Topo

Guias ameaçam deixar escaladas no Everest após avalanche, afirma brasileiro

O cearense Rosier Alexandre, que está no Everest, afirma que os guias nepaleses pedem melhores condições de trabalho ao governo - Arquivo pessoal
O cearense Rosier Alexandre, que está no Everest, afirma que os guias nepaleses pedem melhores condições de trabalho ao governo Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em Brasília

21/04/2014 16h37Atualizada em 21/04/2014 18h43

Após a avalanche que matou 16 pessoas no Monte Everest na última sexta-feira (18), os guias nepaleses da etnia sherpa pedem o encerramento da temporada de escaladas de 2014 na montanha e ameaçam greve, relata o alpinista cearense Rosier Alexandre. Os sherpas transportam suprimento entre os acampamentos e são reconhecidos por suas habilidades de escalada e resistência na altitude.

Alexandre estava no Monte Everest durante a avalanche e sobreviveu. Agora está no Campo Base da montanha a 5.350 metros de altitude e quer prosseguir a expedição.

“As coisas por aqui não estão como gostaríamos. Após a tragédia que vitimou 16 pessoas, os sherpas se reuniram e estão, com muita justiça, exigindo do governo nepalês melhores condições de trabalho e também assistência familiar em caso de morte”, afirma Alexandre.

Segundo o alpinista, os sherpas pedem ao governo o encerramento de todas as expedições, mas o Ministério do Turismo do Nepal não quer o fim da temporada de escaladas porque isto traria prejuízos financeiros. “Infelizmente aos governos isso é o que importa”, diz.

O montanhista diz ainda que os sherpas pedem aos líderes das expedições que encerrem suas atividades de escalada como protesto ao governo e respeito aos mortos. Segundo Alexandre, no entanto, nada disso está ocorrendo.

“Os sherpas produziram um documento com solicitações ao governo e deram o prazo de sete dias. Caso não sejam atendidos deverão fazer uma greve coletiva, porém não há uma unificação das reivindicações dos sherpas, até porque muitos deles ainda estão nos povoados ou em Katmandu para a cerimônia de cremação de seus amigos e parentes, e esta falta de unificação criou um clima de violência e extremo desconforto”, afirma Alexandre.

Alpinista brasileiro fala sobre tragédia do Everest

Diante da ameaça de greve, o montanhista brasileiro afirma que respeitará as decisões dos sherpas.

“Desde já quero deixar registrado que respeito e acato plenamente a decisão dos sherpas e também não darei prosseguimento à minha expedição se não sentir a segurança mínima necessária”, diz Alexandre. “Cada dia perdido é precioso para uma expedição, mas tem algo maior a ser levado em consideração, estamos diante da maior tragédia que já existiu no Everest em todos os tempos e isso deixou a comunidade sherpa abalada e precisamos respeitar a sua cultura e o seu sofrimento.”

Alexandre deve descer para Lobuche (4.900m) e de lá escalar o pico de mesmo nome a 6.150 metros acima do nível do mar. Sua expedição deve retornar ao acampamento Campo Base do Everest em cinco dias.

“Se existir um consenso entre os sherpas em continuar as expedições, nós continuaremos, caso contrário, lamentavelmente devemos cancelar definitivamente a nossa expedição”, afirma o alpinista.

A avalanche ocorreu a 5.800 metros de altitude às 6h45 da sexta-feira (18) em uma área próxima da geleira de Khumbu.

Até ontem (20) 13 corpos foram resgatados na montanha. O Nepal anunciou que as buscas por três guias desaparecidos após avalanche foram abandonadas, as autoridades descartaram qualquer possibilidade de encontrá-los com vida.