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Na Argentina, visitantes alimentam tigres e leões de dentro da jaula

Maria Martha Bruno

Do UOL, em Buenos Aires

13/04/2013 06h00

Um zoológico diferente da maioria dos convencionais atrai muitos brasileiros, maioria entre os visitantes, à cidade de Luján, a pouco mais de 60 km de Buenos Aires. No espaço, é possível entrar nas jaulas e acariciar leões, dar mamadeiras com leite a tigres e alimentar elefantes com pedaços de pera. Aberto em 1994, o local estimula esse tipo de contato devido a uma criação diferente de animais selvagens, praticada em pelo menos outras 15 instituições semelhantes em países como Austrália, Nova Zelândia e Venezuela.

Parte dos mais de 60 funcionários de Luján, entre treinadores, veterinários, biólogos e equipe de manutenção, mora no lugar e está em contato com muitos dos bichos desde que nasceram. Outro segredo fundamental para a convivência incomum entre humanos e animais é a interação precoce com cachorros. O diretor do zoo, Jorge Semino, dá detalhes sobre este ponto chave na criação de felinos.

Desde o nascimento, eles aprendem a dividir os alimentos com os cachorros, o que pode incluir às vezes o leite, caso uma tigresa, por exemplo, não tenha tetas suficientes para dar de mamar a seus filhotes

"Desde o nascimento, eles aprendem a dividir os alimentos com os cachorros, o que pode incluir às vezes o leite, caso uma tigresa, por exemplo, não tenha tetas suficientes para dar de mamar a seus filhotes. Eles podem ser amamentados por uma cachorra, então. E depois do desmame, todos, felinos e cachorros, recebem mamadeiras dos criadores. Ou seja, desde cedo também estão em contato muito próximo com os humanos", diz Semino.

Guia do Zoo de Luján há mais de nove anos, Alejandra Fumagalli sintetiza a ideia: "Tentamos substituir a competição e realçar a convivência. O cachorro, por exemplo, é um animal doméstico por excelência, e são essas as características que usamos para transmitir aos bichos do zoo".

Juan José Bianchini, um dos biólogos da instituição, informou que o sistema de amansamento se chama aprendizagem precoce. "A agressão é considerada instintiva neste tipo de felinos. Mas, com esse método, ela é eliminada de forma definitiva quando ainda são pequenos. Eles aprendem a viver em um espaço em que dividem o alimento com outras espécies, como o cachorro. São ambientes totalmente diferentes dos zoos convencionais."

Onde fica

  • Luján está a 60 km de Buenos Aires

"Com um ano, já temos um animal formado e tranquilo e que não representa nenhum tipo de perigo para o ser humano. Não temos que nos preocupar com nenhuma agressão", disse o diretor do estabelecimento. Segundo a guia Alejandra, nunca houve qualquer registro de ataque. "Caso já tivesse ocorrido, toda a imprensa saberia, porque, pelas características diferentes do nosso trabalho, todos estão de olho no zoo."

Parentes dos funcionários também acabam se aproximando, e muitas vezes se incorporando às tarefas e à convivência: "É como estar em casa. São 24 horas com os animais", afirmou Alejandra. Além disso, ela disse que vários visitantes e viajantes também acampam no espaço, aberto a este tipo de atividade.

Drogas

As explicações minuciosas são dadas também para dissipar dúvidas sobre como se dá o amansamento dos felinos, uma vez que o Zoo de Luján já foi acusado por visitantes de drogar os animais. "É um parque particular, e sabemos que não é querido por muitas pessoas", afirmou Alejandra. Para ela, esse tipo de ilação acaba por ignorar toda a trajetória de trabalho e o esforço dos profissionais do zoo. 

O método utilizado nesta e em outras instituições também foi alvo de pesquisa em legislações internacionais para garantir a legalidade das práticas. Segundo o Zoo de Luján, não foram encontradas normas ou antecedentes legais que proíbam o contato com humanos. Além disso, experiências nesses tipos de estabelecimentos também demonstraram benefícios decorrentes da interação com os animais para crianças e pessoas com problemas de aprendizado.

Meu marido é apaixonado por animais, e também me interessou bastante o fato de poder ter esse tipo de contato com eles. Resolvi dar de presente ao Filipe um passeio surpresa ao zoo

"A resposta de uma criança ao se aproximar de um felino ou a evolução de uma pessoa com deficiência que faz terapia assistida compensa todo o nosso trabalho e as críticas que nos machucam tanto", disse Alejandra. Ela conta que há cerca de três anos os brasileiros são maioria entre os visitantes e que têm uma postura menos desconfiada e mais terna em relação aos bichos que outros turistas.

A fisioterapeuta carioca Gabriela Fontoura, 24 anos, e o professor de educação física, também do Rio, Filipe Moraes, 25, se casaram há pouco mais de duas semanas e incluíram o passeio na lua de mel. Ela conheceu o espaço após a indicação de outros amigos do Brasil.

"Meu marido é apaixonado por animais, e também me interessou bastante o fato de poder ter esse tipo de contato com eles. Resolvi dar de presente ao Filipe um passeio surpresa ao zoo. É um dos lugares mais lindos que já conheci. Uma experiência única e indescritível. É preciso viver para saber como é. Com certeza iremos voltar", afirmou Gabriela.