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É a crônica de uma morte anunciada, diz pesquisador sobre mortes violentas

Colaboração para o UOL

15/07/2021 12h22

O levantamento divulgado hoje pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que os números de mortes violentas voltaram a crescer no Brasil em 2020. Revertendo a tendência de queda dos dois anos anteriores, o quadro mostra, também, que entre as principais vítimas estão os jovens negros.

Em entrevista ao UOL News, o pesquisador Rafael Alcapadini, do FBSP e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), disse que os dados são "bastante preocupantes" e destacou o "racismo estrutural fortíssimo" na sociedade brasileira. Para ele, essa "é uma crônica de uma morte anunciada".

"A gente não tem a inclusão social dos negros, a gente tem práticas de governo racistas, que atuam de forma racista. Uma política de droga que é racista na sua essência e que acaba vitimando uma maioria de jovens negros na periferia e também de policiais negros que estão na base das hierarquias das polícias, porque os negros têm muita dificuldade de ascender na hierarquia das polícias", disse.

O pesquisador também relacionou o aumento nos números ao incentivo de uma política armamentista. Rafael Alcapadini destacou que o governo federal tem atuado para "desregulamentar a questão do controle de armas no Brasil".

"Tem um aumento desde 2017 de 100% no número de registro de armas. A gente tem um aumento de 97,1% no número de armas registradas", detalhou e completou: "os estudos científicos sérios mostram que quanto mais armas têm na preponderância de uma população mais violência nós vamos ter. Tanto de acidentes quanto de crimes contra a vida".

Ao UOL News, ele explicou, ainda, que o país sofre com a falta de uma política de segurança pública estruturada, tanto no nível federal, quanto estadual e municipal. O pesquisador destacou, ainda, a falta de dados estruturados pelo poder público.

Para Rafael Alcapadini, a tendência é piorar. Isso porque, segundo ele, muitos dos governos usam "muito pouco a inteligência e muito a violência", além do "enfrentamento desmedido".

"Quando a gente não faz isso com inteligência, a gente coloca essa população em risco, e a gente coloca a sociedade como um todo em risco e os policiais em risco", disse.

Aumento nas mortes violentas no Brasil

O levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado hoje, reúne os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em comparação com 2019, a alta de mortes violentas foi de 4% no ano passado.

Foram registradas, em números absolutos, mais 50 mil mortes no país, incluindo casos de homicídio doloso, latrocínio (roubo seguido de morte), lesão corporal seguida de morte e assassinatos em ações da polícia - um aumento de 2.291 assassinatos em comparação com 2019. Os homicídios dolosos concentram 83% dos casos.

Entre as vítimas das mortes violentas:

  • Mais de 89% eram homens;
  • A maioria era jovem - entre 18 e 24 anos, principalmente;
  • E negra (eram 64,3% nos casos de latrocínio; 75,3% das lesões corporais seguidas de morte; 75,8% entre os homicídios dolosos, e 78,9% nas intervenções policiais).