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Intervenção no Rio deve favorecer expansão do PCC, diz antropóloga Alba Zaluar

Alba Zaluar pesquisa a violência no Rio de Janeiro há mais de 30 anos - Wikimedias Commons/Rzpguimaraes
Alba Zaluar pesquisa a violência no Rio de Janeiro há mais de 30 anos Imagem: Wikimedias Commons/Rzpguimaraes

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

17/02/2018 04h00

Considerada uma das principais pesquisadoras da violência no Rio de Janeiro, a antropóloga Alba Zaluar, professora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), disse ter medo da decisão do governo federal de intervir no Rio e afirmou que a medida pode reforçar a expansão das ações do PCC (Primeiro Comando da Capital, facção criminosa com origem em São Paulo) no país.

“Um dos efeitos da intervenção deverá ser o estrangulamento do Comando Vermelho [organização criminosa criada no Rio]. Isso vai ajudar o PCC [rival do Comando], que crescerá mais”, comentou a pesquisadora.

O PCC vem se espalhando pelo território nacional e travando batalhas com grupos rivais como o Comando Vermelho, demonstrando o fracasso do Brasil no combate a essas facções. “Essas organizações criminosas estão expandindo seus negócios e se transformando em máfias e cartéis, como aconteceu na Itália e na Colômbia”, ressaltou Alba Zaluar.

A professora criticou o presidente Michel Temer (PMDB) pela declaração de que o crime organizado “quase tomou conta do Estado do Rio de Janeiro” e “é uma metástase que se espalha pelo país e ameaça a tranquilidade do nosso povo".

“O presidente diz que o câncer está no Rio. O Rio é o 12º Estado da Federação em termos de índice de homicídios [por 100 mil habitantes]. Então, por que o Rio seria a origem do crime espalhado pelo país?”

“Só inteligência e investigação resolvem”

“Recebi a notícia da intervenção com espanto. É uma cortina de fumaça para esconder problemas que o país está enfrentando”, avaliou. “Provavelmente, a intervenção vai trazer a mesma sensação de alívio de outras ações do Exército no Rio e melhorar a percepção de segurança, mas isso não resolve.”

Para a pesquisadora, o Brasil não valoriza a investigação policial. “O problema é a incapacidade que temos de combater com inteligência o alto poder de corrupção do crime. Cada intervenção dessas é caríssima. E depois voltamos à situação anterior. O que adianta é investir mais em polícia investigativa para saber como as armas e drogas chegam com facilidade Brasil afora e como as organizações criminosas se fortalecem dentro das prisões e comandam o crime lá de dentro.”

Risco de guerra civil?

A antropóloga lamentou que especialistas em segurança pública não sejam chamados pelo governo para discutir o assunto e disse temer o aprofundamento da violência.

“É muito espantoso, tenho medo. A gente não sabe o que vai ser feito depois disso. Vão intervir em outros Estados? Haverá ocupação com mortes nos morros do Rio? Aí vai ser uma guerra civil. Os ânimos já estão muito acirrados por causa dos confrontos entre traficantes e polícia.”

Na opinião de Alba Zaluar, o país precisa acabar com as políticas de guerra às drogas e de encarceramento em massa. “Enquanto tiver isto, ninguém vai ter sossego”, vaticinou.