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"Estamos sem chão", diz avô de menino morto no Rio; prefeitura decreta luto

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

27/03/2013 14h44

O avô do menino João Felipe Eiras Santana Bichara, 6, assassinado em Barra do Piraí, sul do Estado do Rio de Janeiro, afirmou nesta quarta-feira (27) que a família está muito abalada com a morte da criança. “É doloroso demais, um abalo terrível. Estamos sem chão, sem teto. É das dores a mais difícil”, disse Heraldo de Souza Bichara, 71. Na terça (26), a Prefeitura de Barra do Piraí decretou luto de três dias pela morte do menino.

  • João Felipe foi dado como desaparecido após sair da escola

O garoto morreu asfixiado e foi colocado em uma mala. A suspeita do assassinato da criança é a manicure Suzana do Carmo de Oliveira, 22, que era amiga da família.

O professor universitário aposentado viu o garoto ser enterrado no túmulo que comprou para ele. "Comprei o túmulo e brinquei que queria 'estrear' porque é um cemitério plano, bonito. Olha como são as coisas, o destino é muito cruel", disse Bichara. 

A perda violenta sofrida pelo professor aposentado, que já foi vereador e secretário de Educação de Piraí, não é a primeira para ele e a família. "Você já viu um raio cair duas vezes no mesmo lugar? Aconteceu comigo. Há 20 anos perdi minha filha assim". Por ciúmes, o marido matou a tiros a filha de Bichara. 

A preocupação da família no momento é dar apoio aos pais do garoto, que estão sendo medicados. Nesta quarta, o pai do menino, Heraldo de Souza Bichara Junior, 38, não compareceu à delegacia para prestar depoimento por ainda não ter condições emocionais. "Eles não têm mais lágrimas nem condições nenhumas de falar", disse Bichara.

"Menino maravilhoso"

O avô diz que era muito "grudado" com João Felipe. O garoto era o orgulho do professor aposentado, que disse que o menino era inteligente e querido por todos.

"Ele era um menino maravilhoso. Fazia natação, jiu-jitsu. Os professores ficaram chocados, choraram muito no enterro”, afirmou o avô. “É difícil ter forças, ele chegava aqui em casa perguntando por comida, sabia que eu gosto de cozinhar. É um golpe muito duro.”

O crime

João Felipe foi dado como desaparecido na tarde de segunda-feira (25), após a manicure buscá-lo no Instituto de Educação Nossa Senhora Medianeira, onde ele estudava, dizendo que o levaria para fazer exames, segundo depoimento da suspeita à 88ª Delegacia de Polícia (Barra do Piraí). 

Ainda de acordo com o depoimento, a escola liberou o menino, que desde então não foi mais visto. O garoto foi levado até um hotel no centro da cidade, onde foi asfixiado com uma toalha molhada. Segundo a polícia, Suzana contou na delegacia que pegou um táxi para levar o corpo até a sua casa, onde o despiu e o escondeu em uma mala. O delegado José Mário Salomão Omena disse que em dez dias vai encaminhar o inquérito para a Justiça. Ele espera ainda ouvir funcionários do hotel São Luiz e familiares do menino.

O corpo foi encontrado pelos policiais no local por volta das 19h de segunda. A manicure foi presa em flagrante e indiciada na terça-feira (26) pelo crime de homicídio triplamente qualificado com motivo torpe, meio cruel, emboscada e ocultação de cadáver.

No fim da tarde, ela foi encaminhada para a cadeia feminina Joaquim Ferreira de Souza, no complexo de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio. Na saída da delegacia, cerca de cem pessoas cercaram o distrito para aguardar a saída de Suzana. Dois carros da Polícia Militar e dois carros da Polícia Civil escoltaram a presa. Na saída da delegacia, alguns que se aglomeravam na frente do distrito tentaram bater no carro em que a suspeita saía. Um cordão de policiais impediu que os revoltosos se aproximassem do carro onde estava Suzana.