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Estudantes preparam greve e vigília em apoio a jovem agredido por PM em Goiás

Mateus foi ferido na cabeça durante uma manifestação no setor Central de Goiânia contra as reformas do governo federal, por volta do meio-dia desta sexta-feira (28) - Desneutralizador/Facebook
Mateus foi ferido na cabeça durante uma manifestação no setor Central de Goiânia contra as reformas do governo federal, por volta do meio-dia desta sexta-feira (28) Imagem: Desneutralizador/Facebook

Daniela Garcia

Do UOL, em São Paulo

03/05/2017 04h00

Estudantes da UFG (Universidade Federal de Goiás) prometem paralisar as atividades nesta quarta-feira (3) para participar de uma vigília em frente ao hospital onde está internado Mateus Ferreira da Silva, 33, que foi agredido por um policial militar em ato durante a greve geral da última sexta-feira em Goiânia.

Segundo boletim médico divulgado nesta terça-feira (2) pelo Hugo (Hospital de Urgências de Goiânia), o rapaz apresenta quadro estável, porém ainda grave, e permanece internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

O DCE (Diretório Central dos Estudantes) notificou a reitoria da UFG sobre o movimento de greve para incentivar a adesão de participantes da sentinela em frente ao Hugo.

Fábio Antônio de Oliveira Júnior, coordenador da entidade, afirma que a paralisação tem o objetivo de apoiar os colegas de Mateus, aluno de Ciências Sociais, que têm participado das vigílias organizadas desde a segunda-feira (1º). "Muitos amigos e colegas estavam dizendo que não era possível passar a noite lá e ainda participar das aulas", explicou. Cerca de 800 pessoas confirmaram presença no evento do Facebook.

Vídeo flagra momento em que estudante é atingido

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Alunos da universidade confeccionaram nesta terça placas e faixas contra a violência policial. "Queremos dar apoio ao Mateus, mas também fazer uma denúncia contra a polícia, a corporação e o governo do Estado. Mostrar que a violência que ele sofreu não é um caso isolado. Tem a orientação do Estado", afirma Oliveira Júnior. 

Em nota, a UFG comunicou que solicitou à Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Estado, "além da punição administrativa, a responsabilização criminal do agressor do estudante".

Mateus deu entrada no Hugo após ser agredido pelo capitão da Polícia Militar Augusto Sampaio de Oliveira Neto durante confronto entre manifestantes e PMs, na praça do Bandeirante, quando foi atingido na cabeça. A pancada que o capitão desferiu contra o rapaz foi tão forte que arrancou a capa de borracha que encobre o cassetete.

O protesto em Goiânia começou em frente à Assembleia Legislativa de Goiás, no setor oeste, passou pela praça Cívica, no setor central, e seguiu para a praça do Bandeirante, no centro.

Com o golpe dado pelo PM, Mateus sofreu traumatismo craniano e múltiplas fraturas.

O irmão de Mateus, Natan Barbosa, divulgou um vídeo no final de semana em que fala sobre a ação da PM que resultou na agressão ao estudante. Ele conta que o jovem, que é estudante de Ciências Sociais da UFG (Universidade Federal de Goiás) foi para a manifestação com os amigos e professores e rebateu as declarações de que ele seria black bloc.

“Todo mundo está achando que ele é black bloc, que é de partido. Meu irmão não é de partido, não é de nada. Ele só estava protestando, indo atrás do que acredita. Ele estava com um negócio na cara por causa do spray de pimenta. Quem está em manifestação sabe como é”, disse. “Mesmo se ele fosse um black bloc, não justifica a ação da polícia”, acrescentou.

O estado de saúde do estudante ainda é considerado grave, apesar de estável. Ele foi submetido no sábado (29) a uma cirurgia delicada na face, que durou cerca de quatro horas. Hoje a equipe médica suspendeu a sedação para avaliação neurológica e retirada da ventilação mecânica. O jovem também passou por uma sessão de hemodiálise na segunda (1º).

PM tem histórico de agressão, diz TV

Essa não seria a primeira vez que o capitão Oliveira Neto teria se envolvido em agressão. Segundo reportagem da "TV Globo", consta da ficha do PM o envolvimento em ao menos quatro casos de agressão, incluindo violência a menores de idade em situação de rua, entre 2008 e 2010. Oliveira Neto nunca foi punido por nenhuma delas, segundo a TV.

A Polícia Militar de Goiás decidiu afastar o policial das ruas. Ele saiu do policiamento ostensivo para se dedicar a atividades administrativas pelo tempo que durar o Inquérito Policial Militar instaurado para apurar o caso. A assessoria de imprensa da PM-GO não informou à reportagem os prazos da investigação.