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Legistas questionam IML e pedem exumação do corpo de Tayná

Tayná desapareceu em 25 de junho, após avisar a mãe que estava voltando para casa - Reprodução/CGN
Tayná desapareceu em 25 de junho, após avisar a mãe que estava voltando para casa Imagem: Reprodução/CGN

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

07/08/2013 16h53

A Associação de Médicos Legistas do Paraná pediu nesta quarta-feira (7) à direção do IML (Instituto Médico Legal) a exumação do corpo de Tayná Adriane dos Santos, 14, encontrada morta em Colombo (região metropolitana de Curitiba) em 28 de junho passado.

Em ofício entregue ao IML, a entidade diz que é “completamente irregular” a substituição do médico legista que estava de plantão no dia em que o corpo de Tayná foi encontrado por um colega que estava de folga.

“Por si só, isso já é motivo para a exumação. Mas acho que também devemos isso à família, que vem sofrendo há 47 dias”, disse a presidente da associação, a médica legista Maria Letícia Fagundes.

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“Quando o colega Gerson Laux chegou para o exame, já havia outro médico fazendo-o. “Coloco em dúvida o colega ter sido substituído sem explicação”, afirmou. “Vamos aguardar alguns dias pela resposta [do IML]. Depois disso, temos reunião e vamos decidir qual a próxima ação”, afirmou, questionada se levaria o caso à Justiça.

À imprensa, pela manhã, o diretor-geral da Polícia Científica (a quem o IML é subordinado), Leon Grupenmacher, justificou a realização do exame realizada pelo médico-legista chefe do necrotério do Instituto Médico-Legal de Curitiba, Alexandre Gebran Neto.

“A determinação para que o doutor Alexandre viesse [ao IML], por causa do clamor, do número de pessoas que tínhamos aqui, foi um pedido meu. O chefe imediato do doutor Gerson, o chefe do necrotério, é o doutor Alexandre. Não pedi a um perito qualquer, mas para o chefe imediato que viesse auxiliar especificamente nesta perícia”, afirmou.

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Perícia bem feita

“[Gerson Laux] Não foi tirado [do plantão]. Como ele tinha cinco corpos [para examinar], veio mais um médico para auxiliar. E o doutor Alexandre chegou ao IML antes do doutor Gérson”, argumentou Grupenmacher. “Do ponto de vista técnico, [a necropsia está perfeita] sim. As provas periciais foram extremamente bem feitas e estão praticamente conclusas.”

Grupenmacher refutou a necessidade de se exumar o corpo de Tayná. “Do ponto de vista meu, pessoal, não [é preciso]. Porque, primeiro, acredito na minha perícia. Segundo, acho que tudo que poderia ter de prova da época já foi recolhido e está documentado.”

Apesar de ressaltar que “não participou da necropsia”, o diretor da Polícia Científica disse que, “do ponto de vista técnico”, descarta violência sexual no caso Tayná. “Do ponto de vista de violência sexual física, aparentemente, de se olhar, não [há indícios]”.

A afirmação contraria o primeiro inquérito sobre o caso, feito pela Polícia Civil, que afirmava que quatro suspeitos haviam confessado o estupro e a morte de Tayná, e até mesmo informação que a reportagem apurou junto ao MPE (Ministério Público Estadual), que tem em mãos laudos que “não excluem” a possibilidade de violência sexual.

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O caso

Tayná desapareceu em 25 de junho, após avisar a mãe que estava voltando para casa. No dia 27, a delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, prendeu quatro suspeitos, que segundo o delegado Silvan Rodney Pereira teriam confessado que estupraram várias vezes a jovem e em seguida a mataram.

No dia seguinte, o corpo dela foi encontrado submerso num poço na região. Dias depois, porém, veio à tona que o sêmen encontrado nas roupas de Tayná não pertencia a nenhum dos suspeitos. Em seguida, os suspeitos disseram que confessaram os crimes após serem torturados.

O caso gerou uma “crise” na “legitimidade da atuação” da Polícia Civil, segundo o secretário da Segurança Pública do Paraná, Cid Vasques.

No último dia 2, o Gaeco (Grupo de Atuação especial de Combate ao Crime Organizado) do MPE denunciou à Justiça 19 pessoas – entre elas um delegado de polícia, 15 policiais civis, um soldado da PM e dois guardas municipais – por prática de tortura durante a investigação. Duas também são acusadas de crimes contra a dignidade sexual.

Os quatro suspeitos que confessaram o crime sob tortura foram levados para fora do estado, protegidos pelo Programa Federal de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas.
Sob novo comando e sigilo judicial, a polícia segue investigando a morte de Tayná.