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Escolha do papa domina rodas de conversa na cidade onde dom Odilo cresceu

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Toledo (PR)

13/03/2013 12h24

O trecho inicial da avenida Tiradentes, ao lado da praça Willy Barth, é o ponto do burburinho em Toledo, cidade a 543 km a oeste de Curitiba (PR). No pedaço mais largo de calçada, defronte a uma padaria e uma minúscula casa lotérica, fica a "Boca Maldita” da cidade, onde moradores reúnem-se logo cedo para comentar os assuntos do dia – se forem polêmicos, melhor ainda.

Quem você acha que será o novo papa?

“Aqui se fala sobre tudo. Mas, por esses dias, o assunto é mesmo a eleição do papa”, contou Valdevino do Nascimento, proprietário da lotérica. “A cidade tá fervendo. Tem um canal de tevê que passou a semana toda ali”, disse, apontando para a Catedral Cristo Rei, do outro lado da praça, onde dom Odilo Scherer foi, um dia, pároco. Hoje, a igreja é chefiada pelo padre Inácio Scherer, primo do cardeal e arcebispo e São Paulo, um dos nomes mais cotados para ser o novo papa.

“Na verdade, todo mundo está na expectativa, ainda que alguns não digam. Eu já torceria por um [papa] brasileiro. Agora, imagine se ainda por cima for de Toledo. Vai chamar a atenção do mundo todo para a cidade”, disse o pecuarista Palmino Grande, que tomava um café na padaria nesta quarta-feira (13).

Como muita gente na cidade, a proprietária da padaria, Geni Lazzari, tem histórias de dom Odilo para contar. “Quando cheguei em Toledo, vinda de Santa Catarina, morei por um tempo numa casa paroquial. Dom Odilo já estava em Roma, mas, sempre que vinha à cidade, passava por ali para uma visita”, lembrou ela.

“Ele é determinado, uma figura excepcional. Torço muito por ele. Mas, por ser mais conservador, não creio que será o escolhido. Mas, se for, tenho certeza de que a cidade vai parar”, apostou Geni.

Passaporte pronto

Ainda que Scherer faça parte da lista dos possíveis sucessores de Bento 16, a família do cardeal brasileiro diz não "apostar" em sua eleição, apesar de os irmãos já estarem com os passaportes preparados para uma possível viagem de última hora com destino ao Vaticano.

"Não acredito que meu irmão realmente se transforme no novo papa, mas já nos dignifica pelo simples fato de participar da escolha do religioso que ocupará o cargo mais importante da Igreja Católica", disse Flávio Scherer, 67, que diz que a família foi orientada pelo próprio cardeal a manter os "pés nos chão".

Mas, mesmo afirmando ser "remota" a eleição do irmão, Flávio afirma acreditar no potencial do arcebispo de São Paulo. "Odilo tem dez anos de experiência dentro da estrutura do Vaticano e conhece os problemas da Igreja Católica, assim com os desafios internos da Santa Sé", conta o professor que mora em Toledo (PR).

Segundo ele, o cardeal brasileiro está consciente de que a missão do religioso que assumir o lugar de Bento 16 não será nada fácil. "E seja quem for o candidato escolhido, poderá contar com meu irmão." E se o resultado da eleição for diferente das previsões da família Scherer e dom Odilo for eleito, na opinião de Flávio, o irmão tende a ser um papa mais aberto às questões da atualidade.

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"Isso não quer dizer que ele vai modificar os dogmas da igreja ou revogar os 10 mandamentos. Mas, dom Odilo tem a capacidade de fazer uma nova leitura do mundo e possibilitar, por exemplo, o convívio da religião com a tecnologia", aponta Flávio, que entre as características de seu irmão também cita a facilidade de conversar com as pessoas simples.

Dom Odilo, como conta o irmão, também é a favor de uma reforma interna na Cúria Romana, principalmente após os escândalos do vazamento das informações confidenciais do Vaticano --chamado de Vatileaks. E quanto ao celibato dos padres e as denúncias de abuso sexual, Flávio diz que o arcebispo de São Paulo relata ser necessário maior atenção à formação do clero. "Ele tem se mostrado bastante sensível a todas essas questões."

Apesar de 10 dos 11 irmãos de dom Odilo ter frequentado seminários, o cardeal brasileiro foi o único da tradicional família de origem alemã a seguir a carreira religiosa, que foi iniciada no sudoeste do Paraná.

Frequentou a Faculdade de Educação da Universidade de Passo Fundo (1970-1975) e o curso de Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Conquistou o título de mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1994-1996) e o de doutor pela mesma instituição em (1988-1991).

* Colaborou Larissa Leiros, em São Paulo