sentença sendo proferida, provavelmente, apenas na sexta-feira (15).

Nesta quarta-feira (13), deverão ser ouvidas quatro pessoas: três testemunhas da defesa e uma do júri. Ontem, quatro testemunhas foram ouvidas: o delegado Antonio Assunção de Olim, responsável pela investigação da morte de Mércia, o advogado Arles Gonçalves Júnior, a corretora de imóveis Rita Maria de Souza e o investigador Alexandre Simone Silva.

Segundo dia de julgamento

O primeiro e mais demorado depoimento de terça-feira (12) foi o do delegado que investigou o desaparecimento de Mércia, Antonio Assunção de Olim.

O delegado disse que durante a investigação uma mulher procurou a delegacia à época dizendo que havia se relacionado com o Mizael com o único objetivo se descobrir se ele era culpado pelo assassinato. Segundo ele, Mizael teria ficado tentado em aceitá-la como álibi para se livrar da acusação da morte de Mércia.

Em seguida, Arles Gonçalves Junior, representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) que acompanhou as investigações sobre o crime, respondeu aos questionamentos formulados pela promotoria e pela defesa. Ambas as testemunhas haviam sido arroladas pela acusação.

De acordo com o advogado, o vigia Evandro Bezerra da Silva confessou, durante interrogatório, que foi buscar o réu na represa onde o corpo de Mércia foi achado em Nazaré Paulista (SP). Segundo o advogado, Evandro não relatou ter sofrido nenhum tipo de tortura. O vigia contou, mais tarde, que foi torturado pela polícia sergipana e, por isso, confessou o crime no Nordeste.

Logo após, foram inquiridas duas --das cinco-- testemunhas de defesa. A primeira delas foi Rita Maria de Souza, funcionária da imobiliária responsável pela locação da sala comercial que o réu utilizava como escritório. Ela afirmou que o réu era "educado, cavalheiro e abria a porta do carro" para a vítima.

Por fim, o policial civil Alexandre Simone Silva, que investigou as ligações feitas entre os celulares de Mizael, Mércia e Evandro, no dia do crime prestou depoimento.

Ele disse que o cruzamento dos dados do GPS do carro de Mizael e de ligações feitas de um celular registrado em nome de Mizael Bispo de Souza apontou que, no dia 23 de maio de 2010, dia da morte de sua ex-namorada Mércia Nakashima, ele estaria longe de seu carro e em um lugar de onde não costumava acionar seu aparelho para fazer ligações.