Topo

Brasil se consolida na rota do tráfico internacional de cocaína para a Europa, aponta relatório da ONU

Fernanda Calgaro <BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Londres

23/06/2011 11h00Atualizada em 23/06/2011 11h51

Na última década, o Brasil se consolidou como rota de passagem do tráfico internacional de cocaína com destino à Europa. Os Estados Unidos, maiores consumidores mundiais da droga, viram a oferta no seu território minguar com a repressão aos cartéis mexicanos –de 267 toneladas em 1998 caiu para 165 toneladas em 2009. Na Europa, as remessas quase dobraram no período –de 63 toneladas em 1998 para 124 toneladas em 2009– e o Brasil virou ponto de escala. A análise faz parte do Relatório Mundial sobre Drogas divulgado nesta quinta-feira (23) pela ONU (Organização das Nações Unidas).

O estudo é lançado simultaneamente em diversas cidades do mundo às vésperas do Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico de Drogas, que acontece no próximo dia 26. Elaborado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o documento reúne dados sobre a situação do mercado das drogas, incluindo produção, tráfico e consumo, até 2009.

A cocaína, vinda da região dos países andinos, entre eles Colômbia, Bolívia e Peru, segue do Brasil para a África e de lá aporta em terras europeias. Em 2009, o Brasil foi líder no continente americano em número de apreensões da droga que iria para consumo europeu. Foram 206 casos em 2009 (totalizando 1,5 tonelada), ante 25 em 2005 (339 kg). Em quantidade, o país ficou atrás apenas da Venezuela (6,6 toneladas) e do Equador (2,5 toneladas).

No total, a cocaína apreendida no Brasil –incluindo a usada para consumo interno–  triplicou num período de cinco anos: passou de 8 toneladas em 2004 para 24 toneladas em 2009. A apreensão de maconha, por outro lado, caiu de 187 toneladas em 2008 para 131 toneladas em 2009. A de heroína totalizou 17 kg em 2009, um aumento acima de 10% em relação a 2008. O relatório não traz muitos detalhes sobre as apreensões de crack no país, mas informa que, em 2008, o Brasil apreendeu a maior quantidade no continente americano naquele ano: 374 kg.

O relatório menciona uma apreensão feita na Romênia de 1,2 tonelada de cocaína que havia sido despachada em dois contêineresdo porto de Paranaguá, no Paraná, em janeiro de 2009. No mês seguinte, outras 3,8 toneladas da droga, que também iriam para a Romênia, foram encontradas no mesmo porto.  O documento destaca ainda o fechamento de dois laboratórios de produção de ecstasy pelas autoridades brasileiras: um no Paraná e outro em Santa Catarina.

Principais rotas do tráfico mundial de cocaína em 2009

  • ONU

    Mapa mostra a região andina como maior produtora de cocaína no mundo; as setas verdes mostram o destino da droga, em toneladas; já os círculos roxos mostram o consumo da droga, também em toneladas. Fonte: UNODC, Relatório Mundial sobre Drogas 2010, dados até 2009

Consumo pelo mundo

No mundo, cerca de 210 milhões de pessoas usam drogas ilícitas e a cada ano 200 mil usuários morrem. A droga mais consumida é a maconha, com um público usuário estimado entre 125 e 203 milhões, o que representa de 2,8% a 4,5% da população mundial. Em seguida, vêm anfetaminas/ecstasy, ópio/heroína e cocaína.

O tipo de droga usada varia muito conforme a região do planeta. A demanda por tratamento em função do vício em maconha é generalizada, mas é ainda maior na África e na Oceania. Enquanto o ópio/heroína traz mais agravantes para a Europa e a Ásia, o problema maior na América do Sul é a cocaína. Na América do Norte, maconha, ópio/heroína e cocaína estão equilibrados. As anfetaminas não prevalecem em nenhum mercado, mas está mais presente na Ásia e Oceania, seguidas pela Europa e América do Norte.

Segundo o relatório, houve uma certa estabilização, e mesmo queda, no uso de heroína e cocaína nas maiores regiões de consumo, mas logo foi compensada pelo aumento de drogas sintéticas e medicamentos controlados.

O uso indiscriminado dessas substâncias, como os remédios para emagrecimento, é um problema de saúde recorrente em diversos países, incluindo o Brasil. Outras substâncias legalizadas e que, portanto, não passam por fiscalização, têm se popularizado no mercado das drogas, como a maconha sintética. O relatório da ONU aponta também que é cada vez mais comum o consumo combinado de mais de uma droga, o que representa um risco ainda maior para a saúde.