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Começa o julgamento de Josef Fritzl; austríaco se declarou culpado de incesto, estupro e sequestro

*Do UOL Notícias

16/03/2009 05h40

Atualizada às 11h27

O austríaco Josef Fritzl, que estuprou e manteve a filha Elisabeth refém por 24 anos no porão de sua casa, começou a ser julgado nesta segunda-feira (16), em júri popular em Sankt Pölten, a 60 quilômetros a oeste de Viena. O veredicto deve ser divulgado no dia 20 de março.

No início do julgamento, Fritzl se declarou culpado de incesto, estupro e sequestro, mas inocente das acusações de assassinato e escravidão. As acusações de incesto, estupro e sequestro podem acarretar em uma pena máxima de 15 anos, já a acusação de assassinato pode levar a uma pena de prisão perpétua.

O acusado também se declarou inocente de escravidão, acusação utilizada pela primeira vez na Áustria, por ter tratado a filha "como uma propriedade", e de assalto com agravantes por ter ameaçado seus prisioneiros com um gás em caso de desobediência.

O julgamento
Cercado de seis policiais, Fritzl, de 73 anos, chegou ao tribunal com um terno cinza e escondendo o rosto atrás de uma pasta de arquivo azul. Apenas o acusado comparecerá ao tribunal durante os cinco dias de audiências, que acontecerão a portas fechadas. O depoimento de Elisabeth, hoje com 43 anos, foi gravado e será apresentado para os três magistrados e oito jurados.

Fritzl ficou de pé na sala por vários minutos e durante todo o tempo ignorou as insistentes perguntas de dois jornalistas do canal de TV público "ORF", autorizado pelo tribunal a entrevistá-lo.

As primeiras perguntas dos repórteres foram "Como se sente?" e "Gostaria de fazer uma declaração?".

Ao apresentar as acusações contra Fritzl, a promotora Christiane Burkheiser falou do "martírio inimaginável" sofrido por Elisabeth.

A acusadora admitiu que o réu "respondeu a todas as perguntas" da Promotoria, mas destacou que Fritzl "não mostrou nenhum tipo de remorso" pelo que fez.

Burkheiser também lembrou que, nos primeiros nove anos de cativeiro, a vítima viveu num espaço de 11 metros quadrados, "às vezes com três filhos pequenos e grávida".

Segundo a promotora, já no segundo dia do cárcere, que teve início em agosto de 1984, Elisabeth, então com 18 anos, foi estuprada pelo pai no porão, onde "não havia água quente, ducha, calefação, luz do dia ou ventilação com ar fresco".

Segurança
A segurança para o julgamento foi reforçada. Somente pessoas credenciadas poderão entrar na área em volta do prédio do Tribunal de Justiça. Os jornalistas só poderão acompanhar a leitura das acusações, que acontecerá nesta segunda, e o anúncio do veredicto, previsto para sexta.

O caso veio à tona em abril de 2008, quando a filha mais velha fruto do incesto - do total de sete filhos - precisou ser hospitalizada. Fritzl é mantido preso desde então e pode pegar prisão perpétua se for condenado por homicídio. O código penal austríaco não contempla a acumulação de penas, prevalecendo a mais dura.

O austríaco foi submetido a exames psiquiátricos que atestam sua capacidade mental de passar pelo julgamento.

Dia-a-dia no cativeiro
A investigação vasculhou os 24 anos de vida dupla de todos os envolvidos no caso, principalmente da mãe de Elisabeth, que levava uma vida normal na casa, em cima do cárcere da filha.

Fritzl protegeu a entrada do porão com portas blindadas e fechaduras eletrônicas, e proibia a mulher e os filhos de se aproximarem do local.

Descrito como um vizinho amável e solícito, Josef Fritzl teve sete filhos com a mulher e outros sete com Elisabeth. Ela tinha 18 anos quando foi sequestrada e enclausurada pelo pai.

Elisabeth desapareceu no dia 29 de agosto de 1984. Semanas depois, Fritzl obrigou-a a escrever uma carta para a mãe, pedindo que parassem de procurá-la e explicando que havia fugido para se juntar a uma seita religiosa.

Três dos bebês nascidos no porão foram 'deixados' na porta dos Fritzl, com mensagens escritas por Elisabeth, pedindo que a família os criasse. Tudo simulado pelo pai sequestrador.

Um dos bebês morreu por falta de cuidados médicos ao nascer e, por isso, Fritzl é acusado de homicídio. A acusação diz que "apesar de consciente do risco que a vida do bebê corria, premeditadamente impediu que terceiros prestassem ajuda ao recém-nascido, o que resultou na morte da criança".

Fritzl "amava sua filha à sua maneira", explicou seu advogado, Rudolf Mayer, à agência austríaca "APA": alimentava e vestia a segunda família, ensinou as três crianças que ficaram com a mãe no porão a ler e escrever, comprava para eles presentes de Natal e aniversário. Por outro lado, ameaçava matá-los com gás se tentassem fugir.



*Com informações de agências internacionais