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Suspeita de morte de adolescente pela PM causa revolta na zona Sul de SP

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

15/06/2020 21h56Atualizada em 16/06/2020 08h33

Dois ônibus e quatro trólebus foram incendiados e mais dois ônibus foram depredados após revolta popular em virtude do assassinato a tiros do adolescente Guilherme, de 15 anos, que, segundo moradores, foi morto por policiais militares na Vila Clara, bairro da zona sul de São Paulo, na divisa com Diadema.

A suspeita se deve ao fato de ter sido encontrada no local do crime a tarjeta com a identificação de um soldado da PM. Segundo porta-voz da PM ouvido pela TV Record, os autores dos disparos usavam roupas civis, mas não está descartada nenhuma hipótese para o crime.

Próximo à casa da vítima há um depósito da Sabesp onde houve um furto dias atrás. Segundo moradores, os dois homens abordaram Guilherme quando ele andava de bicicleta e o levaram. Hoje o corpo foi encontrado na avenida Alda, em Diadema. Imagens gravadas no momento que Guilherme foi abordado mostram dois homens vestidos à paisana. Eles seriam policiais de folga fazendo bico de segurança privada.

O protesto começou às 17h30 após o encontro do corpo de Guilherme. A concentração se deu próximo à casa do rapaz, na Vila Clara, próximo à avenida Cupecê, e subiu em direção à Armando Arruda Pereira. Por volta das 22h de hoje, o patrulhamento de choque se preparava para deixar a região.

Os moradores atearam fogo em móveis e em lixo, reviraram caçambas e fizeram barricadas ao longo da avenida Engenheiro Armando Arruda Pereira. Pedras, extintores de incêndio e até um fogão foram usados.

A polícia impediu o trânsito na avenida, na altura do bairro de Americanópolis. O corredor intermunicipal de trólebus está interditado pois a rede que eletrifica os trólebus foi atingida pelo fogo e rompeu-se.

A reportagem do UOL seguiu a pé a partir desse ponto interditado e encontrou os ônibus e trólebus destruídos, um a um, ao longo de 2 km de trajeto.

Dois ônibus foram atacados a pedradas. O motorista perdeu o controle de um desses veículos, que invadiu o corredor de trólebus e bateu contra um poste. O primeiro chamado para o Corpo de Bombeiros ocorreu por volta das 18h40.

Houve confronto entre a PM e moradores revoltados. As ações policiais concentraram-se na divisa de São Paulo com Diadema, à procura de envolvidos. Ainda ouve-se o barulho de bombas e explosões.

O policiamento de choque ainda impede a passagem de veículos sentido Diadema e o trânsito de Diadema para São Paulo está bloqueado.

A revolta popular não foi contínua e houve confronto em diferentes pontos ao longo da avenida. Há dezenas de viaturas do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar no local. Um helicóptero da PM e dezenas de motos da PM estão na região.

Segundo nota da Secretaria de Segurança Pública, "o caso envolvendo o adolescente, de 15 anos, foi encaminhado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para investigações. A Polícia Militar também acompanha a apuração. Se for comprovada participação policial, as medidas cabíveis serão adotadas".

O enterro do Guilherme será amanhã no Cemitério de Embu.

O UOL recebeu imagens que seriam de moradores da região sendo agredidos por PMs em busca de suspeitos. A Comissão de Direitos Humanos da OAB e o Condepe (Conselho de Defesa da Pessoa Humana) já estão colhendo informações sobre o caso.

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