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Idosa sofre dois AVCs após ser picada por cobra na porta de casa

Cobra da espécie jararacuçu picou Maria de Fátima Barbosa Greca na porta de casa - Arquivo Pessoal/ Daniella Greca
Cobra da espécie jararacuçu picou Maria de Fátima Barbosa Greca na porta de casa Imagem: Arquivo Pessoal/ Daniella Greca

Naian Lopes

Colaboração para o UOL, em Pereira Barreto (SP)

21/03/2021 15h37Atualizada em 22/03/2021 16h17

Maria de Fátima Barbosa Greca, de 63 anos, foi picada por uma cobra na frente de casa, em Itanhaém (SP) e sofreu dois AVCs (acidentes vasculares cerebrais) por causa do veneno. Ela está internada em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Segundo os familiares, a idosa estava abrindo o portão de casa quando pisou acidentalmente no filhote de serpente da espécie jararacuçu, que a picou no calcanhar. A mulher chamou o nome do filho, que saiu correndo para ver o que havia acontecido. Logo em seguida, foi levada para o hospital. Em contato com o UOL, a filha de Maria, Danielle Greca, diz que ainda não há detalhes sobre o estado de saúde da mãe.

"Ontem o médico falou que não pode dar diagnóstico, porque precisa esperar 72 horas. Mas ela está intubada, sedada, pois fez uma cirurgia no cérebro", explica ela.

Danielle reclama da falta de cuidado da prefeitura com a cidade e garantiu que não foi a primeira vez que apareceu cobras no local que a mãe mora. "Falta limpeza, manutenção de terreno baldio e ruas", desabafa.

A vítima, que tinha tido o primeiro AVC na hora da picada, foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento do Jardim Sabaúna, na quinta-feira, e recebeu soro antibotrópico para neutralizar o veneno. Pouco tempo depois, ela começou a sentir o braço e a perna formigando, sendo identificado o segundo AVC.

A médica identificou que a paciente estava fraca e decidiu intubá-la. Os familiares dizem que ela ficou na mesma ala que pacientes com covid-19 e não puderam entrar para vê-la.

"A UPA de Itanhaém tem uma sala de emergência. Tem uma mensagem escrita que é específica por causa da ala covid-19", relata a filha de Maria.

Maria de Fátima Barbosa Greca, de 63 anos, foi picada por uma cobra na frente de casa, em Itanhaém (SP)  - Arquivo Pessoal/ Daniella Greca - Arquivo Pessoal/ Daniella Greca
Maria de Fátima Barbosa Greca, de 63 anos, foi picada por uma cobra na frente de casa, em Itanhaém (SP)
Imagem: Arquivo Pessoal/ Daniella Greca

Greca buscou entender o motivo da mãe ter ido para o mesmo espaço com pacientes contaminados pelo coronavírus, mas não obteve resposta.

"Não deram justificativa nenhuma. Ela entrou pela porta lateral, a mandaram voltar pela frente, fez a ficha e colocaram ela na sala".

Preocupada, a família tentou fazer a transferência da vítima, mas não conseguiu vaga em um primeiro momento. No fim da tarde de sexta, surgiu uma vaga no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande. Ao chegar lá, o médico avaliou o quadro e decidiu realizar uma cirurgia por causa de um coágulo na cabeça.

Gênero Bothrops causa 80% dos acidentes ofídicos no Brasil

A médica Mariana Cavalari explica que cerca de 80% a 90% dos acidentes ofídicos no Brasil são causados por animais do gênero Bothropsps, do qual a Jararacuçu faz parte. O veneno desta espécie é caracterizado pela ação citotóxica, vasculotóxica e coagulante.

"Os sintomas dependem de pessoa para pessoa e são levados em conta o tipo de peçonha, a gravidade do acidente e as condições clínicas prévias do paciente, como comorbidades. Pode haver manifestações locais como dor, vermelhidão ou inchaço, e manifestações sistêmicas como hemorragias. Quando as manifestações são sistêmicas, o distúrbio mais frequente é da coagulação sanguínea, tal distúrbio pode levar a sangramentos gengivais, urina com sangue e até Acidente Vascular Cerebral do tipo hemorrágico", detalha a médica.

"Isso porque no veneno dessas serpentes existe uma enzima que interage com uma proteína importante no papel da coagulação sanguínea, a protrombina, com isso temos um efeito anticoagulante do sangue. Quando se faz uma terapia rápida com soro antibotrópico, essas toxinas e enzimas são neutralizadas melhorando e revertendo esse quadro da coagulopatia", acrescenta.

Já o biólogo Thomaz Girotto, mais conhecido como Bicho Paulistano, explica que a jararacuçu é uma das maiores, se não a maior, espécie das jararacas e que é encontrada no Sudeste, na região da Mata Atlântica, e também pelo Paraguai. O animal é responsável por grande parte dos acidentes ofídicos porque tem um método de defesa e/ou ataque diferente das outras cobras.

"A jararaca não avisa com guizo igual a cascavel. Já a coral, apesar de ter um veneno muito perigoso, vive enterrada e tem boca pequena. E tem a surucucu que também tem um veneno potente, mas é muito difícil de acontecer, porque ela é muito grande. Então as jararacas têm esse grande índice de acidente porque o pessoal [quase] sempre não vê, pois o animal fica escondido", detalha.

"É importante que as pessoas picadas não façam torniquete e não chupem o local do veneno. Fique calmo, hidratado e busque auxílio médico para que seja aplicado o soro antibotrópico. Os venenos das jararacas são miotóxico, ou seja, ele necrosa as fibras musculares e é hemorrágico, podendo causar sangramentos", completa.

Prefeitura nega que paciente tenha sido colocada em ala da covid-19

Procurada pelo UOL, a Prefeitura de Itanhaém afirmou, em nota, que as UPAs recebem pacientes de emergência via Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) ou presencial e, depois de uma triagem, eles são divididos conforme a gravidade.

A prefeitura ainda explica que o processo inicial de atendimento e análise de informações faz com que todos sigam o mesmo fluxo, porém, afirma que não é verdadeiro o fato de que pacientes que possuem covid-19 são destinados ao mesmo local em que estão pessoas com outras doenças.

Errata: este conteúdo foi atualizado
As cobras do gênero Bothropsps são responsáveis por 80% dos ataques no Brasil, não a espécie Jararacuçu. A informação foi corrigida.