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MPE exuma corpo de Tayná e busca indícios de violência sexual

Tayná desapareceu em 25 de junho, após avisar a mãe que estava voltando para casa - Reprodução/CGN
Tayná desapareceu em 25 de junho, após avisar a mãe que estava voltando para casa Imagem: Reprodução/CGN

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

28/08/2013 20h51

Um grupo de promotores públicos e médicos legistas exumou nesta quarta-feira (28) à tarde o corpo da jovem Tayná Adriane da Silva, morta há dois meses em Colombo, região metropolitana de Curitiba. No exame, que durou quatro horas, os legistas fizeram uma nova necropsia no corpo e colheram material para a realização de mais exames laboratoriais. Em seguida, os restos mortais de Tayná foram novamente sepultados – ou inumados, na linguagem técnica.

“Temíamos que o corpo não permitisse encontrarmos o que buscávamos, pelo estágio de putrefação. Mas o exame foi plenamente válido”, disse o promotor Paulo Sérgio Markowicz de Lima, do MPE (Ministério Público Estadual). Questionado pela reportagem, ele confirmou que o exame buscou sinais de violência sexual. “Esse foi um dos pontos examinados”, falou.

Justiça pede a prisão de policiais acusados de tortura

A possibilidade de violência sexual é uma das principais dúvidas que pairam sobre a investigação da morte de Tayná. Segundo a polícia, os quatro suspeitos presos antes mesmo que o corpo fosse encontrado confirmaram ter estuprado e assassinado a jovem. Em seguida, um exame de DNA revelou que o sêmen encontrado nas roupas dela não era de nenhum deles, e veio à tona que eles foram torturados para que a polícia obtivesse a confissão.

Há algumas semanas, o médico-legista Alexandre Gebran Neto, chefe do necrotério do IML (Instituto Médico Legal), autor da primeira necropsia feita no corpo de Tayná, disse em entrevistas que não houve estupro – apesar de o caso estar sob sigilo judicial.

No início de agosto, a Associação de Médicos Legistas do Paraná afirmou, em ofício entregue ao IML, que foi “completamente irregular” a substituição do médico-legista que estava de plantão no dia em que o corpo de Tayná foi encontrado por Gebran Neto, que estava de folga. À época, a entidade chegou a defender a exumação do corpo.

“Novas evidências”

A exumação realizada nesta quarta, a pedido do MPE, foi autorizada pela Justiça de Colombo na última segunda (26). Gebran Neto a acompanhou e prestou informações sobre seu trabalho, mas não participou do novo exame, realizado pelos médicos-legistas Marcos Souza e Carlos Peixoto Baptista, ambos do IML. Eles foram selecionados a partir de uma lista apresentada à Justiça pelo MPE.

“Não se trata de desconfiança. A primeira necropsia foi bem realizada. Mas, por conta de novas evidências, novos elementos, a exumação se tornou necessária”, disse Lima. “As indagações que foram feitas pela polícia e pelo MPE nos últimos dias foram esclarecidas pelo exame feito hoje”, informou, sem entrar em detalhes.

Nesta terça (27), veio à tona que a família de Tayná – que fez críticas ao trabalho da polícia no caso – também pedira à Justiça que o corpo fosse exumado. O pedido foi negado. “Foi apenas uma coincidência. Felizmente, conseguimos realizar a exumação sem a presença de parentes e da imprensa, nem precisamos removê-lo ao IML”, afirmou o promotor.

O MPE teria prazo até a próxima sexta-feira (30) para denunciar à Justiça os acusados pelo crime – até agora, os únicos suspeitos conhecidos são os quatro presos antes de o corpo ter sido descoberto. Mas Lima informou que, por ora, não haverá denúncia. Em vez disso, a polícia terá mais 30 dias para finalizar as investigações.

O caso

Tayná desapareceu em 25 de junho, após avisar a mãe que estava voltando para casa. No dia 27, a delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, prendeu Sérgio Amorin da Silva Filho, 22, Paulo Henrique Camargo Cunha, 25, Adriano Batista, 23, e Ezequiel Batista, 22.

Segundo o delegado Silvan Rodnei Pereira, os quatro confessaram ter estuprado e matado Tayná – apenas Ezequiel negou a autoria, mas teria admitido ter testemunhado o estupro e o assassinato dela.

Dias depois, porém, veio à tona que o sêmen encontrado nas roupas de Tayná não pertencia a nenhum dos suspeitos. Em seguida, eles disseram que confessaram os crimes após terem sido torturados.

Delegados são afastados do caso de menina morta

O caso gerou uma “crise” na “legitimidade da atuação” da Polícia Civil, segundo o secretário da Segurança Pública do Paraná, Cid Vasques. Ele anunciou, nesta terça (23), a substituição do delegado-geral da corporação.

Os quatro suspeitos foram levados para fora do Estado, protegidos pelo Programa Federal de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas.

A Justiça de Colombo aceitou denúncia contra 15 das 19 pessoas denunciadas pelo MPE por torturar os suspeitos – inclusive o delegado Silvan Pereira. A decisão transforma 15 policiais em réus por crime de tortura. Dois também devem ser julgados por crime contra a dignidade sexual.

Ao UOL, a irmã de Tayná, Márcia Fernanda Silva, disse que a investigação policial está “toda torta”. “Não sei o que estão escondendo, o que estão defendendo. Só sei que ela [Tayná] não estão defendendo. Nem a gente”, desabafou.

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