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"Vilão" de naufrágio, capitão do Costa Concordia começa a ser julgado nesta quarta

Francesco Schettino (à esq.) chega a teatro em Grosseto (Itália), para julgamento nesta quarta-feira (17) - Tiziana Fabi/AFP
Francesco Schettino (à esq.) chega a teatro em Grosseto (Itália), para julgamento nesta quarta-feira (17) Imagem: Tiziana Fabi/AFP

Do UOL, em São Paulo

16/07/2013 19h00

O julgamento do capitão do cruzeiro Costa Concordia durante o seu naufrágio em 2012, Francesco Schettino, começa nesta quarta-feira (17), após ter sido adiado na semana passada por conta de uma greve de advogados.

O comandante do navio que se acidentou em frente à ilha de Giglio, na costa da Itália, matando 32 pessoas, passou a ser visto como vilão do caso pela sociedade italiana, principalmente após a divulgação de gravações que mostram que ele abandonou a embarcação.

A primeira audiência do julgamento, em Grosseto, no centro da Itália, estava marcada para 9 de julho. No entanto, alguns dos advogados que participam do processo, entre eles o defensor de Schettino, Domenico Pepe, declararam adesão à greve.

Schettino será julgado por homicídio culposo múltiplo e abandono de navio, além de outras acusações. Os crimes em que ele incorre foram estabelecidos no último dia 22 de maio pelo juiz da audiência preliminar, Pietro Molino. 

Se for considerado culpado, Schettino pode pegar até 20 anos de prisão.

Neste julgamento, se apresentaram 242 partes litigantes, entre passageiros, grupos ambientalistas, prefeituras e também o grupo Costa Cruzeiros, proprietário da embarcação.

A greve de advogados da semana passada também acarretou o adiamento da audiência preliminar do processo paralelo, marcada agora para o dia 20 de julho.

Nessa data, será decidido a confirmação das penas pactuadas (entre um e dois anos de reclusão) pelos outros acusados do naufrágio: o responsável da ponte de comando, Ciro Ambrosio; a oficial, Silvia Coronica; o timoneiro Jacob Rusli, o chefe dos serviços de bordo, Manrico Giampedroni, e o chefe da unidade de crise de Costa Cruzeiros em terra, Roberto Ferrarini.

Em abril, a Promotoria rejeitou uma oferta de acordo com a confissão de Schettino, mas aceitou a dos cinco funcionários.

A Costa Cruzeiros, uma unidade da Carnival Corp, concordou em pagar 1 milhão de euros (R$ 2,97 milhões) para resolver possíveis acusações criminais. Isso significa que Schettino será a única pessoa julgada pelo desastre marítimo.

"Nós esperávamos desde o início que fosse levado a julgamento", disse o advogado de Schettino. Ele argumenta que seu cliente foi feito de bode expiatório.

Na semana passada, antes de comunicar sua adesão à greve, o advogado do comandante ressaltou que o tribunal deve levar em consideração o fato de que os outros acusados pelo naufrágio estão sendo condenados a penas mínimas.

O Naufrágio

O Costa Concordia virou perto do porto de Giglio, no dia 13 de janeiro de 2012, após ter atingido rochas durante uma manobra realizada muito perto da costa.

Cruzeiro naufraga na itália

  • Arte/UOL

O acidente provocou a retirada durante a noite de mais de 4.000 passageiros e tripulantes do navio de 290 metros de comprimento, que ainda repousa sobre pedras diante do porto.

Schettino deixou o navio antes que todos os tripulantes e passageiros estivessem na terra.

O advogado Francesco Pepe afirmou que Schettino admitiu suas próprias culpas ao aproximar o cruzeiro da costa, o que provocou sua colisão contra um rochedo, mas que depois atuou com responsabilidade para salvar a vida dos passageiros, negando que teria abandonado o navio.

“Suba a bordo!”

Após o naufrágio do Costa Concordia, veio a público a gravação de uma discussão entre o comandante Gregorio De Falco, da Capitania dos Portos de Livorno, e Schettino. A reprodução do áudio foi escutada por milhares de pessoas por toda a Itália, elevando De Falco a herói e transformando Schettino em vilão.

No diálogo, o comandante de Livorno ordenava que Schettino, que deixava o local do acidente por volta das 23h30 local em um bote salva-vidas, voltasse ao navio para socorrer as vítimas.

"Escute, Schettino", disse De Falco, "há pessoas presas a bordo. Dirija-se com seu barco abaixo da proa do navio pelo lado direito. Suba a bordo pela escada de corda e me diga quantas pessoas há lá. Está claro?".

Com uma voz apagada, o capitão do cruzeiro respondeu: "Mas se dá conta que aqui está tudo escuro e não vemos nada?".

"E quer voltar para sua casa, Schettino?", perguntou De Falco irritado e levantando a voz. "Está escuro e quer voltar para sua casa? Pegue o bote, vá até a proa do navio e diga-me o que se pode fazer, quantas pessoas estão lá e o que precisam. Está claro?".

"Suba a b-o-r-d-o!", ordenou com voz firme, por fim, o comandante de Livorno. 

"Não queria fugir, caí em um barco de salvamento", argumentou Schettino, acrescentando que "tentou salvar todos". "Nem sequer coloquei o colete salva-vidas porque serviria para outras pessoas", alegou. (Com agências de notícias).