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Oito em cada dez presos em flagrante no Rio são negros, diz estudo

PM aponta fuzil para jovem durante manifestação contra a violência policial no Rio - VANESSA ATALIBA/ ZIMEL PRESS/ ESTADÃO CONTEÚDO
PM aponta fuzil para jovem durante manifestação contra a violência policial no Rio Imagem: VANESSA ATALIBA/ ZIMEL PRESS/ ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

05/08/2020 14h14

Um estudo realizado pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro mostra que oito em cada dez presos em flagrante no estado, contando homens e mulheres, declararam-se pretos ou pardos. O levantamento observou o perfil de 23.497 pessoas entre 2017 e 2019.

Ainda de acordo com a pesquisa, esse perfil também seria o mais agredido (40% ante 34,5% de brancos) e com mais dificuldade de obter liberdade provisória comparado a brancos (27,4% contra 30,8% de brancos).

"A pesquisa traz dados riquíssimos que permitem identificar, a partir da análise de mais de 23 mil casos, quem são as pessoas presas em flagrante no estado do Rio de Janeiro e denunciar a inegável seletividade do sistema penal", diz a coordenadora do Núcleo de Audiências de Custódia da Defensoria, Caroline Tassara.

A análise dos dados aponta ainda, por exemplo, que não mais de 26,2% (3.531 casos) das pessoas levadas às audiências de custódia e assistidas por defensoras e defensores públicos tinham condenação judicial anterior. Entre esse grupo, a negativa de liberdade provisória foi ainda maior que a média: 81,7%, ou 2.886 presos, permaneceram custodiados após a audiência.

Com relação às mulheres, do total de 23.497 custodiados, elas eram 1.283, o equivalente a 6% dos casos. A frequência com que elas conseguem liberdade provisória é muitíssimo maior do que a observada entre os presos homens: 656 mulheres receberam liberdade provisória e em 12 casos, a prisão foi relaxada.

Além de traçar o perfil socioeconômico dos presos e presas, o levantamento da Defensoria também apurou com que frequência há violência no momento da prisão em flagrante. Comparando dados de 2018 e 2019, houve uma redução de 23% nos relatos de agressão no momento da prisão.

"Isso confirma, com base em evidências, a efetividade das audiências de custódia como instrumento de prevenção e combate à tortura e aos maus-tratos no momento da prisão. Fica claro o quanto esse instituto promove o avanço civilizatório", diz Tassara.

Em cada dez menções a maus tratos e/ou tortura, seis apontaram como autores policiais militares. No total, foram 3.380 relatos referentes a PMs. Populares teriam sido os responsáveis por 30% (1.679 relatos) das agressões.

Segundo a defensora pública, o altíssimo índice de agressões atribuídas aos policiais militares "não surpreende, mas preocupa, especialmente quando cotejado com o baixíssimo número de casos em que houve o relaxamento de prisões ilegais".

"O alto índice de relatos de agressões atribuídas a populares confirma, por sua vez, que a cultura do linchamento e a ideia de se fazer justiça com as próprias mãos, própria da barbárie, ainda está muito arraigada na sociedade. Isso precisa ser desconstruído", diz a defensora pública.