Tanques se aproximam de palácio presidencial no Egito; assessor de Mursi denuncia "golpe"
Terminou às 11h30 desta quarta-feira (3) o ultimato dado pelo Exército do Egito ao governo, para que pusesse um fim à crise política do país. O presidente do país, Mohamed Mursi, está preso em seu local de trabalho, cercado por militares e arame farpado. Mursi e lideranças de seu partido, a Irmandade Muçulmana, estão proibidos de deixar o país.
Segundo um porta-voz das Forças Armadas, o conselho militar do Egito fará uma declaração sobre a situação do país em breve. Antes do pronunciamento, porém, tanques passaram a circular pelas ruas do Cairo, capital egípcia. Um assessor da presidência afirma que há um golpe militar em andamento no país.
Nas ruas
Prisão
Na internet
Em sua página no Facebook, Essam el Haddad, assistente da presidência do país para questões de segurança nacional e relações exteriores, escreveu um longo post sobre a situação no país. A mensagem começa com um tom algo melancólico: "tenho plena consciência de que estas podem ser as últimas linhas que posto nesta página".
Haddad, então, escreve que "para o bem do Egito e precisão histórica, chamemos o que está acontecendo pelo nome real: golpe militar".
No perfil da Presidência do Egito no Facebook, uma mensagem atribuída a Mursi diz que "o caminho para a solução da crise deve ser legítimo". O texto também propõe um governo interino de consenso para tirar o país da instabilidade política e promover novas eleições. A nota na página da presidência diz que "é um erro ficar ao lado de um partido" e se isenta de responsabilidade pela turbulência no país.
Comunidade internacional
O governo brasileiro condenou nesta quarta-feira (3) a perspectiva de golpe de Estado no Egito, e defendeu uma solução negociada e respaldada pela sociedade egípcia.
O emissário do Brasil para o Oriente Médio mais a Turquia e o Irã, embaixador Cesário Melantonio Neto, diz que os egípcios, “acostumados a conflitos”, devem obter uma “acomodação negociada” e que este "é um momento de tensão, sobretudo porque os egípcios querem resultados rápidos de uma revolução que ainda vai completar três anos".
"É preciso ter paciência”, disse Melantonio.
O Departamento de Estado dos EUA disse que "não é possível confirmar se efetivamente está em curso um golpe de Estado no Egito".
O órgão afirma que a melhor solução para o impasse no país seria uma saída política, e diz que Washington está preocupado e atento à situação do país. O departamento afirmou também que Mursi deve fazer mais para responder aos apelos da população do Egito
Na Síria, que há dois anos vive uma guerra civil pela saída do presidente, Bashar Assad, a TV estatal exibiu nesta quarta-feira (3) uma entrevista com um integrante do governo sírio que pede a renúncia de Mursi.
Situação
Na noite de terça-feira (2), Mursi ressaltou o caráter democrático de sua eleição e afirmou que pretende continuar a governar o país, apesar dos apelos da oposição por sua saída e do ultimato do exército. Em discurso televisionado, disse que "continuará a assumir a responsabilidade" do país e que "não há alternativa a não ser a legitimidade". Mursi também disse que está preparado para "dar sua vida" para ficar no cargo.
Mortos na madrugada
Pelo menos 16 pessoas morreram e 200 ficaram feridas em um ataque contra manifestantes pró-Mursi nos arredores da Universidade do Cairo, informou a TV estatal, citando o ministério da Saúde.
Ao todo, o número de mortos em confrontos pode chegar a 23. Na maioria dos protestos no país, não houve relatos de confrontos violentos. "
Contexto político
A oposição pede a renúncia de Mursi por considerar que o político não promoveu avanços na situação socioeconômica do país. Além disso, o acusam de ser um mero fantoche da Irmandade Muçulmana, partido político que governa de fato o Egito.
Mursi foi eleito democraticamente em 2012, após um outro levante, em 2011, que depôs o então presidente, Hosni Mubarak. Contudo, a gestão de Mursi foi considerada insatisfatória. Apesar das sucessivas promessas de que ouviria a oposição, Mursi governou tendo em vista unicamente os interesses da Irmandade Muçulmana - jocosamente apelidada de "Irmandade da Ocupação" pelos manifestantes.
(Com agências internacionais)
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