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Fim da Copa: três motivos para ter saudades do Mundial em SP

Gabriela Fujita

Do UOL, em São Paulo

15/07/2014 06h00

O mês de Copa do Mundo (32 dias, mais precisamente) mal acabou e já faz falta para quem deu um jeito de driblar os compromissos e aproveitar o máximo dos jogos. O Brasil não é hexa (nem terceiro colocado), mas muito do que aconteceu no mundial vai deixar saudades.

Não temos mais motivos para tirar folga ou sair mais cedo do trabalho, para torcer pela mesma camisa e falar só de futebol o tempo todo. É claro, depois dos resultados da seleção e de todo o dinheiro gasto (bem ou mal) para hospedar o evento, muita gente quer mesmo é se esquecer da Copa.

Mas não seria ótimo se o que agradou pudesse permanecer pelo menos por mais um tempo?

Vamos, então, a um top 3 do que deixou aquele "gostinho de quero mais" em São Paulo no pós-Copa do Mundo.

1. Trânsito (quase) melhor

Dos sete dias de jogos disputados pelo Brasil, cinco tiveram lentidão zero no fim de tarde, período em que normalmente são registradas as máximas de congestionamento na cidade. E os outros dois dias tiveram lentidão entre 1 km e 3 km nos mesmos horários, muito abaixo da média. Isso porque a maioria das partidas da nossa seleção foi realizada no horário de rush.

Em compensação, a saída para assistir aos jogos teve trânsito pior que a média em dois dos sete dias. O mais complicado foi conseguir ver a disputa contra o México: a cidade teve 302 km de lentidão às 15h (o jogo aconteceu às 16h), sendo que a média máxima de lentidão para o horário é de 51 km e de 152 km no dia inteiro. O jogo que tirou o Brasil da final, contra a Alemanha, também provocou congestionamento acima da média: 166 km às 14h (o jogo aconteceu às 17h), quando a máxima para o horário é de 64 km e de 152 km no dia inteiro.

Fim da Copa: transporte e festa vão deixar saudades em São Paulo

2. Uso maior do transporte coletivo 

Seis partidas da Copa foram realizadas na Arena Corinthians, em Itaquera (zona leste), e 90% dos torcedores chegaram ao estádio usando o transporte coletivo (metrô ou trens da CPTM). A estimativa era atender cerca de 54 mil pessoas por jogo no sistema, e esse número chegou a ser superado em pelo menos três jogos.

Apesar das 3.000 vagas para veículos em torno do estádio, o Metrô, operando com frota máxima (equivalente aos horários de pico), registrou aumento de passageiros a cada jogo, com um total final de 345 mil pessoas (considerando o fluxo três horas antes e duas horas após as partidas nas linhas até a Arena).

De acordo com Roberto Arantes, coordenador das ações da Secretaria de Transportes Metropolitanos durante os jogos, a Copa criou uma oportunidade de atrair novos usuários para o sistema compartilhado com a CPTM.

Houve aumento de 30% na venda de bilhetes unitários, o que indica, na avaliação de Arantes, a presença de passageiros não habituais do metrô, já que o usuário tradicional utiliza bilhete único ou cartão fidelidade. "Dividir os passageiros em duas linhas ajudou a transportar mais gente", disse o coordenador.

Para chegar ao setor oeste do estádio, os torcedores usaram a estação Artur Alvim (linha 3-vermelha), que bateu recorde de usuários. O trem expresso da CPTM até a estação Corinthians-Itaquera era indicado para ir até o setor leste do Itaquerão.

“Duas mil pessoas no trilho representam menos impacto do que no saguão de uma única estação”, afirmou Arantes.

3. Carnaval fora de época (para alguns)

São Paulo só teve feriado no jogo de abertura da Copa, quando o Brasil estreou na Arena Corinthians contra a Croácia, em uma quinta-feira. Mesmo assim, nas outras seis partidas, muita gente foi dispensada mais cedo e não deixou de comemorar (só duas das sete disputas aconteceram no fim de semana).

Não faltaram bares abertos para quem teve pique. Pelo contrário, até sobrou disposição na Vila Madalena, tradicional pela freguesia boêmia na zona oeste, que foi tomada por milhares de festeiros.

A Savima (Sociedade de Amigos da Vila Madalena), que representa os moradores, estima que o jogo do Brasil contra a Colômbia, por exemplo, em uma sexta-feira, reuniu 70 mil pessoas no bairro.

Para efeito de comparação, o Carnaval não costuma ter público maior do que 50 mil, e os finais de semana têm entre 5.000 e 10 mil pessoas, segundo o presidente da associação, Cassio Calazans de Freitas.

“O grande problema para os moradores é o barulho, a bagunça é generalizada. (...) Fica meio sem lei o negócio. Tem de ter ordem, disciplina, as pessoas não têm mais educação”, disse Freitas, para quem a Copa não fará "nenhuma" falta.

Com as ruas se enchendo de lixo, lojas e casas sendo alvo de mijões e o barulho entrando madrugada adentro, a prefeitura e a PM foram acionadas.

Os bares passaram a fechar as portas a 1h30, o que já é determinado por lei municipal, e um caminhão-pipa entrava nas ruas às 2h para fazer a limpeza. Ainda assim, policiais militares tiveram que dispersar os insistentes.

A experiência serviu de “alerta” para o Carnaval 2015. A associação quer menos trios elétricos passando pela Vila, a redução do número de finais de semana com festas de rua no bairro e mudança no trajeto dos blocos.

A PM não respondeu aos pedidos de informações da reportagem sobre queixas de barulho e infrações relacionadas à violência durante o período da Copa.

Bônus: Bom humor generalizado

Nem mesmo o 7x1 da Alemanha acabou com o bom humor de quem sonhava com a sexta estrela na camisa brasileira. Tudo virou motivo para um meme na 'Copa da Zoeira'.   

Vai fazer falta o espírito de torcida única, sem provocações nem brigas nas ruas e nos estádios, tão frequentes entre as organizadas dos times nacionais.

Também estão na lista da saudade: a invasão passional sul-americana dos nossos vizinhos; as partidas que mostraram o que é a supremacia do futebol mundial; e os uniformes (justinhos) de Uruguai, Itália, Costa do Marfim e Suíça, que deixaram o esporte (para as mulheres) ainda mais bonito de se ver.