ONU diz que ameaça sobre Rafah é 'desumana' e alerta para crimes de guerra
A iminente ofensiva de Israel sobre Rafah é chamada pela ONU de desumana. A entidade chega a falar em crimes de guerra e cobra que responsáveis sejam levados à Justiça.
O alerta é feito no dia em que o governo de Israel ordenou a retirada forçada de 100 mil palestinos de uma das regiões de Rafah, cidade ao sul da Faixa de Gaza e que abriga 1,4 milhão de pessoas fugidas da guerra.
Nesta segunda-feira, o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, alertou que "as mortes, o sofrimento e a destruição de civis devem aumentar além dos níveis já insuportáveis após as ordens de Israel para que os palestinos evacuem partes de Rafah antes de uma nova ofensiva prevista".
"Os habitantes de Gaza continuam sendo atingidos por bombas, doenças e até mesmo pela fome. E hoje, eles foram informados de que devem se mudar mais uma vez, à medida que as operações militares israelenses em Rafah aumentam", disse.
"Isso é desumano. É contrário aos princípios básicos das leis internacionais humanitárias e de direitos humanos, que têm a proteção efetiva de civis como sua principal preocupação", afirmou.
Segundo ele, realocar à força centenas de milhares de pessoas de Rafah para áreas que já foram destruídas e onde há pouco abrigo e praticamente nenhum acesso à assistência humanitária necessária para sua sobrevivência "é inconcebível". "Isso só os exporá a mais perigo e miséria", alertou.
Durante a noite, pelo menos 26 palestinos em Rafah foram mortos, a maioria crianças e mulheres. Nesta segunda-feira, duas passagens para Rafah foram fechadas, interrompendo completamente o fluxo de ajuda humanitária.
Para ele, uma nova ofensiva não é a solução. "As lições dos últimos sete meses de conflito em Gaza são claras - com mulheres e crianças representando mais de 70% dos mais de 120 mil mortos, feridos e desaparecidos. Chega de mortes", disse.
O chefe de Direitos Humanos da ONU insiste sobre a necessidade de um cessar-fogo. "A ajuda humanitária deve poder fluir livremente e em escala. E os reféns e as pessoas detidas arbitrariamente devem ser libertados imediatamente."
Segundo ele, "não há nenhum local fora de Rafah com a infraestrutura e os recursos necessários para abrigar o deslocamento em massa de mais de um milhão de pessoas".
Turk alertou ainda que o direito humanitário internacional proíbe ordenar o deslocamento de civis por motivos relacionados ao conflito, a menos que a segurança dos civis envolvidos ou motivos militares imperativos assim o exijam, e mesmo assim, sujeito a requisitos legais rigorosos.
"O não cumprimento dessas obrigações pode resultar em deslocamento forçado, que é um crime de guerra", disse.
"No entanto, a experiência dos últimos sete meses mostra que os palestinos que permanecerem em Rafah continuarão correndo risco de morte e ferimentos, seja por bombardeios indiscriminados, assassinatos ilegais ou perda de acesso a alimentos, água e assistência médica", disse Türk. "Não se pode permitir que isso aconteça", disse.
"Aqueles que optam por desrespeitar a lei humanitária internacional e a lei internacional de direitos humanos devem ser responsabilizados", completou.
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