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Americanos mórmons em missão no Brasil mandam seus votos pelo correio

O candidato republicano Mitt Romney, que é mormon - Brian Snyder/Reuters
O candidato republicano Mitt Romney, que é mormon Imagem: Brian Snyder/Reuters

Fábio Luís de Paula

Do UOL, em São Paulo

04/11/2012 06h00

Mesmo o voto não sendo obrigatório para os norte-americanos, missionários mórmons que estão no Brasil buscaram as formas de fazer valer seu direito e já enviaram seus votos para a eleição presidencial do dia 6 de novembro. Com as pesquisas apontando uma incógnita no resultado do pleito --os índices mostram 1 ponto percentual de diferença entre o republicano Mitt Romney e o democrata Barack Obama--, a vitória deve sair por uma diferença mínima.

"Cerca de 70 dos meus 180 missionários são de lá, e boa parcela deles me procurou para pedir informações sobre como votar", disse o brasileiro Marcus Martins, líder de uma das 27 missões da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que hoje atuam no país.

Todos os 44 presidentes americanos são cristãos, sendo a maioria protestante; se Romney for eleito, ele será o primeiro presidente mórmon da história dos Estados Unidos.

Segundo Martins, quatro dessas missões mórmons estão na Grande São Paulo e a dele abrange as zonas norte e oeste da capital paulista, assim como alguns municípios como Itu, Indaiatuba, Alphaville e Jandira. "As famílias dos missionários mantêm os filhos informados sobre as eleições e alguns deles já votaram. Quem está fora do país pode imprimir a cédula pela internet e enviar o voto pelo correio, mas o sistema muda de um Estado para o outro, pois cada um tem uma legislação e prazos", explicou.

De acordo com Nei Garcia, diretor de assuntos públicos da igreja, hoje há aproximadamente 4.800 missionários no Brasil, sendo que de 35 a 40% deles são americanos. O país também abriga 1.200 capelas e o segundo maior centro de treinamento de missionários mórmons do mundo, que fica na Casa Verde, zona norte de São Paulo --o maior fica em Utah, onde também fica a sede da igreja.

Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (mórmons)

Fundada em 1830 pelo norte-americano Joseph Smith (1805-1844). A sede fica em Salt Lake City (Utah, EUA). Os primeiros missionários chegaram ao Brasil em 1928.

Doutrina
Conhecida como Igreja Mórmon (nome do livro que o fundador teria recebido das mãos do profeta Moroni). Possui quatro livros canônicos: "Livro de Mórmon", "Bíblia", "Doutrina e Convênios" e "Pérola de Grande Valor". Acredita que o casamento não termina com a morte. Faz ordenanças especiais de ligação da família para a eternidade.

Direito de reclamar

A americana Rachel Connell, 23, da equipe de Martins, está no Brasil há nove meses e já enviou seu voto. "Na região onde eu moro não tem a opção de imprimir o voto pela internet, então minha mãe me mandou uma carta com a cédula, que eu devolvi pelo correio, direto para o governo, com meu voto", contou a jovem, que é estudante e vive em Washington.

Para Rachel, a maioria dos jovens nos Estados Unidos não vota porque, além de não ser obrigatório, pensam que um voto a mais não faz diferença. "Eu acho importante votar, senão você não tem direito de reclamar do governo, que decide tudo para sua vida, desde saúde até economia. Se quer alguma mudança e quer que o país melhore, é importante estar envolvido e contribuindo para as coisas em que acredita", disse a jovem, que contou ter votado em Romney.

A religião nas eleições

A religião é um ponto em que os candidatos à Casa Branca divergem e também costuma pautar o voto dos eleitores. Muitos católicos afirmam que só podem votar em Romney, que é mórmon, por causa da questão do aborto. O republicano é contra, enquanto Obama mostra-se a favor.

Os partidos também enxergam a população como grupos menores, e baseiam-se também na religião. Obama se direciona às mulheres, universitários, latinos e judeus. Romney, por sua vez, foca em cristãos evangélicos. A ideia de ambos é vencer o desafio de estimular esses grupos a saírem para votar.

Os judeus, que representam 2% dos americanos, são cidadãos politicamente ativos, votam regularmente e predominam nos Estados indecisos: portanto, podem decidir as eleições. Hoje há cerca de 148 mil judeus em Ohio, 295 mil na Pensilvânia e mais de 500 mil na Flórida, Estados considerados importantes para o resultado da eleição.

Romney tenta mobilizar os últimos indecisos e os milhões de cristãos fundamentalistas que não pretendiam votar nele por causa de sua fé mórmon, pois os mórmons não acreditam que a Bíblia seja a única fonte de verdade eterna.

Será que os representantes das duas igrejas vão se tornar aliados para eleger Romney? (Com informações do Der Spiegel)