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Tanques se aproximam de palácio presidencial no Egito; assessor de Mursi denuncia "golpe"

Do UOL, em São Paulo

03/07/2013 10h58Atualizada em 03/07/2013 15h33

Terminou às 11h30 desta quarta-feira (3) o ultimato dado pelo Exército do Egito ao governo, para que pusesse um fim à crise política do país. O presidente do país, Mohamed Mursi, está preso em seu local de trabalho, cercado por militares e arame farpado. Mursi e lideranças de seu partido, a Irmandade Muçulmana, estão proibidos de deixar o país.

Segundo um porta-voz das Forças Armadas, o conselho militar do Egito fará uma declaração sobre a situação do país em breve. Antes do pronunciamento, porém, tanques passaram a circular pelas ruas do Cairo, capital egípcia. Um assessor da presidência afirma que há um golpe militar em andamento no país.

Nas ruas

Horas após o fim do prazo do Exército para que Mursi resolvesse a situação política no país, veículos militares e soldados foram às ruas do Cairo. As Forças Armadas estão na universidade do Cairo, na praça Tahrir e em outros pontos-chave da capital egípcia. Os militares já ocuparam a sede da TV estatal egípcia, que transmitirá o pronunciamento das Forças Armadas.
 
Em algumas áreas da cidade, os militares dispararam tiros para o alto para afastar os manifestantes. Segundo a "CNN", há veículos militares em direção ao palácio presidencial, no Cairo, onde uma multidão grita para que Mursi renuncie. Sob aplausos da população, helicópteros com bandeiras do Egito sobrevoam a praça Tahrir.
 
Parte dos manifestantes tenta impedir ataques a mulheres - desde domingo (30), quando teve início a onda de protestos pela renúncia de Mursi, houve relatos de dezenas de estupros e agressões a mulheres. 
 
Segundo agências de notícias, parte dos manifestantes da Praça Tahrir comemora um boato de que  Mursi teria sido colocado em prisão domiciliar e um  líder da Irmandade Muçulmana, proibido de deixar o país.
 

Prisão

De acordo com a "AFP", uma fonte dos serviços de segurança afirma que Mursi teve sua prisão decretada com base na investigação de uma fuga de uma prisão do país em janeiro de 2011. Segundo um tribunal egípcio, a Irmandade Muçulmana organizou a fuga com a ajuda de integrantes do Hamas palestino e do Hezbollah libanês.
 
É essa investigação que resultou agora na proibição a Mursi e vários líderes da Irmandade Muçulmana de deixarem o território egípcio. Funcionários aeroportuários confirmaram à "AFP" que receberam ordens de impedir que Mursi, o líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, e o número dois da confraria, Jairat al Shater, saiam do país.
 
 

Na internet

Em sua página no Facebook, Essam el Haddad, assistente da presidência do país para questões de segurança nacional e relações exteriores,  escreveu um longo post sobre a situação no país. A mensagem começa com um tom algo melancólico: "tenho plena consciência de que estas podem ser as últimas linhas que posto nesta página".

Haddad, então, escreve que "para o bem do Egito e precisão histórica, chamemos o que está acontecendo pelo nome real: golpe militar". 

 

No perfil da Presidência do Egito no Facebook, uma mensagem atribuída a Mursi diz que "o caminho para a solução da crise deve ser legítimo". O texto também propõe um governo interino de consenso para tirar o país da instabilidade política e promover novas eleições. A nota na página da presidência diz que "é um erro ficar ao lado de um partido" e se isenta de responsabilidade pela turbulência no país.

 
"A presidência responsabiliza uma série de partidos políticos que anteriormente boicotaram todos os chamados ao diálogo e consenso, sendo esta a iniciativa mais recente de tentar atender a todos os pedidos da rua egípcia e impedir o país de mergulhar em disputas políticas nas quais nenhum egípcio gostaria de ver sua terra amada."
 
Em entrevista à emissora de TV "CNN", Haddad disse que nem ele nem a Irmandade Muçulmana conseguem fazer contato com Mursi.
 
No microblog Twitter, a hashtag #Egypt chegou à lista dos assuntos mais comentados no mundo. 
 

Comunidade internacional

O governo brasileiro condenou nesta quarta-feira (3) a perspectiva de golpe de Estado no Egito, e defendeu uma solução negociada e respaldada pela sociedade egípcia.

 

O emissário do Brasil para o Oriente Médio mais a Turquia e o Irã, embaixador Cesário Melantonio Neto, diz que os egípcios, “acostumados a conflitos”, devem obter uma “acomodação negociada” e que este "é um momento de tensão, sobretudo porque os egípcios querem resultados rápidos de uma revolução que ainda vai completar três anos".

 

"É preciso ter paciência”, disse Melantonio.

O Departamento de Estado dos EUA disse que "não é possível confirmar se efetivamente está em curso um golpe de Estado no Egito".

O órgão afirma que a melhor solução para o impasse no país seria uma saída política, e diz que Washington está preocupado e atento à situação do país. O departamento afirmou também que Mursi deve fazer mais para responder aos apelos da população do Egito

 

Na Síria, que há dois anos vive uma guerra civil pela saída do presidente, Bashar Assad, a TV estatal exibiu nesta quarta-feira (3) uma entrevista com um integrante do governo sírio que pede a renúncia de Mursi.

"A crise no Egito pode ser superada se Mursi perceber que a maioria da população egípcia o rejeita e pede a ele que saia", afirmou Omran Zoabi, ministro da Informação do país, segundo a agência estatal "Sana".  O político também conclamou os egípcios a resistirem "ao terrorismo e às ameaças" dos simpatizantes de Mursi e da Irmandade Muçulmana.

 

 

Situação

Mais cedo, o chefe do exército egípcio e ministro da Defesa, Abdel Fatah al Sisi, se reuniu para discutir a crise política do país com o representante da oposição, Mohamed El Baradei, com chefes religiosos e representantes de partidos islamitas, incluindo o do presidente Mohamed Mursi, afirmou à "AFP" uma fonte militar. A Irmandade Muçulmana não confirma o encontro.
 

Na noite de terça-feira (2), Mursi ressaltou o caráter democrático de sua eleição e afirmou que pretende continuar a governar o país, apesar dos apelos da oposição por sua saída e do ultimato do exército. Em discurso televisionado, disse que "continuará a assumir a responsabilidade" do país e que "não há alternativa a não ser a legitimidade". Mursi também disse que está preparado para "dar sua vida" para ficar no cargo.

Mortos na madrugada

Pelo menos 16 pessoas morreram e 200 ficaram feridas em um ataque contra manifestantes pró-Mursi nos arredores da Universidade do Cairo, informou a TV estatal, citando o ministério da Saúde.

Ao todo, o número de mortos em confrontos pode chegar a 23. Na maioria dos protestos no país, não houve relatos de confrontos violentos. "

Contexto político

A oposição pede a renúncia de Mursi por considerar que o político não promoveu avanços na situação socioeconômica do país. Além disso, o acusam de ser um mero fantoche da Irmandade Muçulmana, partido político que governa de fato o Egito.

Mursi foi eleito democraticamente em 2012, após um outro levante, em 2011, que depôs o então presidente, Hosni Mubarak. Contudo, a gestão de Mursi foi considerada insatisfatória. Apesar das sucessivas promessas de que ouviria a oposição, Mursi governou tendo em vista unicamente os interesses da Irmandade Muçulmana - jocosamente apelidada de "Irmandade da Ocupação" pelos manifestantes.

(Com agências internacionais)