Topo

Projéteis retirados de cadáveres do Carandiru desapareceram de prédio da Justiça, acusa MP

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

20/04/2013 10h26

O sumiço de 160 projéteis retirados dos cadáveres de 111 presos mortos no massacre do Carandiru foi apresentado pelo Ministério Público aos jurados, neste sábado (21), como argumento à impossibilidade de se individualizar a conduta dos réus. Ao todo, 26 policiais militares que agiram no segundo pavimento do pavilhão 9 do presídio respondem por homicídio qualificado, só na ala a ação da PM deixou 15 detentos mortos.

A sessão foi aberta pelo juiz José Augusto Marzagão com os debates. Falando diretamente aos jurados, sem microfone, o promotor Fernando Pereira da Silva citou a eles o caráter histórico do julgamento, avisou-os que "haverá repercussão", uma vez que o massacre foi "a pior matança dentro de um presídio, segundo a ONU [Organização das Nações Unidas]", disse.

Júri pode se tornar imparcial com jurado jovem, diz advogado

Segundo Silva, que insistiu com os jurados que a acusação não individualiza a ação dos PMs desde março de 1993 --cinco meses após o massacre --, havia não apenas 160 projéteis retirados dos cadáveres dos presos, como fotos coloridas deles, única prova, agora, de que exisitiram. Elas estavam no Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais), órgão para o qual são remetidos todos os inquéritos (com eles, as provas) dos distritos da capital. O órgão fica no segundo andar do Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP), onde ocorre o júri dos PMs desde a última segunda (15).

"A confirmação do sumiço veio apenas um mês antes do primeiro julgamento [28 de janeiro deste ano]. Não se sabe se foi a Polícia Civil ou Polícia Militar", disse o promotor, lembrando que as provas, das quais dependeria eventual laudo de confronto balístico, estavam no Dipo.

O caso, segundo a reportagem apurou com o Tribunal de Justiça de São Paulo, corre sob investigação ao menos desde março, quando o IC (instituto de Criminalística) informou ao Tribunal que não seria possível novo exame balístico por questões técnicas: tanto pelo tempo decorrido e pelos danos nas armas, desde então, quanto pelo sumiço desses projéteis.

Os debates devem durar dez horas, três horas para acusação, três para defesa e duas horas de réplica e tréplica para cada, caso queiram fazer uso da medida.

Veja como está sendo o julgamento