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Regime sírio lança ofensiva contra rebeldes em Aleppo

Do UOL, em São Paulo

28/07/2012 05h30Atualizada em 28/07/2012 12h24

As forças do regime sírio do presidente Bashar Assad deram início neste sábado (28) a uma ofensiva para retomar áreas da cidade de Aleppo --a segunda maior do país e capital econômica-- sob domínio da insurgência.

Helicópteros militares sírios atacaram um bairro de Aleppo sob controle dos rebeldes, enquanto unidades blindadas se posicionavam para uma ofensiva que poderá decidir o destino da Síria, disseram fontes da oposição.

O grupo oposicionista Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que reúne informações sobre o levante de 16 meses contra Assad, afirmou que helicópteros atacaram o bairro central de Salaheddine e há combates em outras partes da cidade.

"Helicópteros estão participando de confrontos na entrada do bairro de Salaheddine e bombardeando-o", disse o grupo em um comunicado por e-mail. "Há também violentos confrontos na entrada do bairro de Sakhour."

Um ativista da oposição disse ter visto tanques sírios e veículos blindados se dirigindo para Salaheddine.

A batalha pelo controle da cidade de 2,5 milhões de habitantes é vista como um teste crucial para o governo sírio. Diante de uma crescente insurgência, as autoridades sírias concentraram grandes recursos militares para reter o controle de seus maiores centros de poder.

Segundo o ativista Hisham al-Halabi, da Comissão Geral da Revolução, que está em Aleppo, as tropas governamentais estão usando aviação militar, caças Mig 21 de fabricação russa e tanques.

O ativista comentou ainda que, apesar do armamento mais leve do que o do Exército sírio, os rebeldes "não estão em desvantagem" na luta armada.

"O Exército Livre Sírio [ELS] está bem equipado e situado estrategicamente em Aleppo, enquanto os reforços governamentais que chegaram à cidade foram danificados pelo caminho pelos rebeldes", disse o ativista.

'A mãe das batalhas'

De acordo com a agência de notícias Efe, os opositores teriam confirmado, por meio de uma página no Facebook, o início da ofensiva do regime de Bashar Assad, assim como a destruição de pelo menos oito tanques do regime.

Segundo o "número dois" do ELS, Malek Kurdi, a cidade ficou "sitiada" nesta sexta-feira (27) pelos tanques do regime de Bashar Assad, com a chegada de mais reforços militares, que se preparavam para a operação que a imprensa mundial batizou de "a mãe das batalhas" na Síria. Para Kurdi, trata-se de uma "grande ofensiva".

Durante embates nesta semana, os opositores teriam feito reféns dezenas de oficiais, soldados e milicianos sírios pró-governo em Aleppo e também na província de Idlib, e mais de 70 pessoas morreram. Segundo os rebeldes, outros confrontos aconteceram também nas províncias de Deraa (sul), Homs (centro), Idleb (noroeste), e na capital Damasco e seus arredores.

Um vídeo publicado no YouTube mostrou rebeldes com armas Kalashnikovs da "Brigada Tawhid (monoteísta)" vigiando os detidos que foram alinhados em quatro grupos em um pátio de uma escola. Uma voz oculta conta que eles haviam sido detidos em Aleppo.

Nas imagens, um dos prisioneiros diz ser um coronel, outro afirma ser um major e muitos se identificaram como "shabbiha" (termo usado pela oposição para descrever milicianos que são leais ao presidente Bashar Assad).

No final do vídeo, uma voz rebelde afirma que o Exército Livre "vai exterminar todos os shabbiha, se Deus quiser." Um rebelde do grupo disse à agência Reuters que os detidos estavam seguros e foram transferidos para um local não identificado no campo em torno de Aleppo, que é considerado reduto rebelde.

Assad tem lutado para esmagar uma revolta que já dura 16 meses contra seu governo que começou com manifestações pacíficas, mas se tornou uma revolta militarizada. Pelo menos 18 mil pessoas foram mortas nos distúrbios em todo o país.

Na província de Idlib, rebeldes e forças de segurança do governo se enfrentaram por pelo menos oito horas, quando rebeldes detiveram 50 soldados e tomaram um prédio de segurança na cidade de Maarat al-Numan.

Ações internacionais

Ações internacionais devem ser tomadas para lidar com o cerco militar das forças de Assad ao redor da cidade de Aleppo e a ameaça da Síria em usar armas químicas, disse o primeiro-ministro turco, Recep Erdogan.

"Há um aumento (da presença militar) em Aleppo e as recentes declarações, com respeito ao uso de armas de destruição em massa, são ações que não podemos permanecer como observadores ou espectadores", declarou o premiê em entrevista conjunta com o premiê britânico, David Cameron, em Londres, nesta sexta-feira (27).

"Medidas precisam ser tomadas em conjunto dentro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Organização dos Países Islâmicos, a Liga Árabe, e nós devemos trabalhar juntos para tentar superar a situação", disse Erdogan.

Cameron afirmou que a Grã-Bretanha e a Turquia estavam preocupados com as indicações de que o governo de Assad estava prestes a realizar "alguns atos verdadeiramente terríveis ao redor e na cidade de Aleppo".

"Isso poderia ser completamente inaceitável. Esse regime precisa perceber que é ilegítimo, que é errado, e que precisa parar com o que está fazendo", disse Cameron.

Os Estados Unidos também voltaram a se manifestar sobre a crise na Síria e demonstraram preocupação com o confronto em Aleppo, embora tenham rejeitado qualquer comparação com o caso de Benghazi (leste da Líbia), que em 2011 provocou uma intervenção internacional.

"Estamos muito preocupados com a situação em Aleppo", disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, considerando "odiosa e condenável" os ataques das forças de (o presidente Bashar Assad) a essa região.

"O tipo de armamento usado contra civis desarmados mostra a perversidade em que Assad caiu", acrescentou Carney durante uma entrevista coletiva à imprensa, retomando uma expressão que utiliza há vários dias.

(Com agências internacionais)