Topo

Jovem que ficou soterrada por 17 dias em Bangladesh diz que nunca mais trabalhará em fábrica

Do UOL, em São Paulo

14/05/2013 11h51Atualizada em 14/05/2013 12h32

Reshma Begum, a costureira de 19 anos que passou 17 dias sobre os escombros de um edifício que desabou em Savar, nos arredores de Dacca, capital de Bangladesh, disse nesta terça-feira (14) que nunca irá trabalhar em uma fábrica de roupas de novo. As informações são da agência de notícias Reuters e do Herald Sun.

O prédio de oito andares onde funcionava um complexo têxtil desmorou no dia 24 de abril, deixando mais de mil mortos. A jovem, que foi resgatada na última sexta-feira (10) depois de sobreviver com quatro pedaços de biscoito e um pouco de água, falou pela primeira vez sobre sua experiência em uma entrevista coletiva concedida no hospital militar onde se recupera.

“Eu não vou trabalhar em uma fábrica de roupas de novo”, disse, sentada em uma cadeira de rodas. “Eu nunca pensei que sairia viva de lá.”

O edifício abrigava cinco oficinas têxteis que produziam para multinacionais ocidentais. Reshma contou que havia começado a trabalhar em uma fábrica no segundo andar do edifício no início de abril, onde ganhava o equivalente a US$ 60 por mês (cerca de R$ 120).

Segundo ela, na manhã do dia 24 de abril a notícia de que havia rachaduras no prédio correu entre os funcionários, e ela viu muitos deles, principalmente os homens, se recusando a entrar. No entanto, ela afirma que os gestores garantiram que não havia problema algum na estrutura do edifício. Em seguida, o prédio desabou ao seu redor.

"Quando isso aconteceu, eu caí e me feri na cabeça. E então eu me encontrei na escuridão", disse. “Havia um homem perto de mim. Ele pediu água, mas eu não podia ajudá-lo. Ele morreu. Ele gritou: 'salva-me', mas ele morreu. Mas eu não me lembro de tudo o que aconteceu”, completou.

As autoridades de Bangladesh finalizaram ontem (13) as buscas por corpos após terem encontrado 1.127 mortos --ainda há 98 desaparecidos. O pior acidente industrial do país deixou também 2.438 feridos.

Indústria têxtil

A tragédia evidenciou a exploração e as péssimas condições trabalhistas dos empregados e levou às autoridades e companhias a anunciarem medidas após protestos dos trabalhadores, como o fechamento de fábricas do ramo por tempo indeterminado.

Ontem, os gigantes da indústria têxtil Inditex, proprietária da marca Zara, e H&M se comprometeram a assinar um plano de melhora das condições de segurança do trabalho nas fábricas associadas em Bangladesh.

Em notas divulgadas à imprensa as duas empresas anunciaram seu apoio a um plano de segurança lançado pelos sindicatos internacionais IndustriALL e UNI Global Union --em conjunto, eles representam milhões de trabalhadores do setor têxtil.